Jesus nos envia

É sempre bom voltar para a terra da gente, o lugar da nossa infância. Após longa ausência, Jesus também voltou a Nazaré e, como de costume, no dia de sábado foi para a reunião da comunidade e tomou a palavra, mas o povo não gostou do que ouviu. Jesus deixa Nazaré e começa a percorrer os povoados nas redondezas. Então chama os discípulos e os envia, dando-lhes regras claras e precisas.

O chamado é individual, mas a missão se faz em parceria, é comunitária, um trabalho em equipe. É sempre necessária a companhia de mais um irmão para testemunhar, animar e levantar quando for preciso. Levar um cajado também é importante. Ele é feito de madeira, parece frágil, mas já serviu para abrir o Mar Vermelho, para ser tocado na rocha de onde brotou água no deserto. Ele prefigura o lenho da cruz. Pelo cajado o povo foi liberto da escravidão, refrigerado pela água da vida e reconciliado com Deus. Na missão, um cajado para amparar no cansaço, proteger do ataque das feras e ser sinal do bom pastor que cuida e protege as ovelhas. Além do cajado, também um par de sandálias para não ferir os pés, o que poderia impedir a realização plena da missão.

 Diferente dos missionários oriundos dos essênios e fariseus que iam para a missão levando sacola, dinheiro e comida, os enviados de Jesus são orientados a não levar nada, nem bolsa, nem comida, apenas uma túnica e sandália nos pés. Ir sem nada significava que confiavam na hospitalidade do povo e que seriam bem recebidos. A simplicidade e busca de se identificar com os últimos da fila deve ser a principal característica dos seguidores de Jesus.

Mesmo com todos os cuidados, o missionário pode ser rejeitado, sua palavra pode encontrar grandes obstáculos. Se isso acontecer, é preciso sacudir até o pó que grudou no calçado (indiferença, rejeição, rancor), para que esta sujeira não o impeça de seguir adiante, firme na missão. Mas cuidado: tem um pó que é tão nocivo quanto este, o pó daquele que saiu sem nada para a missão e voltou com a sacola cheia em nome de Jesus.

As exigências dos comportamentos pessoais, sobretudo a coerência de vida, têm como finalidade atingir o essencial da missão: anunciar a chegada do Reino, propor mudança de vida, expulsar demônios, ungir e curar os doentes. Não é imitação, mas fazer o que Jesus faria se estivesse diante dessas situações, afinal libertar as pessoas do mal e curar os doentes foi o que Jesus mais fez. Cuidou da vida.

Diante desse cenário de despojamento, fica bem lembrar o belo exemplo do profeta Amós. Ele é um simples camponês que deixa suas atividades no campo e sai da sua região para profetizar em Betel, santuário do rei, território dominado pela força e poder de um tirano. Um sacerdote chamado Amasias pede a retirada do profeta, acusando-o de conspirar contra o Estado, de importunar o tirano que ele protege, usando a religião para encobrir seus desmandos. No entanto, Amós não se amedronta diante das ameaças recebidas e, confiando no Deus que o chamou, continua a missão que recebeu.

Quem nos inspira hoje: um profeta (Amós) que denuncia os desmandos dos grandes ou um sacerdote (Amasias) que usa a religião para encobrir as falcatruas do seu rei? Uma Igreja sobrecarregada com excesso de bagagem ou uma Igreja pobre, desprovida de privilégios, livre para oferecer o Evangelho em sua verdade mais autêntica?

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