A guerra econômica e nosso compromisso solidário

A invasão da Ucrânia e as reações internacionais à Rússia evidenciaram um aspecto comum a todas as guerras, porém ainda mais contundente no mundo atual: toda guerra é também econômica.

Além das mortes e das vidas devastadas pelo luto e pelas perdas materiais, a guerra traz grandes prejuízos econômicos para os territórios onde se dão os conflitos. Mas a ação bélica da Rússia contra a Ucrânia – em especial – se tornou também uma grande batalha econômica do Ocidente contra a Rússia.

Os analistas sempre foram céticos quanto aos efeitos de sanções econômicas contra países belicosos. Tais sanções faziam o povo sofrer, mas não afetavam nem os “senhores da guerra”, nem os ricos desses países.

A realidade da atual guerra é diferente. A Rússia é uma potência econômica inserida no mundo globalizado. Mais do que outros países anteriormente penalizados, precisa importar e exportar produtos para se manter. Seus milionários têm bens espalhados pelo mundo. Seu mercado financeiro está fortemente integrado ao sistema global.

O impacto socioeconômico das sanções contra a Rússia está sendo muito maior do que os analistas especulavam. Não à toa, Putin sugere respostas que incluem até mesmo o uso de suas armas atômicas…

Contudo, essas sanções têm um inevitável efeito bumerangue. Os demais países também precisam importar e exportar para a Rússia e serão inevitavelmente impactados se o conflito econômico continuar por muito tempo.

Por piores que sejam as consequências de um enfrentamento econômico, é forçoso reconhecer que nos afetam muito menos do que o conflito bélico impacta as populações dos territórios atacados.

Nesse sentido, podem ser entendidos como parte daqueles recursos, sugeridos pela Doutrina Social da Igreja, a serem empregados para se evitar ou minimizar um conflito armado, ao dizer que a guerra só pode ser considerada justa quando, entre outras coisas, “todos os outros meios de lhe pôr fim se tenham revelado impraticáveis ou ineficazes” (Catecismo da Igreja Católica, CIC, 2309).

Assim, os prejuízos e sacrifícios econômicos que inevitavelmente nos afetarão nos convidam a assumir, como cristãos, dois compromissos de solidariedade.

O primeiro é o da solidariedade internacional. Diante de uma guerra devastadora, como, diga-se de passagem, são todas elas, as populações das demais nações são convidadas a se comprometer e fazer sua cota de sacrifícios para que as vítimas da guerra possam encontrar novamente a paz.

O segundo compromisso é o da solidariedade com os mais pobres em nosso próprio País. Numa nação tão desigual como o Brasil, o impacto direto ou indireto de um aumento no preço dos combustíveis e matérias-primas, por exemplo, é muito diferente entre aqueles que têm seu lucro diminuído e aqueles que podem deixar de ter comida à mesa pela perda do ganha-pão ou pelo aumento de preço dos alimentos.

Num ano eleitoral, podemos nos perguntar como os políticos nos quais pretendemos votar estão se portando nessa conjuntura. Estão atentos às necessidades dos mais pobres ou olham apenas para os lucros dos ricos? Reconhecem os constrangimentos e as pressões objetivas a que toda atividade econômica está sujeita ou se contentam com discursos voluntaristas e populistas que não resolvem e até aumentam os problemas?

Uma solidariedade realista pode ser difícil de ser concretizada, exigindo muita criatividade e capacidade de articulação. Mesmo assim, deve ser um farol que ilumina os caminhos da política com vistas ao bem comum… E é mais importante ainda nestes tempos de conflitos internacionais.

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