‘Aprender’ a amizade com Cristo

Sergio Ricciuto Conte

O que uma pessoa mais deseja na vida? As pesquisas sobre a felicidade mostram que é a qualidade dos relacionamentos o que mais torna uma pessoa feliz, assim como é a amizade e a companhia que se fazem os esposos que determinam a felicidade num casamento. O que mais desejam os jovens, senão, ter amigos?

Comentei, em um artigo anterior (“Um ‘amigo virtual’ e o verdadeiro amigo”) sobre um aplicativo de inteligência virtual que simula um “amigo” – e sua incapacidade de corresponder a nosso anseio mais profundo, que só pode ser plenamente satisfeito na amizade com Cristo.

Ela é incomparável para quem a experimenta. Alimenta, encoraja e ensina como viver e como cultivar a amizade com todas as pessoas que amamos.

Como acontece com todos os amigos, é preciso convivência, tempo e espaço adequados. É fundamental e de grande ajuda o conhecimento dos livros que descrevem a experiência de quem conheceu Jesus antes de nós, como a Escritura. O pertencer a uma comunidade da Igreja e os sacramentos também são necessários, pois nos ensinam e dão forças para descobrir o caminho e a melhor linguagem para o relacionamento com Jesus. Não bastam, porém. É preciso de momentos de solidão e de silêncio. É preciso aprender a rezar, a usar as palavras adequadas, exatamente como se aprende a se relacionar com um amigo. É necessário um relacionamento frequente e rezar várias vezes por dia. É assim que o relacionamento cresce e o conhecimento e a intimidade com Jesus evoluem; sendo possível, cada vez mais, “reconhecer” sua presença e experimentar que Ele responde, ensina, conduz. 

Quando se aprende a reconhecer a presença de Jesus, o “vivente”, começa-se a fazer a experiência de que Ele é mais “presente” que tudo que se vê com os olhos. Essa experiência é agradável e dá segurança. Jesus se torna uma companhia que muda a relação com tudo. Com o tempo, a sua companhia se torna amor que transborda e muda o modo de viver e de se relacionar, pois dá equilíbrio a tudo e ensina como agir. A experiência da sua presença é uma surpresa e não fruto do próprio raciocínio, acontece de repente e de forma surpreendente, como a dizer: “Nunca tinha pensado nisso, que coisa nova e diferente!”. Com este amigo nos sentimos, finalmente, em casa e seguros. 

Vivemos em um tempo no qual a experiência de amizade com Jesus foi jogada fora, e Ele foi descartado da nossa vida concreta no dia a dia. Participar da Igreja se reduziu a um rito muitas vezes externo ou coisas a fazer. E a experiência de oração no cotidiano se tornou algo desconhecido. Tudo isso trouxe grandes consequências para o mundo cristão; ao mesmo tempo em que este descobria o niilismo, o ceticismo, a solidão extrema e o individualismo, que cresceram, e se tornaram o pão de cada dia. 

A amizade com Jesus Cristo se mostra capaz de nos salvar do sofrimento, do mal, da morte. É o que reconhece Pedro logo após Pentecostes: não há nenhum outro lugar para buscar a salvação (cf. At 4,12). Ela não pode vir por meio de mais ninguém, nem há outro nome pelo qual alguém possa ser salvo. 

Como seria bom e justo se todos pudessem ter a oportunidade de conhecer plenamente a amizade com Cristo.

Peçamos a graça de que o maior número possível de pessoas possa encontrar um amigo cristão que conheça Jesus Cristo e possa apresentá-Lo.

Ana Lydia Sawaya é professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), fez doutorado em Nutrição na Universidade de Cambridge (Reino Unido) e foi pesquisadora visitante do Massachusetts Institute of Technology (MIT).

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