Quaresma é um tempo de penitência, mas não é de tristeza!

Estamos às vésperas de iniciarmos o tempo da Quaresma e, com ela, “nossa anual subida a Jerusalém com Jesus, para celebrar a Páscoa”, como expressou, certa vez, o frade capuchinho Cardeal Raniero Cantalamessa, OFMCap. 

Nesse período, a liturgia, de maneira belíssima e em unidade com toda a Santa Madre Igreja, nos reserva já na Quarta-feira de Cinzas, uma oração singela que exprime, de forma clara, a vontade que devemos fomentar em nossos corações nesse período quaresmal: “Concedei-nos, ó Deus todo-poderoso, iniciar com este dia de jejum o tempo de Quaresma, para que a penitência nos fortaleça no combate contra o espírito do mal. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém”. 

Observemos a riqueza desta prece de petição: “…para que a penitência nos fortaleça no combate contra o espírito do mal”. Não é uma frase hipotética, mas sim uma certeza de que, por meio da penitência, somos fortalecidos. Não se trata de uma conjectura qualquer, mas de uma certeza concedida por Deus para que possamos combater o espírito do mal, por meio da penitência e da mortificação. 

Mas, como adquirir esse espírito de penitência de que nos fala a liturgia da Igreja e as Sagradas Escrituras? 

O primeiro passo é rezar! É da oração de poucos que muitos dependem, não nos esqueçamos jamais disso! E, como nos ensinou o Papa Francisco na Quaresma de 2018: “Somos chamados a enfrentar o mal mediante a oração para sermos capazes, com a ajuda de Deus, de derrotá-lo em nosso dia a dia. Infelizmente, o mal está à obra em nossa existência e ao nosso redor, onde existem violências, negação do próximo, fechamentos, guerras e injustiças”. 

Nesse contexto, uma pergunta pessoal e, de certo modo incômoda, mas que, no entanto, faz-se necessária é: Tens rezado? Tens diariamente feito esse encontro com Deus? Reserva um tempo fixo para a oração da manhã e da noite? Procura não faltar a essa audiência diária com Deus? Tens na oração o primeiro passo de suas realizações laborais e apostólicas? 

Um outro aspecto a ser considerado: realiza um sincero e regular exame de consciência? Essa “Tarefa diária. Contabilidade que nunca descura [descuida] quem tem um negócio”

São Pio X (1835-1914), na exortação Haerent Animo, dizia a esse respeito: “Seria uma vergonha que nisto [não fazer o exame de consciência] se cumprissem as palavras de Jesus: ‘Os filhos deste mundo são mais prudentes que os filhos da luz’ (Lc 16,8). Salta à vista o cuidado com que administram os seus negócios, a frequência com que conferem os seus gastos e as suas receitas, a atenção e o rigor com que fazem suas contas, como lhes doem as perdas e o enorme empenho que põem em recuperá-las. E, nós […], descurando com enorme negligência o negócio mais importante e mais difícil: o da nossa própria santificação”. 

A exortação de São Pio X é de 1908 e nos faz formular outra questão incômoda: Tens dedicado a fazer um exame geral e particular com o mesmo empenho que os filhos deste mundo? Quais são os pontos de lutas identificados a serem examinados diariamente? Quais virtudes a ganhar e/ou vícios a perder busca ao examinar-se? Recorre à direção espiritual e ao sacramento da Penitência para aprofundar-se nessa jornada de conversão e crescimento espiritual? 

Por outro olhar, pode acontecer de se questionar: “Motivos para a penitência? Desagravo, reparação, petição, ação de graças; meios para progredir…; por ti, por mim, pelo outros, pela tua família, pelo teu País, pela Igreja… E mil motivos mais”, responde São Josemaría Escrivá. Como podemos depreender desses motivos, nada nos é indiferente. Tudo pode e deve ser objeto de reconciliação com a Cruz Redentora. 

Que Maria Santíssima nos ajude a viver esta Quaresma com o espírito de penitência e mortificação, com uma oração incessante, como fez Jesus no deserto. Que nos dê luzes para procurarmos mortificações que não mortifiquem os outros. A “Quaresma é tempo de penitência, mas não é de tristeza”, como nos ensina o Papa Francisco. 

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