Clássicos do cinema: ‘Ao Mestre com Carinho’

To Sir with Love – no Brasil “Ao Mestre com Carinho” – é um excelente filme. Aborda um tema frequente: a relação entre professor e alunos que possuem uma vida familiar cheia de problemas (pobreza, violência, divórcio dos pais e por aí vai).

O roteiro é simples: não há uma trama complexa e quase todas as cenas se dão na escola. Na sua simplicidade, porém, consegue transmitir verdades fundamentais da vida sem cair na monotonia ou no moralismo. Pelo contrário, com um início que poderia parecer pouco interessante para o gosto atual, prende cada vez mais a atenção à medida que crescem os relacionamentos.

O objetivo aqui não é resumir a história, mas expor brevemente alguns dos temas tratados, para criar interesse e para que reparemos neles ao assistir. Quem não gosta de saber detalhes antes de ver um filme, talvez não deva ler. Mas, neste caso, o filme não perde muito: suspense, clímax etc. não são elementos muito relevantes (penso eu!).

É verdade que a vida é complexa: nem sempre é fácil apontar as causas dos problemas e como resolvê-los. Certo, porém, é que o mundo não começou ontem. Como sempre foi, no que toca a arte de viver, as gerações passadas têm muito a ensinar (enquanto que as ciências e os diplomas, quase nada).

Ao “Mestre com Carinho” retrata verdades ao mesmo tempo simples e complexas sobre a educação, o amor e o sentido da vida. Simples porque, no fim das contas, são verdades que devem ser vividas. Alguém pode ler, refletir e discursar muito sobre o amor, mas se não luta sinceramente, um dia após o outro, para pô-lo em prática, não saberá nada sobre o amor. E, pior ainda, não amará. Complexas, porque aprendê-las requer tempo e os ensinamentos de pessoas maduras. A paciência é uma lei da vida, certa e infalível: sem ela não se consegue nada.

Com algumas pinceladas, tentaremos resumir algumas das verdades mais importantes e bem abordadas no filme.

Em primeiro lugar, o personagem principal, o professor Mark Thackeray, ensina que a boa educação é sempre uma paternidade. Esta não é autoritarismo, não é estúpida ou arbitrária. De certo modo, se trata de algo simples: alguém que, tendo vivido e sabendo viver, por amor se dedica aos mais novos, para ensiná-los. Isso requer muitas virtudes, e uma importantíssima é a paciência. O sr. Thackeray sabe disso e se recrimina: “a única coisa [a paciência] que havia prometido a mim mesmo de não perder, e a perdi tão rápida e facilmente!”

A autêntica paciência não é pouca coisa! É fruto de muita luta pessoal e deve ser acompanhada de integridade: a paciência diz a verdade quando é necessário e suporta as consequências. O professor não se submete aos desrespeitos dos alunos, e chega a ser bastante duro.

O filme ensina que não existe liberdade sem verdade. Os jovens, intuindo isso, ainda que sem clara consciência, não querem alguém que os deixe fazer o que quiserem. Essa falsa liberdade, adorada como uma deusa em nossa sociedade, é simplesmente uma ilusão. Não faz ninguém feliz e, na verdade, sequer existe. Quem a possui é escravo do próprio egoísmo e não é livre para amar. Os jovens querem alguém que os acolha como um pai e ajude a virar adultos. Eles têm medo, porque se deparam com a responsabilidade de viver, mas não sabem como fazê-lo e carregam consigo suas feridas, defeitos e limitações.

Diante das graves carências dos alunos, o sr. Thackeray sabe que não adianta corrigir a leitura e a matemática sem corrigir as coisas mais básicas, aquelas que tem a ver com o saber comportar-se. Sem fazer disso uma revolução ou desprezo pelo saber, o professor joga alguns livros no lixo e diz que passará a ensinar sobre a vida. Se dispõe a responder qualquer dúvida dos alunos. Seus ensinamentos sobre a vida abordam, por exemplo, o modo de vestir e pentear o cabelo e a higiene básica. O professor fala a língua dos alunos. Um penteado significa muitas vezes uma revolta. Com a abordagem correta, tratar isso produz em um adolescente/jovem alegria e confiança.

