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A imaturidade do cérebro infantil

Os conhecimentos produzidos por pesquisas, estudos, observações e exames são muito bem-vindos e, normalmente, ajudam bastante para que possamos nos aperfeiçoar nos mais diversos campos. 

No entanto, tenho refletido muito a respeito do impacto que o conhecimento sobre o cérebro infantil tem causado no processo de crescimento das crianças. Hoje, algo bastante óbvio se difundiu com detalhes pela população de pais – a realidade de que o cérebro da criança é imaturo e está em pleno desenvolvimento nos dois primeiros anos de vida. Mais do que isso: há uma consciência maior das peculiaridades do funcionamento cerebral das crianças, o que traz uma maior consciência do quanto são incapazes de controlar seus impulsos, e o quanto as manifestações de raiva diante das frustrações são próprias do alto funcionamento do sistema límbico nesse início da vida; enfim, abre-se uma possibilidade de conhecer mais e melhor o universo infantil do ponto de vista de seu funcionamento neurológico. Isso, a princípio, é bom. Mas, o que tenho percebido, na prática, é uma série de confusões sobre o que fazer com essas informações. 

Muitos pais, munidos de tais conhecimentos, ficam à deriva – quase que esperando que o “amadurecimento” do cérebro se dê sozinho: em algum momento, essa criança vai aprender a se dominar, a lidar com seus sentimentos, a controlar seus impulsos. No entanto, esse é um enorme engano. Crianças não aprendem nada disso por simples processo de amadurecimento espontâneo. O ambiente e as experiências promovidas e vividas são fundamentais para que o processo de amadurecimento se dê. 

Outra coisa importante precisa ser considerada: não somos somente fisiologia e estrutura anatômica; somos pessoas, seres compostos de corpo, alma e espírito, sendo, portanto, o processo de formação algo muito mais complexo do que um cérebro em desenvolvimento. 

Sim, crianças são imaturas em todos os aspectos: pais têm o papel de conduzi-las com sua experiência e maturidade adquiridas com o tempo. Crianças reagem intensa e descontroladamente à frustração; pais maduros e capazes de autodomínio ajudam as crianças, dominando-as quando necessário. Crianças não sabem fazer escolhas, não têm critérios formados para tal; pais maduros assumem para si a responsabilidade das escolhas e protegem a criança desse desgaste. 

Ter um conhecimento mais técnico ou científico do funcionamento cerebral das crianças deve nos entusiasmar a sermos verdadeiros auxiliares na aquisição dessa maturidade, assim como saber que não conseguem ter ainda domínio de sua vontade nem clareza intelectual, como nós adultos temos, deve nos motivar a sermos a vontade auxiliar e a luz da razão na vida dos pequenos. Com essa postura e clareza, formaremos a criança em suas diversas dimensões: física, volitiva, afetiva e intelectual. Seremos verdadeiros guias e orientadores – prestaremos o serviço próprio daqueles que ocupam o lugar de autoridade diante dos filhos. 

Pais, não deixem seus filhos abandonados à sua própria imaturidade, não se abstenham do papel crucial de guiá-los, decidir por eles, contê-los, dar contornos e limites claros, seguros, firmes e amorosos. Sim, amar é cuidar e limites são cuidados preciosos, necessários. Preparar para a vida é permitir frustrações, suportar manifestações birrentas e conduzi-los a superá-las, ajudá-los para que manifestem seus sentimentos de modo cada vez mais proporcional, mais humano. 

Sim, transformar esses pequenos seres em pessoas livres e felizes é um processo que exige conhecimento, mas exige também coragem, disposição, determinação, presença, intervenção. Não se deixem paralisar por nada. Todo o esforço vale a pena para formar pessoas de bem, que serão felizes e farão felizes os seus. 

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