Uma encíclica para a paz

São João XXIII. Fonte: Wikimedia

A Pacem in Terris , de São João XXIII, propõe o que é o cerne da Doutrina Social da Igreja: respeito aos direitos humanos como condição para a paz de todos os povos, na verdade, justiça, caridade e liberdade. A encíclica trata do que pode ser o maior problema social: o relacionamento, e é a partir dessa visão que aborda os temas políticos.

A encíclica, publicada no dia 11 de abril de 1963, Quinta-feira Santa, assim começa: “A paz na terra, anseio profundo de todos os homens de todos os tempos, não se pode estabelecer nem consolidar senão no pleno respeito da ordem instituída por Deus.”

Nada contrasta mais drasticamente e contraria tanto esta ordem universal do que a desordem existente entre pessoas e povos, em que as relações são reguladas pela força e não pela concórdia. É preciso imprimir o espírito de solidariedade, de aceitação, de perdão, na convivência humana, nas relações entre as pessoas, dos cidadãos com as respectivas autoridades públicas, nas relações entre os Estados, dos indivíduos com as comunidades políticas e destas com a comunidade mundial, na busca do Bem comum universal.

Todos os cidadãos e grupos civis devem contribuir para esse bem, procurando ajustar os próprios interesses às necessidades dos outros, deixando a ganância e a corrupção, empregando bens e serviços públicos em prol dos mais necessitados, dentro das normas da justiça social. Os atos de autoridade civil não devem ser apenas formalmente corretos, mas também possuir o conteúdo correto que represente, de fato, o Bem comum.

A primeira parte da encíclica faz uma reflexão sobre os direitos e deveres da pessoa humana e dos direitos fundamentais do homem – levantados por Pio XII em 1942, consagrados pela declaração dos Direitos Humanos das Nações Unidas em 1948 e pelas Constituições federais dos países democráticos em todo o planeta.

A segunda parte estuda as relações entre os indivíduos com e o poder público, alertando sobre a necessidade dos poderes se adaptarem “à natureza e à complexidade dos problemas” e aos “sinais dos tempos”.

A relação entre as comunidades políticas é o tema da terceira parte, com a afirmação da existência de direitos e deveres internacionais, propondo a verdade, a justiça, a solidariedade e a liberdade para a solução dos conflitos, sempre recorrendo ao diálogo e às negociações, nunca às armas. O relacionamento, a iniciar-se entre as pessoas, é o caminho da paz.

O Papa Francisco, citando o Santo Papa Paulo VI, lembra que ainda hoje o caminho da paz é o desenvolvimento integral e que “o diálogo entre gerações, educação e trabalho são instrumentos para construir uma paz duradoura.”

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