O professor apela para argumentos acessíveis, práticos: quem não tem higiene pessoal é desagradável, não consegue uma boa namorada ou namorado. Falando sobre o matrimônio, Sir – como é chamado pelos alunos – dá a justa concepção e ilustra o correto significado de força: “o matrimônio não é para os fracos, nem para os egoístas”.

Um dos alunos, Potter, agredira um professor, e Sir exige que peça desculpas: “Potter, você é um homem ou um arruaceiro?”. Ele aceita se desculpar por medo das consequências. Para o sr. Thackeray não é suficiente: “se você se desculpar por medo, então é criança, não homem”. A revolta de Potter é compreensível, porque o motivo da agressão havia sido as humilhações às quais o professor submetia outro aluno. O sr. Thackeray, porém, esclarece: “minha luta é com vocês, não com ele [o outro professor]”. Que falta fazem pais assim! Que nos mostrem o valor da integridade, que em vez de justificar nossas rebeldias – ainda que haja algo de justo nelas –ensinem o perdão, e toda a beleza e força que o acompanha. Isso evitaria as revoltas loucas e más que temos testemunhado contra certas injustiças.

O professor também conhece o valor do silêncio. Nossas gerações querem tudo de bandeja, digerido e resolvido. Não sabemos como nos posicionar diante de desafios. Nos irritamos se as regras não são explicadas claramente. Tudo deve ser explicado. Como alguém pode aprender a viver assim? Um dos alunos pergunta ao professor algo importante, e este sabiamente responde: “você terá que descobrir isso sozinho”. Não foi um desprezo. Pelo contrário, um grande carinho, dado em um contexto de amor. Eis uma grande descoberta dos alunos no final: o que é carinho.

No fim, eles cantam uma música:

Chegou o tempo de fechar os livros…

            Enquanto parto sei que estou deixando para trás meu melhor amigo,

            Um amigo que me ensinou a distinguir o bem do mal, e o fraco do forte,

            Isso é muito para aprender, mas o que posso dar em troca?

            Se você quisesse a Lua eu tentaria começar,

            Mas eu preferiria que você me deixasse dar meu coração,

            Ao Professor, com Carinho

            Quantos detalhes do filme estão delicadamente expostos aqui: o professor que vira amigo; a verdadeira amizade: enquanto os alunos eram rebeldes não podia existir amizade. Foi preciso comunicar critérios, exemplos e criar confiança, para permitir que nascesse uma esperança. A amizade é mais do que sentimento. A imaturidade faz impossível ter ou ser uma amiga; o conteúdo basilar da boa educação: saber distinguir o bem do mal, o fraco do forte (isto é, vislumbrar o sentido da vida); a verdadeira gratidão: esta não se contenta em dar algo, quer dar-se.

Na última cena, o comportamento do professor oferece seu último ensinamento para o espectador: há muito o que meditar sobre a vocação: Deus também fala por meio de acontecimentos simples e concretos.

Há um último ponto que não pode ser ignorado. A aluna Pamela se apaixona pelo professor. Outra professora o ajuda a lidar com isso: “Pamela está apenas descobrindo que é uma mulher crescida. Você é provavelmente o único homem de verdade que ela conheceu em sua vida”. Passa o tempo e, na festa de fim de ano, Pamela e o sr. Thackeray trocam olhares. Já não é mais o olhar de uma menina impressionada, que não sabe interpretar seus sentimentos e que se apaixona pelo professor, mas de uma jovem que está começando a ser mulher e que se tornou capaz de gratidão, porque começara a compreender o amor que recebera do professor. Como é bela a castidade! O filme ilustra isso muito bem. Como estão cegos aqueles que pensam que a “educação sexual” hoje proposta ajuda a formar um adulto…

Em síntese, é uma pérola do cinema: simples, agradável e profundo. Os alunos, cativados pelo professor, questionam como ele possa ser tão especial. A resposta: “só sei que ensino a vocês verdades. E é meio assustador lidar com a verdade”.

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