A missão de transmitir a fé na família

Há um mês da realização do X Encontro Mundial das Famílias, em Roma, ainda ressoam as reflexões em torno do tema “Amor em família: vocação e caminho de santidade”, por meio do qual o Papa Francisco convidou as famílias a redescobrirem o amor familiar como vocação e forma de santidade, a fim de compreender e partilhar o sentido profundo e salvífico das relações familiares na vida cotidiana e sua missão imprescindível na transmissão da fé e no anúncio do Evangelho à humanidade. 

Na exortação apostólica Amoris laetitia, o Pontífice enfatizou que “a família deve continuar a ser lugar onde se ensina a perceber as razões e a beleza da fé, a rezar e a servir o próximo”, acrescentando que, embora a fé seja dom de Deus, recebido no Batismo, e não o resultado de uma ação humana, “os pais são instrumentos de Deus para a sua maturação e desenvolvimento”. 

Por essa razão, o Encontro Mundial das Famílias destacou os exemplos de alguns pais que encontraram no cotidiano da vida familiar um caminho para a transmissão da fé, como os santos Luís e Zélia Martin, pais de Santa Teresinha do Menino Jesus; os bem-aventurados Luigi e Maria Beltrame Quattrocchi; os veneráveis Sergio Bernardini e Domenica Bedonni, entre outros que, como o Papa Francisco afirmou na exortação apostólica Gaudete et exsultate, vivem a santidade “na porta ao lado”, nas lutas diárias, “e são um reflexo da presença de Deus”. 

Ao escrever sobre a vida de oração em família, Santa Teresinha do Menino Jesus relatou que sempre se sentava no lugar mais próximo do seu pai nas orações comuns e destacava: “Bastava olhá-lo para saber como rezam os santos”. “O meu pai e a minha mãe iam todos os dias à primeira missa da manhã. Comungavam sempre que podiam. Tanto um quanto o outro jejuavam e abstinham-se de carne durante toda a Quaresma”, recordou. 

Na abertura da causa de canonização de Luigi e Maria Beltrame, em 1994, o Cardeal Camilo Ruini afirmou que, inspirando-se na Palavra de Deus e no testemunho dos Santos, esse casal viveu uma vida ordinária de maneira extraordinária. “Entre as alegrias e preocupações de uma família normal, souberam realizar uma existência extraordinariamente rica de espiritualidade. No centro, a Eucaristia cotidiana, à qual se acrescentava a devoção filial à Virgem Maria, invocada no Rosário recitado todas as noites, e a referência aos sábios conselheiros espirituais. Dessa forma, souberam acompanhar os filhos no discernimento vocacional, treinando-os a avaliar tudo, começando ‘do teto para cima’, como gostavam de dizer muitas vezes com simpatia.” 

Já sobre o casal Sergio e Domenica, uma de suas filhas, Irmã Augusta Bernardini, testemunhou: “A nossa mãe vivia na presença do Senhor e da Santíssima Virgem; recorria a Ele continuamente em em quaisquer circunstâncias: agradecimento, louvor, súplica e abandono, e exprimia-os muitas vezes em alta voz, e nós, ainda pequenos, aprendíamos esses comportamentos como coisas normais, que também ficaram gravadas na nossa vida, no nosso crescimento vocacional”. 

Seu irmão, Padre Sebastiano Bernardini, acrescentou: “Era motivo de grande edificação para nós, os filhos, ver esses pais interromperem o trabalho urgente e laborioso do campo ou da casa para esses encontros com o Senhor [um dos quais era a oração do Angelus], que lhes davam alegria e plenitude de vida. Assim, com muita naturalidade, ensinaram que se pode e deve viver o mandamento explícito do Senhor: ‘Orai sempre’”. 

guest
0 Comentários
Inline Feedbacks
Veja todos os comentários