Dia dos trabalhadores e trabalhadoras

Nas últimas cinco décadas, digamos, quantas profissões desapareceram e quantas foram criadas? A pergunta puxa outra: como acompanhar e se preparar minimamente para tamanha velocidade do mercado de trabalho? O paradoxo é evidente: por um lado, quantos jovens depois de formados não conseguem emprego na área para a qual se capacitaram? Por outro lado, quantos postos de trabalho vacantes não podem ser preenchidos por falta de qualificação adequada?

Interrogações dessa natureza bombardeiam hoje, contemporaneamente, o mundo do trabalho e o mundo acadêmico. O País e sua população trabalhadora se revelam descompassado com os avanços tecnológicos recentes e cada vez mais acelerados. O resultado imediato, vale insistir, é constatar que não poucos profissionais acabam por aceitar determinados serviços que pouco ou nada têm a ver com sua escolha ou vocação.

Em meados do século passado, havia uma série de instituições públicas de educação técnico-profissional, fossem nacionais, estaduais ou municipais, tais como o SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), o SESC (Serviço Social do Comércio) e a ETI (Escola Técnica Industrial, de São Bernando do Campo). Eram escolas que funcionavam como que portas de entrada para o mercado de trabalho daquele momento, seja na produção industrial seja no comércio. Porém, o mercado mudou e mudou em termos rápidos, profundos e gerais. Deixou de ser predominantemente técnico-mecânico, passando ao universo da eletrônica e da Internet, em suas mais diversas modalidades.

É certo que a formação humana vai muito além de uma mera profissionalização para o mercado. Requer conhecimentos mais amplos no campo das ciências humanas, sociais políticas etc. Sem centros de profissionalização, entretanto, repete-se o enigma já assinalado: muitos profissionais indevidamente qualificados e muitas vagas à espera de trabalhadores para áreas especializadas. O enigma pode ser visto por um enfoque diferente: muitos jovens recém-formados migrando para o exterior, enquanto algumas empresas não conseguem encontrar profissionais para os serviços que vão surgindo com a velocidade dos tempos contemporâneos.

Qual a solução? Novamente aqui tropeçamos com o tema das políticas públicas. Dois fatores, entre outros, contribuíram para um certo desleixo, e até desmonte, no que se refere às políticas públicas voltadas para a população mais necessitada: a pandemia de COVID-19 e o governo ideologicamente de extrema direita. O momento agora é de acertar o passo com as exigências dos tempos atuais, se queremos concorrer de igual para igual com as demais nações.

Exigência acadêmica e ao mesmo tempo de inserção laboral. Exigência de promover e garantir o acesso dos novos formandos ao mercado de trabalho. Exigência de estender a todos o acesso ao mundo eletrônico, à Internet e às redes virtuais. Exigência de resgatar milhões de pessoas do desemprego, do subemprego e do trabalho informal. E ainda, exigência de uma política de salários justos e igualitários para homens e mulheres, negros e brancos, campo e cidade. Com justiça, paz e solidariedade, celebramos, então, o 1º de maio.

Padre Alfredo José Gonçalves, CS, pertence à Congregação dos Missionários de São Carlos (Scalabrinianos).

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Paty Silva
Paty Silva
11 meses atrás

Preciso parabenizar a matéria e o tema escolhido! Este é um tema tardio e recorrente em que pouco se discute, devido a grande polarização em que fomos submetidos nos ultimos anos, no entanto, é pauta de estrema importância para o bom desempenho da nossa nação! É gratificante saber que através do olhar do Pe. Alfredo, a Igreja orienta e oferece este campo de discussão!