Família e trabalho: a difícil equação

Quem nunca se viu nesse dilema em algum momento da vida? Com o grande acesso das mulheres ao mercado de trabalho, com as mudanças de paradigma em termos de comunicação social, de rapidez das informações e das transformações sociais que vivemos, esse é um tema importante e urgente.

Hoje, todos somos preparados desde cedo para o mercado de trabalho. O que mais se pergunta a uma criança é: o que você vai ser quando crescer? Desse modo, sem mesmo percebermos, vamos aprendendo que o mais importante é nossa formação profissional. Muitas e muitas horas da vida até a juventude são investidas em estudos e na escolha de uma atividade profissional. Pouco se investe na formação dos jovens para que sejam bons pais, bons esposos. 

Em algumas famílias, mesmo sem querer, transmite-se aos filhos uma mensagem confusa sobre a importância da família, na medida em que o ritmo de trabalho acaba sendo muito intenso e o tempo de convívio familiar reduzido. 

Vamos então a algumas considerações que podem nos guiar nesse desafio de conciliar a tarefa profissional com a vida em família. É importante lembrar que precisamos ter uma ordem clara de prioridades para poder conduzir a vida. Então, pergunte-se:

  1. Em que lugar você é insubstituível, na sua família ou no seu trabalho? 
  2. Vai ter maior impacto na sua felicidade seu sucesso profissional ou ver seus filhos bem formados e viver uma relação harmoniosa com seu cônjuge?
  3. Qual o maior compromisso que assumiu na vida: ser um profissional reconhecido ou educar e formar com amor aqueles que Deus lhe confiou?

Se respondermos sinceramente a essas questões, já teremos pela frente uma trilha mais aberta para percorrermos; afinal, a prioridade estará estabelecida. Feito isso, vamos à prática. Como ser coerente com a prioridade familiar num mundo profissional tão competitivo e exigente? Como oferecer aos filhos tempo de qualidade e, simultaneamente, ser um profissional responsável e dedicado?

É comum ouvirmos de muitos que o importante não é a quantidade de tempo que se oferece à família, mas sim a qualidade desse tempo, o que, em certo sentido, é verdade. De que adianta uma mãe que fica o dia todo em casa, mas que gasta uma parte enorme do seu tempo ao celular, em frente à TV ou em atividades esportivas e estéticas? Pouco cuidou de sua família. Por outro lado, não nos enganemos – quando o tempo é muito reduzido, é impossível que ele seja vivido com a qualidade necessária; afinal, se um mínimo convívio não estiver garantido, como poderemos conhecer os filhos, as transformações que estão vivendo, o que estão aprendendo, e, mais do que isso, como poderemos nos oferecer como referência de valores?  

Para podermos ter um tempo de qualidade no convívio com os filhos, é preciso:

  1. Garantir tempo suficiente para acompanharmos de perto o crescimento e as transformações que acontecem. Identificarmos os potenciais de cada um e os aspectos que são mais frágeis e precisam melhorar;
  2. Ser identificados por eles como autoridades no que diz respeito às normas de convívio;
  3. Ser exemplo de valores, princípios e virtudes diariamente;
  4. Ocupar o protagonismo na formação deles, determinando a rotina, acompanhando na escola, nas consultas médicas etc.

Sim, é um grande desafio, mas com criatividade e esforço, é possível. É preciso lembrar que, ao escolhermos formar família, renunciamos a nós mesmos em prol daqueles com os quais nos comprometemos para toda a vida: o cônjuge e os filhos. O amor é um ato de serviço, uma decisão comprometida com a felicidade dos amados. 

Portanto, o importante é sermos protagonistas e garantir a presença, mesmo nos momentos em que estamos trabalhando. Determinar a rotina a ser seguida na ausência dos pais, ligar e conversar com os filhos ou com quem cuida deles para saber dos acontecimentos, chegar o quanto antes e procurar participar ao menos do jantar, banho e hora de dormir. Garantir o convívio maior nos fins de semana, incluir os filhos nos momentos de mercado e rotinas de arrumação da casa, para que se transformem também em tempo de convívio; enfim, colocar a cabeça e o coração nesse objetivo – cuidar daqueles por quem somos responsáveis, pois, se não fizermos isso, ninguém poderá fazê-lo. 

Simone Ribeiro Cabral Fuzaro é fonoaudióloga e educadora. Mantém o site: www.simonefuzaro.com.br. Instagram: @sifuzaro.

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