Em minha experiência profissional, venho notando, com bastante espanto, a rápida progressão de dúvidas e dificuldades que os pais estão tendo na conduta de seus filhos bem pequenos.
Com grande frequência, atendo pessoas e recebo pedidos de socorro sobre como agir com crianças de 10 meses a 2 anos de idade que se jogam no chão, que gritam, esperneiam e reagem mal em situações em que seus desejos são negados.
Sei que os pais modernos são vítimas de uma série de informações que os confundem; no entanto, gostaria de fomentar que reflitam antes de aderir a qualquer “dado científico” apresentado na internet.
Crianças, todos sabemos, não sabem nada quando nascem; simplesmente reagem a suas necessidades internas (fome, sede, dor, aumento de temperatura) e aos estímulos externos. Não sabem sequer o que estão sentindo, não têm capacidade de identificar qual a necessidade, somente manifestam com choro que algo está errado e os pais precisam “descobrir” o que é. Partindo desse princípio, é natural sabermos que tudo deverá ser ensinado a elas. Quando se jogam, esperneiam e gritam, elas estão somente manifestando de modo mais intenso o descontentamento diante da frustração oferecida pelos pais. Se os adultos não conseguirem conter essas crianças, oferecendo-lhes segurança, mostrando que eles suportam o “não”, ficarão à deriva; tornar-se-ão vítimas de seus naturais impulsos e da falta de orientação dos pais.
Sempre que converso com os pais, identifico neles uma enorme preocupação sobre o que a criança pode sentir caso seja contida. Está no imaginário dos pais modernos que todo tipo de contenção, do suporte físico à frustração, é “violência”, que caso a criança reaja tentando se libertar do colo é preciso soltá-la.
Pais, entendam: conter os filhos pequenos não é violência, é amor! É impedir que se degastem demasiadamente sem motivo proporcional. Eles não sabem disso, nós é que sabemos o que é ou não proporcional e não devemos omitir nosso conhecimento. Aliás, é nossa obrigação transmitir nosso conhecimento a esses pequenos seres dependentes.
Uma criança que é contida, embora possa não parecer a princípio, sente-se segura. Percebe-se orientada e logo se acalma. No entanto, se os pais a deixam estressar, fica mais irritada, insegura e perdida. Isso gera um ciclo – ela percebe a insegurança dos pais e seu comportamento desorientado cresce em intensidade.
Eu mesma me surpreendo com tantas e tantas orientações do tipo: “Contorne a situação, não diga não ao seu filho, mas sim apresente algo que ele possa fazer, ele não está preparado para ouvir não; afinal seu córtex pré-frontal não está em funcionamento”. Enfim, são inúmeras as novas teorias que propõem evitar o que chamam de “embate”, e, assim, driblar a frustração da criança. O que ninguém está levando em consideração, no entanto, é que os resultados desses procedimentos têm sido desastrosos: temos crianças extremamente agitadas, desobedientes, que querem o que querem na hora que querem, sem renunciar a nada, que são diagnosticadas como opositoras ainda na primeira infância. Mães exaustas por terem lutas enormes a cada procedimento cotidiano, pois tudo vira uma negociação sem fim.
As crianças estão clamando por ajuda, precisam de pais ativos e não contemplativos. Pais que as ajudem de modo efetivo a se conterem e não que fiquem apavorados com suas manifestações imaturas.
Pais, antes de aderirem a teorias que se apresentam aos montes, reflitam e observem a realidade que os cerca. Não caiam na tentação e nas falácias de que há modos mais “fáceis” de alcançar os resultados educativos. Educar custa, exige empenho, gera frustração. Essas pequenas frustrações – os “embates” – bem conduzidas, levam a um amadurecimento (inclusive neurológico) da criança e as ajuda a ganhar musculatura interna para enfrentar as pequenas dificuldades da vida na infância e as maiores que surgirão na vida adulta.
Pais, não temam a imaturidade dos pequenos, ajudem-nos a crescer, oferecendo o suporte de que precisam. Amar o filho não é contentá-lo o tempo todo, mas sim, conduzi-lo com assertividade e segurança.