Cuidar de quem cuida

No mundo, 80% dos cuidados de longa duração com idosos são providos pelas famílias, em especial pelas mulheres do grupo familiar. Muitas delas têm de abandonar suas profissões para poder cuidar, abdicando de proteção trabalhista e previdenciária. Vale ressaltar: a família tem sido apontada, na literatura, como a principal fonte de apoio e de cuidado com os idosos e deficientes.

Papa idosos

Indubitável é que as mudanças demográficas decorrentes do processo de envelhecimento populacional ocorridas na contemporaneidade evidenciam a prevalência de doenças crônicas que atingem, sobretudo, a população idosa e que podem acarretar comprometimento da capacidade funcional desses indivíduos – ou seja, prejuízo na capacidade de realização de suas atividades básicas de vida diária.

Na literatura gerontológica, existe um consenso de que o cuidado pode ser implementado tanto pela família quanto pelos profissionais e pelas instituições de saúde, para designar o tipo de apoio oferecido aos idosos dependentes. Denomina-se cuidador formal o profissional contratado, especialmente treinado, que presta assistência ao idoso com dependência e/ou à família. Designa-se cuidador informal, membro da família ou amigos, vizinhos e voluntários, sem formação específica, não remunerado, que cuida do idoso dependente no contexto familiar.

De acordo com pesquisas, ficou evidente a relação significativa entre o grau de escolaridade e o nível de conhecimento necessário para o desempenho do cuidado, que envolve desde conhecimentos para a realização das atividades básicas de cuidado, até aqueles relativos ao diagnóstico e às complicações das enfermidades dos idosos dependentes.

A despeito disso, os estudos apontam a grande proporção de cuidadores familiares sem qualquer tipo de treinamento ou curso em instituição formal para cuidar de idosos. Embora o cuidador tenha importante participação no modelo assistencial de saúde domiciliar, a maior parte da população de cuidadores informais ainda carece de informações e de su- porte necessário à assistência, o que se constitui fator de risco para a qualidade do cuidado prestado.

Considerando que os cuidadores familiares compartilham de pouca visibilidade, em virtude de déficit de estrutura assistencial e, muitas vezes, da desvalorização do seu trabalho, faz-se oportuno destacar a relevância da criação de políticas públicas para o cuidado sobre a vida dos cuidadores, e da necessidade de se implementar ações com vistas ao estabelecimento de suportes formais e emocionais para essas pessoas. Por sua vez, no âmbito do sistema de saúde, é de fundamental importância que os enfermeiros e demais profissionais envolvidos possam propiciar orientações aos familiares que cuidem de dependente.

O objetivo dessas intervenções não deve ser apenas o de instrumentalizar os membros familiares como cuidadores, mas como pessoas que também precisam de cuidados.

É de extrema importância garantir e promover o respeito à autonomia e à dignidade do idoso, por meio do apoio ao cuidador familiar – cuidar também de quem cuida, por meio da ampliação do acesso a programas, serviços, benefícios e outras ações públicas que possam trazer melhorias às suas condições de vida, contribuindo, por conseguinte, tanto para o seu bem-estar quanto o das pessoas que recebem os cuidados.

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