Incentivando o diálogo quando ninguém parece querer dialogar

Em 2021, temos mais uma Campanha da Fraternidade Ecumênica, na qual participam várias confissões cristãs, além da Igreja Católica. O tema, “Fraternidade e diálogo: compromisso de amor”, e o lema, “Cristo é a nossa paz: do que era dividido fez uma unidade” (Ef 2,14), não poderiam ser mais atuais.

Vivemos, não só no Brasil, uma espiral crescente de indignação e frustração com os rumos da sociedade e a responsabilidade assumida pelos políticos. Tais sentimentos, infelizmente, acabam gerando raiva, agressividade e intolerância para com aqueles que pensam diferentemente de nós.

Ouvimos, durante décadas, que o mundo caminhava no sentido de maior respeito à pluralidade, maior compreensão mútua e mais democracia. Os anos recentes, contudo, têm mostrado exatamente o quadro oposto.

Com tudo isso, estamos cada vez menos predispostos ao esforço de verdadeiramente encontrar o outro, dialogar com ele, buscar juntos as melhores soluções para os problemas sociais. Fechados cada vez mais em nossos “mundinhos”, tornamo-nos, também nós, mais agressivos e avessos ao diálogo.

Por isso, torna-se mais importante do que nunca que nós, cristãos de todas as denominações, inspirados na mensagem de Jesus, busquemos o diálogo e o encontro entre nós e com todos os demais.

O Papa Francisco, num discurso proferido na Jornada Mundial da Juventude (2013), no Rio de Janeiro, exorta a nós, brasileiros, a perceber que todos temos algo de bom para dar e podemos receber em troca algo de bom, desde que saibamos nos aproximar com uma atitude aberta e disponível, sem preconceitos.

Muitos falam em pluralidade e respeito ao diferente, mas poucos têm essa real convicção de que algo de bom pode vir do encontro com o outro. Estamos mais preocupados em convencer (quando não a forçar) nossos ouvintes a pensar como nós. O diálogo, porém, não pode ser vivido como uma tentativa disfarçada de doutrinar os demais.

Também não é algo que só fazemos com aqueles que concordam com uma lista de pré-requisitos mínimos que estabelecemos inicialmente. Muitas vezes, descobrimos que pessoas aparentemente opostas a nós estão abertas a um diálogo franco e sincero. Se as rejeitássemos a priori, perderíamos importantes momentos de encontro.

Outras vezes, o termo diálogo é usado para se referir a pactos políticos que não correspondem a um verdadeiro espírito cristão. Não são um mal em si. No mundo da política, pactos e acordos são necessários e inevitáveis. O diálogo proposto pelos cristãos, porém, baseia-se num encontro humano, em que cada um se abre para o outro e para a busca da verdade e do bem, que é mais profundo do que esses pactos circunstanciais e permite outros ainda mais eficazes.

Ao propor o diálogo e a confiança em seus frutos, o Papa está dando um testemunho de alguma coisa que tem vivido. Não está nos dizendo apenas “dialoguem porque Deus assim deseja”, mas, também, “dialoguem porque eu tenho dialogado e colhido os frutos desses diálogos”.

Para vivermos esse espírito de diálogo, contudo, não podemos esperar que o outro dê o primeiro passo. Se todos esperam o sinal favorável do lado contrário, ninguém se move. Temos que ser aqueles que, movidos pela certeza que vem da experiência do encontro com Cristo, vamos ao encontro dos demais.

Com certeza, haverá quem não corresponderá a nosso gesto, mas também existirão muitos que, de forma até inesperada, responderão ao nosso convite, dialogando e fazendo um sincero encontro humano conosco. E, quando isso acontecer, nossa alegria e nossa gratidão a Deus serão radiantes – é o que testemunham aqueles que fazem essa experiência de diálogo.

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Juarez
Juarez
3 anos atrás

Redação , eu penso e tenho visto que o diálogo é o início de toda solução de problemas, nas empresas , nas famílias , nos relacionamentos. E quando avança para o perdão e a união , frutos maiores virão .
No entanto baseado em interpretações mais acuradas do texto base entrou que houve abordagens em questões que não deveriam , criando relativização de ensinamentos bíblicos e do catecismo . Como ideologia do gênero , aborto , etc.
arrumaram uma oportunidade pra confundir e dividir os cristãos . É o que ficou claro no texto acima . Quando se apostou que haverá um número maior de adesão ao convite do que quem não corresponderá .
A porta é estreita mesmo! Que tudo aconteça conforme a vontade do Pai . Que o tempo reserve perdão e acolhida aos que forem excluídos. E que quando voltar o Filho do Homem, único e verdadeiro juiz, que julgará os vivos e os mortos , ele encontre fé sobre a terra .

Pedro
Pedro
3 anos atrás

Concordo que é preciso que haja diálogo e também é preciso que alguém dê o primeiro passo, mas essa inserção no texto base (ideologia de gênero e aborto), na forma como foram colocadas, foram muito inoportunas. São temas a serem discutidos no diálogo e não como propostas para um diálogo.

Cristiano Amarante da Silva
Cristiano Amarante da Silva
3 anos atrás

O medo do Diálogo se dar por parte daqueles que nunca desejaram por se acharem melhor do que as outras pessoas …Mas ainda existe sim muita gente que respeita o ser humano, e deseja ao mesmo vida e vida em abundância. Que está acusando o texto base de incentivar algo contra a doutrina da igreja simplesmente não leu, só escutou o que desde 2018 polarizam tudo inclusive a Fé.