No alto da sacada da Basílica de São Pedro, quando foi anunciado o nome do novo Papa — Leão XIV —, o mundo se voltou para Roma com expectativa. O nome evocou em mim a lembrança de Frei Leão, companheiro de São Francisco de Assis, escriba do Cântico das Criaturas e confidente humilde. Como franciscano, senti que não se tratava de um nome por acaso. Era símbolo. Era profecia.
Leão XIV, norte-americano de nascença e sul-americano de coração, vem do Peru, das cordilheiras que guardam a fé dos pequenos. Agostiniano, formado na interioridade e na busca pela verdade, foi bispo entre os pobres e missionário em terras em que a esperança se escreve com suor, barro e oração. Não é teólogo de cátedra, mas de estrada. Seu saber vem da escuta – de Deus, do povo, da dor da terra.
Desde seus primeiros gestos, deixou claro que não busca protagonismo, mas comunhão: “Sou apenas um irmão em Cristo que deseja caminhar com todos”, afirmou, com voz embargada. Sua espiritualidade bebe da fonte de Santo Agostinho, que ensinou que o coração humano só encontra descanso em Deus, mas caminha em inquietude. Uma inquietude missionária, que impulsiona ao diálogo, ao serviço e ao acolhimento.
Sua mensagem inaugural foi um sopro de reconciliação: “A paz começa quando olhamos o outro como irmão, não como ameaça.” Com firmeza e doçura, tem insistido que a Igreja não pode se fechar em si mesma — deve ir ao encontro, ser samaritana.
Para Leão XIV, paz não é discurso diplomático: é justiça para os pobres, pão para os famintos, perdão entre inimigos, respeito entre os diferentes. Viveu isso nas comunidades andinas nas quais foi pastor: celebrou em capelas de chão batido, chorou com mães enlutadas, partilhou refeições simples. Ali, aprendeu que o Evangelho só é verdadeiro quando é Boa Nova para os últimos.
A sua missão é clara: “A Igreja não pode se contentar em cuidar do templo. Ela deve sair e cuidar das feridas do mundo.” Convoca toda a Igreja à conversão pastoral – sair dos palácios e reassumir a tenda do encontro. Como São Francisco ouviu de Cristo “Reconstrói a minha Igreja”, Leão XIV nos chama à reforma do coração, das estruturas e dos modos de anunciar.
Outro pilar de seu pontificado é a sinodalidade – não como palavra bonita, mas como método. Viveu isso no Peru, ouvindo indígenas e camponeses, discernindo com eles os passos da fé. Agora, sonha com uma Igreja em que todos têm voz, na qual a autoridade é serviço, e a unidade acolhe a diversidade como riqueza.
Há algo profundamente poético e teológico em sua figura. Leão XIV nos lembra de que a autoridade cristã não é dominação, mas amor que sustenta. Como Frei Leão, o Papa deseja ser mais irmão do que chefe, mais servo do que príncipe. E nisso reside sua força.
Ele traz nos olhos o brilho de quem viu o rosto de Deus nos pobres. Seu coração agostiniano pulsa pela busca constante. Sua alma missionária não conhece repouso. Sua palavra franciscana tem o perfume da simplicidade evangélica. E seu nome – Leão – aponta para a coragem humilde de guiar o rebanho com mansidão.
Talvez estejamos, como no tempo de São Francisco, em um tempo de ruínas e, também, de reconstrução. Leão XIV, com seu jeito manso e firme, nos convida a sonhar com uma Igreja que caminha junto, escuta e serve. Uma Igreja que volta ao Evangelho como ao primeiro amor.
E como dizia São Francisco a Frei Leão: “Escreve, Leão, escreve que, no meio das noites do mundo, Cristo é nossa luz. E Ele nunca nos abandona.”