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Papa propõe aos jovens cuidar da interioridade no Jubileu da Educação

Recentemente, tive a oportunidade de participar do Jubileu do Mundo Educativo, em Roma, e de estar presente em três momentos com o Papa Leão XIV: em duas audiências e na Missa na Festa de Todos os Santos. Passados os momentos de forte emoção, em que pude cumprimentar pessoalmente o Santo Padre e reparar a sua atenção em escutar e olhar com carinho nos olhos, nestes dias estou procurando reler e meditar aquilo que o Papa nos falou. Reparei que, em três momentos, insistiu no mesmo tema, sobre o qual vamos refletir brevemente: a necessidade de elevar o nosso espírito, de cuidar da nossa interioridade, crescer em vida interior. 

Na audiência com os estudantes, no dia 29 de outubro, o Papa recordou Pier Giorgio Frassati: “Um estudante italiano que, como sabem, foi canonizado neste Ano Jubilar. Com a sua alma apaixonada por Deus e pelo próximo, este jovem santo cunhou duas frases que repetia frequentemente, quase como um lema. Dizia ele: ‘Viver sem fé não é viver, mas ir vivendo’; e ainda ‘Rumo ao alto’. São afirmações muito verdadeiras e encorajadoras. Portanto, também digo a vocês: tenham a audácia de viver plenamente. Não se contentem com aparências ou modas: uma existência nivelada pelo passageiro nunca nos satisfaz. Em vez disso, cada um diga no seu coração: ‘Sonho mais alto, Senhor, quero mais: inspirai-me!’ Este desejo é a sua força e exprime bem o empenho dos jovens que projetam uma sociedade melhor, em relação à qual se recusam a permanecer como espectadores. Encorajo-lhes, pois, a tender constantemente ‘para o alto’, acendendo o farol da esperança nas horas escuras da história. Que maravilhoso seria se um dia a sua geração fosse reconhecida como a ‘geração plus’, lembrada pelo impulso extra que saberão dar à Igreja e ao mundo.” Um claro convite do Papa a dar um valor mais elevado à nossa vida. 

Quase no final daquela audiência, o Papa insistiu no tema: “Queridos jovens, vocês mesmos sugeriram o primeiro dos novos desafios que nos comprometem no nosso Pacto Educativo Global, expressando um forte e claro desejo; disseram: ‘Ajudem-nos na educação da vida interior’. Fiquei verdadeiramente impressionado com este pedido. Não basta ter grande conhecimento científico, se depois não sabemos quem somos e qual é o sentido da vida. Sem silêncio, sem escuta, sem oração, até as estrelas se apagam. Podemos conhecer muito do mundo e ignorar o nosso coração: também já lhes terá acontecido experimentar aquela sensação de vazio, de inquietação que não nos deixa em paz. Nos casos mais graves, assistimos a episódios de desconforto, violência, bullying, opressão, e até mesmo a jovens que se isolam, não querendo mais relacionar-se com os outros. Penso que por trás destes sofrimentos esteja também o vazio criado por uma sociedade incapaz de educar a dimensão espiritual da pessoa humana, e não apenas as dimensões técnica, social e moral.” 

Na audiência do dia 31 de outubro, ao falar aos educadores, o Papa insistiu no mesmo assunto: “É um erro pensar que para ensinar bastem palavras bonitas ou boas salas de aula, laboratórios e bibliotecas. Estes são apenas meios e espaços físicos, certamente úteis, mas o Mestre está dentro. A verdade não circula através de sons, muros e corredores, mas no encontro profundo entre as pessoas, sem o qual qualquer proposta educativa está destinada ao fracasso. Vivemos em um mundo dominado por telas e filtros tecnológicos muitas vezes superficiais, no qual os alunos precisam de ajuda para entrar em contato com a sua interioridade.” 

Finalmente, na carta apostólica “Desenhar Novos Mapas de Esperança”, sobre o mundo da educação, o Papa Leão XIV relançou o Pacto Educativo Global, ao qual acrescentou três novas prioridades. A primeira delas “se refere à vida interior: os jovens pedem profundidade; necessitam de espaços de silêncio, discernimento, diálogo com a consciência e com Deus” (nº10.3). 

Penso que essa insistência do Papa Leão XIV no tema da interioridade é um claro convite a refletirmos sobre a nossa existência, procurarmos cultivar uma vida interior de união com Deus, abrir espaço para a meditação pessoal e criar momentos de oração a sós com Deus: só assim, descobriremos o verdadeiro sentido da nossa vida e cumpriremos a nossa missão na Igreja e no mundo. 

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