A salvação do rico

Durante sua vida pública, Jesus esteve em muitos lugares e com muitas pessoas. Não excluiu ninguém. A cena do encontro com o rico e publicano Zaqueu esclarece que “o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido”. No entanto, sua presença não é para abençoar ou justificar o que está acontecendo naquele lugar e com aquela pessoa, mas para apontar caminhos novos, de tal modo que a salvação chegue aonde Ele quer. 

Os publicanos, cobradores de impostos, eram odiados pelo povo porque impunham taxas exorbitantes, levando muitos à pobreza extrema e até mesmo à escravidão. O rico Zaqueu era o chefe dos cobradores de impostos. Sua vida luxuosa se mantinha com dinheiro sujo, vindo dos impostos pagos pela população trabalhadora. É este o homem que quis ver Jesus quando o Senhor passou pela cidade de Jericó. 

A baixa estatura de Zaqueu o fez subir em uma árvore. Bem que podia ter subido em um terraço, em alguma casa, mas ninguém convidaria um pecador impuro para entrar em sua casa. Sua baixeza ia além do seu tamanho, visto que baixos eram também os golpes que aplicava, pela má conduta como chefe dos cobradores de impostos. Ao vê-lo, Jesus pede que desça, pois quer ser hospedado em sua casa. Parece que o primeiro olhar não foi o de Zaqueu, mas o de Jesus, e não foi um olhar de reprovação ou repreensão, mas de misericórdia. Com esse olhar, teve início o milagre da conversão daquele grande pecador. A população começou a murmurar porque não admitia que Jesus se hospedasse na casa de uma pessoa tida como malvada, que explorava o povo. Para eles, quem tivesse cometido um pecado tinha de ser tratado como pecador, sendo colocado em um lugar separado, num gueto, marginalizado. No entanto, “Deus condena o pecado, mas procura salvar o pecador; vai procurá-lo para o reconduzir ao caminho reto. Quem nunca se sentiu procurado pela misericórdia de Deus tem dificuldade de compreender a extraordinária grandeza dos gestos e palavras com que Jesus se aproxima de Zaqueu” (Papa Francisco). É inconcebível que hoje pessoas queiram usar da Palavra de Jesus para justificar posturas de exclusão, de agressão, de perseguição e até de morte de pessoas tidas por elas como pecadoras, que muito as incomodam. 

Na casa, Zaqueu permaneceu de pé e não ouviu nenhuma palavra de censura ou repreensão; bastou a presença de Jesus para que ele abrisse seu coração, rompendo com a vida pecaminosa. Seu arrependimento extravagante não foi apenas uma mudança de atitude, mas envolveu restauração e reparação pelo mal que reconheceu ter cometido: “Senhor, eu dou a metade dos meus bens aos pobres e, se defraudei alguém, vou devolver quatro vezes mais”. O dinheiro se tornou meio de comunhão, justiça e reparação, jamais de roubo. Jesus se alegrou porque a salvação chegou também a essa casa poderosa e rica; alegria porque Ele veio “procurar e salvar o que estava perdido”. O processo de conversão que aconteceu com Zaqueu não é comum acontecer entre nós, visto que o apego ao dinheiro inibe uma plena conversão. É mais comum ver o uso da Palavra com a finalidade de ter uma vida muito próspera, cheia de riquezas, do que promovendo desapego e partilha dos bens conquistados.

O apóstolo Paulo faz séria advertência aos cristãos da comunidade de Tessalônica. Estes estavam sendo influenciados por pessoas que se infiltraram na comunidade usando falsamente o seu nome para espalhar um tipo de religião baseada no medo e na intimidação. 

Em situações que exigem maiores cuidados e discernimento, é bom voltar à Palavra para não se desviar do caminho. Paulo aconselha a não entrar na onda de pessoas que, falsamente, usam da Palavra para impor ideias que não estão em conformidade com o que diz a mesma Palavra. Jesus mostra que é preciso dar credibilidade àquele que foi capaz de transformar sua vida de pecado em boa notícia para os pobres. 

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