A pergunta pode parecer supérflua, pois estamos habituados a ver o Papa celebrando missas, acolhendo pequenos e grandes grupos em audiências, recebendo autoridades para encontros privados, viajando para diferentes países, falando, reunindo-se com o povo. Porém, se não formos além das aparências, poderíamos ser levados a pensar que o Papa é um executivo, que se dedica a cultivar relações públicas; ou uma espécie de showman, dedicado a comparecer a eventos e movimentar multidões de fãs… Fazendo tudo o que o Papa faz, o que vemos e o que não vemos, qual missão ele está buscando cumprir?
Durante os dias preparatórios ao conclave, os Cardeais, reunidos no Vaticano, recordaram, com muitas e interessantes reflexões, qual é a missão da Igreja e como essa missão deveria ser realizada hoje. Fazendo isso, eles também foram manifestando seus anseios a respeito da missão do Papa na Igreja. Missão da Igreja e missão do Papa são inseparáveis. O Papa é o pastor visível de toda a Igreja e a ajuda a cumprir a missão recebida de Jesus Cristo. Embora ele não esteja sozinho nessa missão, cabe a ele conduzir e animar, em nome de Jesus Cristo, toda a comunidade dos fiéis na missão e na vida cristã.
Jesus confiou à Igreja, animada pelo Espírito Santo, o encargo de continuar anunciando o Evangelho até os últimos recantos da terra; de estender a todos a misericórdia e o perdão de Deus, bem como os demais dons da graça divina (sacramentos), mediante os quais as pessoas que creem já podem receber a vida nova e santificar a própria vida e a vida do mundo; enfim, Jesus confiou a todos os cristãos o encargo de serem suas testemunhas no mundo, vivendo a fé, a esperança e a caridade, e transformando a própria vida e a vida do mundo a partir da novidade do Evangelho do reino de Deus.
O Papa dedica-se de corpo e alma a viver, em primeira pessoa, essa missão que Jesus confiou a toda a Igreja, quer nos momentos mais solenes e vistosos, quando ele celebra para multidões, quando preside uma assembleia sinodal ou promulga algum documento para toda a Igreja; quer nos momentos menos visíveis, quando ele reza em privado, ou com pequenos grupos, quando recebe seus colaboradores e despacha com eles. Também quando o Papa visita uma paróquia em Roma, sua diocese, ou viaja a algum país distante e encontra autoridades locais, intelectuais, sacerdotes e religiosos e o povo.
O Papa anuncia o Evangelho de muitas maneiras: na celebração da missa e nas homilias, nas alocuções a grupos e catequeses ao povo. Mas também quando escreve documentos, encíclicas e cartas apostólicas, ou quando oferece diretrizes para a formação do clero, religiosos e leigos. E, especialmente, quando convoca todos a assumirem a dimensão missionária da Igreja com renovado ardor e fé. O Papa é o primeiro animador da Igreja missionária, para que ela nunca deixe de exercer esse seu primeiro dever: o anúncio do Evangelho a toda criatura.
Da mesma forma, o Papa desempenha o sumo sacerdócio na Igreja, sendo o dispensador primeiro dos dons da santificação. A celebração dos sacramentos só é legítima quando ela acontece na comunhão com o Papa. O Papa nomeia os bispos e, nas suas respectivas dioceses, são eles os dispensadores dos bens de Deus. E a celebração legítima dos sacramentos nas dioceses só acontece quando ela se dá na comunhão com o bispo. Enfim, o Papa também deve ser, na Igreja, o primeiro a dar o exemplo e testemunho de fé, esperança e caridade e de vida nova, conforme o Evangelho do Reino de Deus.
É fácil ser Papa? Parece uma tarefa sobre-humana e acima daquilo que se pode esperar de um simples mortal. O Papa, de fato, continua sendo um dos mortais, como todos, com sua cultura, seu caráter e seu jeito próprio, suas experiências de vida, sua saúde ou enfermidade… Mas ele não está sozinho a carregar o peso de tamanha responsabilidade na Igreja, que é compartilhada com muitos outros irmãos. E quem for escolhido, receberá o carisma e a graça de estado que o Espírito Santo lhe dá para o bom desempenho de sua missão.
Dá para compreender bem o pedido do Papa Francisco à multidão reunida na Praça de São Pedro e aos milhões que, em todo o mundo, acompanhavam a sua primeira aparição pública como Papa: ‘Por favor, não se esqueçam de rezar por mim!’ E repetia isso, como um refrão, em todos os encontros com as pessoas, ao longo do seu pontificado. O Sucessor de Pedro recebe o encargo de confirmar a todos na fé e nos caminhos do Evangelho. Mas ele precisa da comunhão e da oração de todos os irmãos. Na Igreja, ninguém está sozinho.