Sobre olhar os fatos e aprender com eles

Hoje, gostaria de convidar os pais e mães leitores desta coluna a um olhar corajoso e sincero para a realidade. 

Vemos crescer cotidianamente os casos de adolescentes desorientados, depressivos, bem como de suicídios na adolescência, de pessoas cada vez mais dependentes dos pais. Os jovens demoram mais a definir a vida profissional, a se manter de modo autônomo, casam-se mais tarde, enfim, podemos dizer que precisam dos pais por mais tempo do que há anos. 

Voltando nosso olhar para as crianças, vemos cenas também complicadas: crianças agitadas, extremamente impulsivas e desobedientes. A maioria não reconhece os limites (frágeis) colocados pelos pais, acaba se tornando crianças difíceis, pequenos ditadores, movidos por quereres que são estranhamente acolhidos e respeitados pelos adultos que os deveriam ajudar a chegar mais longe. Respondem aos pais, desrespeitam os professores, custa-lhes submeter-se às necessidades que a vida apresenta: lições de casa, ajudas em casa, responsabilidades comuns. Resultado: crianças imaturas, inseguras, frágeis, suscetíveis e despreparadas para a vida. Diante de pequenos obstáculos, desmontam. Normalmente, são muito estimulados intelectualmente, mas muito pouco treinadas nas dimensões afetivas e volitivas. 

Qualquer um de nós é capaz de identificar que crianças dos anos 1970 eram muito mais ágeis e autônomas do que as de 50 anos depois. Prova disso são os inúmeros memes que todos os dias circulam nas redes sociais, identificando a geração atual como frágil, mimizenta. 

Diante de tudo isso, me pergunto e gostaria de perguntar a cada um de vocês, pais: estamos trilhando caminhos eficientes na formação dos nossos filhos? Nunca se falou tanto em autonomia, independência, liberdade, e nunca tivemos pessoas mais mal preparadas para tudo isso. 

O que está acontecendo no pro- cesso de formação dessas crianças? 

Creio que se olharmos para essa realidade já podemos identificar que as teorias modernas apresentadas como salvadoras da vida afetiva dos pequenos, da autoestima e da liberdade não dão o resultado que prometem. Se dessem, encontraríamos crianças e adolescentes mais bem resolvidos. Não se enganem. 

Os pais precisam assumir com coragem e responsabilidade o protagonismo na formação integral dos filhos, precisam lembrar que formar uma pessoa é um trabalho árduo, que requer força para lapidar o caráter, generosidade em doar-se – sair completamente de si para agir de modo coerente com a missão educativa, abandonando alguns confortos e prazeres, sabedoria para identificar o melhor para o filho e executar esse melhor, mesmo que contrariando os gostos e prazeres imaturos da criança. Quando os pais estão mais preocupados em serem queridos e amiguinhos dos filhos, a formação está em risco. Não dá para ser simples uma missão tão grandiosa: formar pessoas fortes, autônomas e livres. 

Portanto, lembrem-se: 

Não existem receitas prontas para isso: um conjunto de frases a serem ditas ou palavras que sejam proibidas; 

Estabelecer os objetivos educativos é passo primordial: Que tipo de pessoa se pretende formar; 

Agir de modo coerente com o que se pretende ensinar – a autoridade exige coerência; 

Saber que educar é um gesto preventivo; oriente, inspire, ensine, estimule e corrija – não paute o processo educativo na correção; 

Não tenha medo de ser chato e exigente sempre que for necessário – a pessoa imatura sempre identifica como chatice as exigências dos adultos, no entanto, quando cresce, agradece aquilo que na infância não conseguia valorizar; 

Nunca desista do seu filho, por mais difícil que seja o comportamento dele. Os filhos mais difíceis são os que promovem maior crescimento para os pais. 

Pais, vamos virar esse jogo – não podemos continuar pecando na formação dos nossos filhos. O mundo precisa de pessoas fortes, lúcidas, corajosas, que empreendam as lutas rumo ao bem comum e à felicidade perene. Coragem! 

Simone Ribeiro Cabral Fuzaro é fonoaudióloga e educadora. Mantém o site www.simonefuzaro.com.br. Instagram:@sifuzaro 

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