A estratégia humana e a ação divina do Espírito

Na ação sociopastoral, dois extremos devem ser evitados. De um lado, a estratégia humana, por si só, embora necessária, apresenta as lacunas próprias que cada pessoa carrega consigo. Ela se rege, em geral, pelo conceito de correlação de forças, calcula o jogo dos limites e potencialidades, tentando cobrir os deslizes que podem levar ao fracasso. Confia exageradamente no poder e no mérito pessoal e, ao mesmo tempo, procura se proteger com todo tipo de defesas e seguranças. Mesmo em terreno sagrado, teme entrar em campo descalça.

Por outro lado, deixar tudo à ação divina do Espírito, também por si só pode conduzir a um imediatismo perigoso e estéril. “No lugar certo e no tempo certo, a vontade de Deus haverá de inspirar o que devo dizer e fazer!” Aparentemente positiva quanto à abertura diante da graça divina, essa atitude, porém, revela e expõe não raro descaso, preguiça e despreparação para com a seriedade das atividades evangélicas. Santo Tomás de Aquino já dizia que “a graça supõe a natureza”.

Nem uma coisa nem outra. A autossuficiência e a arrogância humanas são tão perniciosas quanto a confiança ingênua no espiritualismo ineficaz, o qual, numa espécie de mística distorcida, tudo espera automaticamente da oração. Na relação com Deus e com a ação evangélica, não existe “varinha mágica”. A oração não modifica nossos problemas e desafios; modifica nossa maneira de encará-los; confere maior fé e esperança, força e coragem para buscar com serenidade soluções adequadas.

Convém recorrer aqui ao velho e sábio Aristóteles: in medio virtus (a virtude está no meio). A ação do Espírito no tecido cotidiano da história – seja ela de caráter pessoal ou comunitário, seja de caráter social ou político – não dispensa a inteligência e a habilidade dos homens e mulheres. Deus age não acima nem além, e sim no interior das atividades humanas. No momento em que nos movemos para mudar o rumo dos acontecimentos, o Espírito irrompe nas lacunas e debilidades humanas, revestindo de graça o que em nós se revela como mal, pecado, ódio e desejo de vingança. “Quando sou fraco é, então, que sou forte”, escreve o Apóstolo Paulo (2Cor 12,10).

O inverso também é verdade. Pela vocação, o ser humano responde ao chamado divino, pela Palavra de Deus se deixa iluminar e pela missão descortina novos horizontes. Em jogo está o esforço por mudanças profundas e urgentes, que levem à justiça, à igualdade de oportunidades e à paz. Somos todos convocados à grande tarefa da recriação da vida e da biodiversidade. A Doutrina Social da Igreja (DSI), por sua vez, se encarrega de atualizar, frente aos desafios do contexto histórico atual, a dimensão social do Evangelho. 

Nisso, as iniciativas do Papa Francisco, em particular com a insistência de uma “Igreja em saída”, como também com o processo do Sínodo e da Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe, buscam responder ao clamor da pós-pandemia e, ao mesmo tempo, às exigências da DSI e do Evangelho. A nova evangelização requer a fusão inextrincável entre a graça do Espírito e as estratégias humanas.

Padre Alfredo José Gonçalves, CS, pertence à Congregação dos Missionários de São Carlos (Scalabrinianos).

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