Reparação dos pecados

1° DOMINGO DA QUARESMA 6 DE MARÇO DE 2022

O pecado é um mal absoluto. Encerra-nos no egoísmo, enfraquece ou extingue a caridade. Tratando-se de uma culpa grave, priva-nos da graça divina. Constitui a grande desgraça humana, que pode nos levar à condenação eterna.

Dele decorrem, direta ou indiretamente, todos os males. Nos indivíduos, na sociedade e na criação, o pecado original causou um desequilíbrio que se perpetua pelas culpas pessoais. Divisões familiares, violência, guerras, opressões, injustiças de toda espécie e até calamidades naturais têm sua origem última no pecado. Tanto que Nosso Senhor recebeu o nome de Jesus – “Deus salva” – porque “Ele vai salvar o seu povo de seus pecados” (Mt 1,21). Para isso, o Senhor veio ao mundo! A Redenção dos pecados obtida pela Paixão e Morte de Cristo é aplicada a cada um de nós ao participarmos de seus sacramentos, especialmente do Batismo e da Confissão. Por meio deles, Deus apaga nossas culpas. Contudo, perdoada a culpa, permanece ainda a “pena”. O pecado deixa na alma e no mundo um rastro.

Na alma, gera o apego desordenado às criaturas, os vícios e más tendências. Subsistem as chamadas “penas temporais”, que deverão ser expiadas neste mundo, por meio da penitência e das indulgências, ou depois da morte, no Purgatório. Ademais, os efeitos nocivos e vantagens mundanas que obtivemos de nossos pecados podem perdurar por muito tempo, e isso requer uma justa reparação. Nas sociedades, os peca- dos públicos geram escândalo e confusão, levam à perda da paz social, atraem a justiça divina e põem em risco a subsistência da coletividade.

Por essas razões, além de ser um tempo privilegiado para a conversão e emenda de vida, a Quaresma é também um período de reparação pelos pecados próprios e alheios. Com a oração, o jejum e a prática mais intensa da caridade, expiamos as penas temporais e pedimos – como os habitantes de Nínive (cf. Jn 3) – que, vendo nossas boas disposições, o Senhor afaste de nós o rigor de sua justiça.

O juízo particular dos indivíduos ocorrerá logo após a morte. O juízo definitivo das sociedades acontecerá somente no Juízo Universal. Até lá, porém, haverá um juízo diferido na história. Como um bom Pai, Deus permite correções que nos ajudam a nos converter, para evitar que nos percamos eternamente. Em certas ocasiões, esse juízo histórico comportou mesmo a extinção de nações ou cidades (cf. Mt 11,21ss).

Segundo Jeremias, por exemplo, os pecados dos governantes, autoridades religiosas e do povo causaram o exílio, a humilhação e levaram à tríade “guerra, fome e peste” (Jr 24,10). Pela mão de Deus, entretanto, esses males se converteram em um bem. Foram a purificação necessária que ensejou um exame de consciência pro- fundo e a conversão. Essa pedagogia, amorosa e extrema, permitiu a salvação final de indivíduos e da nação.

Vivamos o tempo da Quaresma com espírito de amor e de reparação! Consolando Jesus e zelando ardentemente pelos homens, rezemos sem cessar com a Igreja: “Da peste, da fome e da guerra, livrai-nos, Senhor!”.

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