Celebramos na última sexta-feira a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus – esta comemoração tão bonita em que, por meio do singelo símbolo do Coração de Cristo, somos levados a contemplar tantas verdades profundas de nossa fé: o amor de Deus por nós; a Encarnação de Jesus, que se fez verdadeiramente um ser humano, de carne e osso, para salvar a humanidade decaída; e o Mistério Pascal, no qual seu Coração foi traspassado pela lança, como que escancarando as portas de sua ternura, em uma torrente de sangue e água.
Até mesmo antes das famosas visões de Santa Margarida Maria Alacoque (1647-1690), a devoção ao Sagrado Coração já vinha sendo preparada por alguns santos e religiosos, como Santa Gertrude ou São João Eudes. Mas as visões de Santa Margarida Maria realmente se destacam, quase como uma resposta do Céu a uma crise que a Igreja vinha enfrentando, sobretudo em conexão com o movimento jansenista.
Tratava-se de uma corrente teológica rigorista, que colocava excessiva ênfase nas concepções de Deus como um Juiz estrito e temível, e assim negligenciava os aspectos da misericórdia divina e de seu amor pela humanidade. O jansenismo era particularmente influente na França dos séculos XVI e XVII, e exigia uma correção teológica, que fosse capaz de equilibrar os diversos aspectos complementares da verdade católica sobre Deus e a humanidade.
Nesse contexto é que Nosso Senhor aparece a Santa Margarida Maria, em 27 de dezembro de 1673, e lhe diz: “Meu Divino Coração ama tão apaixonadamente a humanidade que ele já não pode conter em si mesmo as chamadas de seu amor ardente. Ele precisa extravasá-las”. No ano seguinte, Santa Margarida teve duas outras visões: em uma delas, o Sagrado Coração aparecia glorioso sobre um trono, envolto em chamas mais brilhantes do que o sol, e cercado de uma coroa de espinhos. Na outra, Santa Margarida viu Jesus resplandecente em Sua glória, e do Seu peito saíam línguas de fogo, ao ponto de fazer lembrar uma fornalha.
Nessas aparições, Nosso Senhor pediu-lhe que os católicos criassem a devoção das nove primeiras sextas-feiras, recebendo devotamente a Comunhão e adorando-o na Sagrada Eucaristia. E pediu também que fosse instituída uma festa litúrgica especial para o Sagrado Coração, na continuidade da Solenidade de Corpus Christi. Esta festa foi finalmente instituída em 1856, pelo Papa Pio XI.
E Jesus fez também a Santa Margarida Maria 12 promessas, a todos os que honrassem o seu Sagrado Coração: (1) dar-lhes todas as graças necessárias para seu estado de vida; (2) trazer a paz às suas famílias; (3) confortá-los em suas tribulações; (4) ser-lhes um refúgio seguro na vida e na morte; (5) derramar bênçãos abundantes em todos os seus empreendimentos; (6) ser para os pecadores um oceano infinito de misericórdia; (7) tornar férvidas as almas mornas; (8) fazer crescer em santidade e perfeição as almas devotas; (9) abençoar todos os lugares em que uma imagem do Sagrado Coração fosse exposta à veneração; (10) dar aos sacerdotes o dom de tocar os corações mais endurecidos; (11) escrever os nomes de seus devotos no seu próprio Sagrado Coração; e, finalmente, (12) para todos os que fazem a comunhão das nove primeiras sextas-feiras, a graça da perseverança final.
Veneremos, então, este tão amável Coração, e, na esteira de tantos Papas que recomendaram vivamente esta devoção, unamo-nos a Jesus por meio do amor ao seu Sagrado Coração!