‘Onde moras?’

2º DOMINGO DO TEMPO COMUM

No primeiro encontro com João Evangelista e André, Jesus olhou-os com afeto e disse: “O que estais procurando?” Eles instintivamente responderam: “Onde moras (poū méneis)?” (Jo 1,38), uma questão mais teológica do que “local”. Em grego, a pergunta significa, literalmente, “Onde permaneces?” ou “Onde continuas a estar?” O Senhor, então, convidou-os: “Vinde e vede!” E “permaneceram” (’émeinam) com Ele (Jo 1,39).    

Não interessava tanto o lugar da casa de Nazaré ou onde o Senhor pernoitava em Cafarnaum, nem o endereço da casa de Lázaro, sua hospedagem quando ia a Jerusalém… Afinal, Cristo mesmo diria que “o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça” (Lc 9,58). Os discípulos – como também nós – queriam, no fundo, saber a origem do Senhor, de onde vem, para onde vai, e onde podem encontrá-Lo de maneira mais profunda.

Na Última Ceia, finalmente compreenderiam: “Agora, vemos que sabes tudo, por isso cremos que saíste de Deus” (Jo 16,30). E Cristo, no longo discurso de despedida, prometeu-lhes: “Eu vou preparar-vos um lugar para que, onde Eu estiver, vós estejais também” (cf. Jo 14,2s). O primeiro lugar onde Ele mora, de onde veio e onde quer que também nós estejamos é o Céu, junto do Pai. 

Até que isso aconteça, porém, Jesus vive e “permanece” (ménei) conosco, pois Ele prometeu, dizendo: “Estou convosco todos os dias até o fim dos tempos” (Mt 28,20). Esta permanência se dá de modo especial no sacramento da Eucaristia. O Sacrário é verdadeiramente sua morada neste mundo. Mas não para por aí! Por meio de sua real permanência na Comunhão – em Corpo, Sangue, Alma e Divindade –, o Senhor habita também em nossos corpos e almas. 

Tanto é assim que Cristo revelaria mais adiante: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece (ménei) em mim e eu nele” (Jo 6,56). João e André queriam saber onde o Senhor “permanecia”, mas, no fim das contas, Jesus é que os convida: “Permanecei (meínate) em mim e eu permanecerei em vós!” (Jo 15,4). Assim se entende melhor a pergunta/afirmação de São Paulo: “Acaso ignorais que vossos corpos são membros de Cristo?” (1Cor 6,15). Ele habita conosco para que habitemos com Ele e Nele. 

Além disso, o Senhor “permanece” por meio dos santos Evangelhos. Referindo-se ao evangelista São João, Jesus disse a Pedro “O que te importa se eu quero que ele permaneça (ménein) até que eu venha?” (Jo 21,22). O discípulo amado “permanece” por meio de seu Evangelho. Tanto mais, então, podemos dizer que Cristo de certa maneira permanece conosco por meio dos livros sagrados que dão testemunho do seu nascimento, ministério, Paixão, Morte e Ressurreição.   

“Mestre, onde moras?”… Lendo os Evangelhos, recebendo dignamente a Eucaristia e, pensando com esperança nas alegrias do Céu, dizemos “sim” ao doce convite do Senhor: “Vinde e vede!” Desejemos sempre mais – como os apóstolos – permanecer com Jesus! Afinal, assim como Ele próprio, “não possuímos aqui morada permanente (ménousan), mas buscamos aquela que está por vir” (cf. Hb 13,14).

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