A Igreja é feminina

No próximo dia 8, celebra-se o Dia Internacional da Mulher que, apesar de não ser uma festa com origens propriamente religiosas, nos fornece uma excelente ocasião de trazer à luz a grande dignidade e importância do elemento feminino na vida da Igreja.

De fato, diferentemente do que às vezes se ouve, o Cristianismo se destacou, desde seus primórdios, pela grande valorização que tinha pela mulher. Como nota o sociólogo Rodney Stark, em seu celebrado estudo sobre a ascensão do Cristianismo, nossa religião “era excepcionalmente atraente porque, na subcultura cristã, as mulheres gozavam de um status muito maior do que as mulheres no mundo greco-romano em geral” (“The Rise of Christianity”, pág 95). Isso se deve, dentre outros fatores, à chamada exposição (infanticídio) dos recém-nascidos do sexo feminino, que no mundo não cristão “era lícita, moralmente aceita, e amplamente praticada por todas as classes sociais”, de talforma que entre os pagãos “quase nunca se criava mais de uma filha mulher” (p. 97). Nas famílias cristãs, por outro lado, todos os filhos e filhas deviam ser acolhidos como iguais em dignidade, porque dons do mesmo Deus (cf. Catecismo da Igreja Católica, 2203). Desde a era apostólica, na verdade, as mulheres desempenhavam importantes papéis na vida pastoral da Igreja: o próprio São Paulo se refere repetidamente a Priscila, que inclusive “expôs sua cabeça” por ele (cf. Rm 16,4).

Com o passar dos séculos, a Igreja chegou a possuir em suas fileiras grandes e proeminentes santas, que receberam o raro título de Doutoras da Igreja. Desde uma Hildegarda de Bingen (1098-1179; compositora, mestre na filosofia e nas artes liberais, dramaturga, naturalista e médica) até uma Teresa d’Ávila (1515- 1582; a grande reformadora da Ordem do Carmo e fundadora de mosteiros, e mestre mística proponente da noção de vida espiritual como um ‘castelo interior’); desde uma Catarina de Sena (1347-1380; teóloga escolástica, intermediadora dos conflitos entre as grandes potências da época, e legado papal para missões de alta diplomacia) até uma Teresinha do Menino Jesus (1873-1897; a jovem carmelita que no escondimento de sua clausura propôs a via de santidade que levou o Papa São Pio X a chamá-la “a maior santa dos tempos modernos”); ou ainda, em nossos dias, uma Santa Edith Stein (1891-1942, mártir em Auschwitz e declarada “padroeira da Europa”) – a história da Igreja é marcada por estas fortes personalidades femininas, que brilham como portos seguros de doutrina e santidade.

Infelizmente, é sim verdade que, em certos ambientes e contextos, aconteceram no âmbito da Igreja episódios de injusta desvalorização das mulheres. O Papa Francisco, nesse sentido, costuma destacar a importância de “oferecer espaços às mulheres na vida da Igreja”, favorecendo “uma presença mais ampla e incisiva nas comunidades” com maior envolvimento das mulheres “nas responsabilidades pastorais” (discurso de 07/02/2015 à Plenária do Dicastério da Cultura). Isso não significa, alerta o Papa, negar as distinções que existem naturalmente entre os sexos, como que incidindo numa “utopia do neutro” e numa “manipulação biológica e psíquica da diferença sexual”. Trata-se, pelo contrário, de reconhecer e valorizar as aptidões próprias de cada sexo – no caso das mulheres, por exemplo, destaca-se o tema da transmissão da fé. Como disse o Pontífice na homilia de 26/01/2015, “são principalmente as mulheres a transmitir a fé”, e isso “porque quem nos trouxe Jesus é uma mulher. É o caminho escolhi- do por Jesus”.

Como bons cristãos, aproveitemos também desta celebração secular do Dia da Mulher para iluminar o mundo com a beleza do Evangelho: mostremos às mulheres sua tremenda dignidade, que não precisa ser alcançada à custa de uma negação daquilo que lhes é próprio, mas, sim, por meio de uma harmoniosa aliança entre homens e mulheres.

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