O futuro: melhor que o passado

Sergio Ricciuto Conte

Mudança, muita mudança; rápida mudança; mudou o ritmo do mundo, mas na minha cabeça adolescente, parecia tudo normal, pois tudo deveria mudar sempre.

Independentemente de sua data de nascimento, transporte-se por um momento para os anos de 1950. O rádio com suas notícias, músicas, rádio-novelas e programas de auditório dividia a comunicação com  imprensa escrita. A TV estava apenas iniciando suas atividades. O “radinho de pilha” era a sensação da época, pois funcionava sem nenhum fio ligado diretamente ao aparelho, o que era uma enorme novidade. Os tempos começaram a mudar rápida e radicalmente, sendo até mesmo cunhada uma expressão que se tornou muito usada: ‘não tem mais o que se inventar’. As mudanças não paravam, seja no campo tecnológico, seja naquele da cultura, das ideias, dos anseios, das sensações, da busca pelo novo.

Caminhamos um pouco mais e chegamos na década de 1960. O homem pisa na Lua; o Papa João XXIII convoca o Concílio Vaticano II; surge o precursor do chip e o protótipo da internet;  constrói-se o muro de Berlim; os Beatles e outros grupos musicais ganham o mundo; a China lança a Revolução Cultural; Martin Luther King é assassinado e sua morte provoca inúmeras revoltas nos Estados Unidos e reflete até mesmo nos grupos estudantis da França, culminando com a ‘revolução’ de maio de 1968.

São estes alguns fatos relevantes da época e aconteceram muitos outros deste então. Chegamos ao século XXI e pergunto: estas mudanças atingiram o desenvolvimento humano? Esta minha expectativa e reflexão sobre um futuro sempre melhor que me acompanha por toda a vida, é apenas uma esperança ou uma realidade?

Na minha juventude, por um período, eu não mais participava das celebrações da Igreja, mas mesmo assim, buscava de outros modos um sentido para a vida. Naquele momento, muito me ajudou uma frase que ouvi de um poeta popular num filme nacional: “Tudo o que acontece é para melhorar a vida da gente.” Essa afirmação me motivou, me sustentou e somente muitos anos depois, fui compreender que talvez se tratasse de um modo de o povo expressar o que disse São Paulo Apóstolo:“Tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm 8,28). Um tempo depois, me deparei com o pensamento de Teilhard de Chardin: “O melhor acaba sempre acontecendo e o futuro é melhor que qualquer passado”. Minha convicção cresceu ainda mais. A história demonstra que, mesmo parecendo o contrário, existe uma crescente onda de solidariedade envolvendo a humanidade.

O teólogo Haught refere que para Teilhard: “religião é a forma pela qual o Universo agora atingiu o nível de autoconsciência (…)” e que “portanto, a religião, em vez de ser uma oposição à evolução, é essencial para o seu futuro” (…) “teologicamente falando, nos termos de Teilhard, o que está realmente acontecendo no cosmos é que Deus está se tornando cada vez mais encarnado (…) e o mundo está explodindo ‘para cima de Deus’” (…) “a evolução está ocorrendo, fundamentalmente, não simplesmente por acaso e por determinismo cego (…), mas porque Deus se aproxima do mundo e o convida a novos níveis de existência, respeitando sua espontaneidade ao mesmo tempo”.

O físico Piero Pasolini, focolarino italiano, em seu livro “O Futuro: melhor que qualquer passado” (São Paulo: Cidade Nova, 1983), cujo título é inspirado em Teilhard de Chardin, vê o crescimento humano numa perspectiva cristã, “tornando-nos homens evoluindo para Cristo.” Constatando, porém, uma situação que parece estarmos em involução, diz Piero Pasolini: “Será que a evolução está falhando? Talvez o princípio fundamental da cibernética cristã ainda não tenha penetrado na consciência da coletividade”. Pasolini continua:”Todavia, não obstante as aparências, talvez existam ainda, para nós, fundamentos sólidos de esperança: este ‘tipo de amor’ [cristão] vem se insinuando de modo capilar como um ideal concreto em muitas células da humanidade. No íntimo de cada homem de boa vontade existe a confiança de que o último ato de evolução sobre a Terra não pode falhar.”

“Permanecer no amor significa servir aos outros, estar a serviço dos outros. O amor é cuidar dos outros. O amor é trabalho. O amor é concreto. (…) permanecer no amor e entender que o amor é serviço, é cuidar das pessoas” (Papa Francisco).

O futuro, tendo o amor como ‘motor da evolução’, será sempre melhor!

Luiz Antonio Araujo Pierre é membro do Movimento dos Focolares, é professor e advogado. Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, pós-graduado em Gestão de Pessoas e especialista em Direito do Trabalho.

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ALEXANDRE GONÇALVES
ALEXANDRE GONÇALVES
2 anos atrás

Obrigado, querido amigo Pierre!
Que lindo artigo! Sim, a vida sempre vence a morte. A esperança tem a supremacia sobre o desespero.
Acredito também que a nossa evolução é ser “cristificados” e tornarmo-nos outros deuses por participação: o máximo da nossa evolução.