Quando o sentimento toma conta da vida

Há alguns anos, escrevo nesta coluna e venho, com certa frequência, alertando para um movimento cada vez mais visível e nocivo que toma conta da nossa sociedade: a supervalorização dos sentimentos. 

Os sentimentos estão sempre presentes em nossa vida, desde a tenra idade até o seu ocaso. Iluminam nossa vida, dão um colorido especial. Certamente, precisam ser experimentados e vividos a cada novo dia. No entanto, o que preocupa em nossa sociedade moderna é o sentimentalismo que está guiando as ações, que justifica comportamentos inadequados, que impele as pessoas à falta de responsabilidade, de compromisso e, até mesmo, de sanidade. 

O sentimentalismo vem aumentando aos poucos, gradativamente, e, sem que tomemos nota, vamos conduzindo nossas ações com o objetivo de acolher, validar e respeitar sentimentos e não pessoas e seus potenciais. 

Pais, em respeito aos sentimentos dos filhos, não os corrigem com a seriedade que seria necessária; Professores, em respeito aos sentimentos dos alunos e de seus pais, ‘pisam em ovos’ para punir maus comportamentos e, muitas vezes, têm seus empregos ceifados, quando esses se sentem desrespeitados (vide o exemplo do professor de educação física que puniu os alunos que não entregaram o trabalho de casa com 10 voltas de corrida ao redor da quadra). 

Os fatos são negados ou ignorados em nome do respeito aos sentimentos. O que se esquece nesse panorama é de que sentimentos nem sempre estão alinhados com a realidade dos acontecimentos. Sim, alguém pode sentir-se rejeitado, no entanto, isso não significa que realmente é. Alguém pode sentir-se amedrontado, no entanto, pode não estar em real perigo. 

Identificar e compreender sentimentos próprios e alheios é bom e necessário, mas guiar-se por eles pode ser pura loucura. Nossos sentimentos precisam ser orientados pela nossa capacidade racional; afinal, somos pessoas e, por isso mesmo, seres que pensam e se determinam. Mais do que isso, seres que sabem que pensam e que têm potencial de autodeterminação. 

É triste percebermos aonde nos têm levado esse afã de viver movidos por sentimentos: começamos por não frustrar as crianças, pois não conseguimos suportar os choros e tristezas que isso gera, e agora estamos diante de pessoas que pensam que seus sentimentos mudam a própria realidade. Pessoas que se “sentem” cachorros se manifestam aos milhares pelas ruas; pessoas que mudam sua manifestação sexual de acordo com o sentimento no dia; pessoas que se sentem mães de animais e os tratam com a dignidade de pessoas; e, agora, pessoas que adotam como filhos legítimos bonecos de silicone… Onde vamos parar? Não acham que passou da hora de os sentimentos serem colocados no seu devido lugar e, como pessoas, retomarmos nossa capacidade de identificar e tratar de modo prudente e equilibrado aqueles sentimentos que estão desordenados? 

Somos pessoas, fomos pensados e criados para tanto! Temos uma dignidade imensa que nos foi concedida pelo próprio Deus e, por uma desordem afetiva, nos apequenamos e agimos como animais – guiados por impulsos, emoções e sentimentos desordenados. 

É preciso olhar com seriedade para essa loucura que está se estabelecendo; caso contrário, em breve, estaremos todos imersos no caos que se gera quando falta a capacidade de ordenamento. 

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