Durante a Quaresma, em preparação à celebração da Páscoa, somos confrontados com algumas questões fundamentais de nossa vida cristã. E, na solene vigília da Páscoa, renovamos as promessas do nosso Batismo, renunciando a Satanás, às suas obras e seduções, para reassumir nossa opção por Deus. Os exercícios da Quaresma ajudam-nos a fazer isso de maneira consciente e frutuosa.
Uma das perguntas a nos fazermos na Quaresma é esta: vale a pena ser cristãos, escolher Deus e seguir Jesus Cristo durante esta vida? De fato, as promessas do Batismo requerem essa escolha constante e sempre renovada em nossa vida. Certamente, a opção por Deus e o seguimento de Jesus Cristo podem exigir escolhas difíceis, sacrifícios e renúncias. Assim, a pergunta faz sentido: Vale a pena ser cristãos? O que nos traz a vida cristã?
Na vida de Jesus com os apóstolos, houve um momento de crise, quando os apóstolos ficaram temerosos e hesitavam em seguir Jesus no caminho para Jerusalém, pois Ele lhes havia dito que devia ser preso, julgado, torturado, condenado à morte e, finalmente, ressuscitar dos mortos. E lhes dizia que era necessário passar por tudo isso para entrar em sua glória. Pedro até quis impedir Jesus de seguir adiante e de que coisas tão terríveis acontecessem. Ele não apenas queria defender o Mestre, mas também evitar enfrentar, pessoalmente, semelhante risco. Mas Jesus o repreendeu severamente por isso e pediu que seus seguidores também tomassem a própria cruz e o seguissem nesse caminho, se quisessem alcançar a salvação (cf. Mc 8,31-35).
Depois disso, Jesus foi rezar em uma montanha e levou consigo três dos apóstolos: Pedro, João e Tiago. Enquanto lá rezava, ficou transfigurado e, por um momento, os discípulos puderam ver seu esplendor divino, que estava normalmente encoberto pela sua real humanidade. E puderam ouvir a voz de Deus, que testemunhava: “Este é meu Filho amado. Escutai o que Ele diz”. Os apóstolos ficaram muito felizes com o acontecimento e quiseram ficar para sempre nesse lugar, porque era uma verdadeira experiência do céu. Mas Jesus desceu com eles e seguiu seu caminho para Jerusalém, onde devia enfrentar a paixão e a morte, e ressuscitar ao terceiro dia.
A cena da transfiguração, junto com a ressurreição de Jesus, ofereceu aos apóstolos os motivos para crerem e seguirem com Ele por toda a vida, até o martírio. Entenderam que Jesus é o Filho de Deus e sua palavra tem a autoridade de Deus. Quem outro teria semelhante autoridade no seu ensinamento? É o que Pedro diz, em outro momento, quando Jesus se apresenta como o verdadeiro pão descido do céu, dizendo que era preciso alimentar-se do seu corpo e sangue para ter a vida eterna. Também nessa ocasião, muitos discípulos abandonam Jesus, não aceitando seu ensinamento. Pedro, em nome dos apóstolos, diz a Jesus: A quem iremos nós? Tu tens palavras de vida eterna e nós cremos e sabemos que tu vieste de Deus (cf. Jo 6,66-71).
A transfiguração deixou entrever quem é Jesus e que grande glória e felicidade encontra quem o segue, mesmo através das dificuldades e cruzes da vida, mantendo-se fiel a Ele. E a voz de Deus confirma a autoridade do ensinamento de Jesus. Ele não é um falso profeta nem um enganador da humanidade, mas deseja o verdadeiro bem de todos os homens que creem Nele. Os três apóstolos viveram um momento de céu durante a transfiguração e já nem quiseram mais voltar à realidade deste mundo. A experiência do amor misericordioso de Deus em suas vidas e o conhecimento da divindade de Jesus Cristo levou os apóstolos a entregarem suas vidas inteiramente à missão e ao testemunho do Evangelho, até o martírio. Não é diferente a experiência de tantos Mártires e Santos, que também creram com firmeza e esperaram com certeza, a partir da experiência que tiveram do amor de Deus revelado aos homens por Jesus Cristo.
A pergunta volta: vale a pena ser cristão e enfrentar até mesmo sacrifícios e cruzes para ser fiel a Deus ao longo da vida? A resposta é um claro e sonoro sim! Vale a pena! São Paulo, na Carta aos Filipenses, lamenta o desânimo de alguns que desistiram da fé, trocando as promessas de Deus pelos bens deste mundo. E ele lembra uma verdade que marca a vida cristã: “Nós, porém, somos cidadãos do céu. De lá esperamos o nosso Salvador e Senhor Jesus Cristo. Ele transformará também o nosso corpo humilhado e o tornará semelhante ao seu corpo glorioso” (Fl 3,20). E encoraja os Filipenses a terem coragem, a não desanimarem e continuarem firmes no caminho de Jesus (cf. Fl 41).
Vivemos a Quaresma no Ano Jubilar “da esperança”, lembrando que somos “peregrinos de esperança”, de uma esperança “que não decepciona”. O objeto da nossa esperança não é nada menos que as promessas de Deus. E a participação na glória de Jesus ressuscitado é uma dessas promessas grandiosas, que dão sentido à nossa vida cristã. Vale a pena “continuar firmes no Senhor” (cf. Fl 4,1).