O Dia Mundial dos Pobres foi instituído pelo Papa Francisco com o objetivo de trazer os pobres para o meio da cena, dos holofotes, das atenções, das preocupações, da busca de soluções para as realidades em que vivem perto de nós e no mundo inteiro. Ano após ano, os temas e as mensagens do Papa têm ajudado nesse processo, mas é preciso reconhecer que isso é difícil, mesmo dentro da nossa Igreja e das religiões em geral.
Trata-se de um processo, como queria o Papa Francisco, sem a pretensão de conseguirmos resolver essa situação com algumas iniciativas pontuais e em pouco tempo. Esse processo requer a tomada de consciência pessoal e coletiva sobre a existência dos pobres, sua condição e seus sofrimentos, e de se perguntar sobre os motivos da pobreza e o que precisa ser feito. Podem existir muitas ideias divergentes ou propostas diferentes, mas é preciso fazer esse processo, que requer uma verdadeira conversão, envolvendo diversas dimensões da vida pessoal e social: a fé, a mística, a caridade, a solidariedade, a justiça, a educação, a economia e a política. Será que estamos fazendo passos nesse processo?
A mensagem do Papa Leão XIV para o 9º Dia Mundial dos Pobres (2025) traz o tema “Tu és minha esperança” (Sl 71,5), em sintonia com o Ano Jubilar que a Igreja está celebrando: somos “peregrinos de esperança”, de uma esperança “que não decepciona”. Os pobres vivem de esperança, talvez mais do que ninguém: esperança humana, de ver sua situação melhorar algum dia, mesmo que demore; esperança em Deus, sabendo com certeza que Deus é sua esperança segura. Foi sobretudo aos diversos tipos de pobres que Jesus chamou “bem-aventurados”, anunciando que Deus não os abandonará e, em definitivo, garante a sua esperança e os saciará de felicidade.
Vale a pena ler a Mensagem do Papa para o Dia Mundial dos Pobres deste ano. Depois de apresentar passagens bíblicas que mostram como os pobres sempre se voltaram para Deus e não foram abandonados, o Papa começa dizendo que a maior pobreza é não ter Deus e, assim, não ter a quem recorrer no desespero. Por isso, exorta ao cuidado religioso e à evangelização dos pobres. Fala, depois, da precariedade das riquezas deste mundo e como se ilude quem só pensa em acumular bens para si, sem ser rico para Deus, fazendo o bem ao próximo. Mesmo parecendo ser pessoa muito “religiosa”, mas se não tiver amor ao próximo, essa religiosidade não salva: amor a Deus e amor ao próximo são inseparáveis, conforme ensinou Jesus (cf. Mt 25,31-46).
Como bom agostiniano, Leão XIV lembra que, quem, verdadeiramente, nutre a esperança de participar, um dia, da “cidade de Deus”, precisa engajar-se na “cidade dos homens”, ou seja, na transformação das realidades sociais para que, nelas, os valores do Reino de Deus já apareçam e deem esperança para todos, como sinais da plenitude do Reino de Deus que se anuncia e busca. “A esperança nasce da fé, que a alimenta e sustenta, sobre o fundamento da caridade, que é a mãe de todas as virtudes. E precisamos de caridade hoje, agora. Não é uma promessa, mas uma realidade para a qual olhamos com alegria e responsabilidade: envolve-nos, orientando as nossas decisões para o bem comum. Em vez disso, quem carece de caridade não só carece de fé e esperança, mas tira a esperança ao seu próximo” (nº 4).
Retomando temas desenvolvidos na sua exortação apostólica Dilexi te (“Eu te amei”), o Papa recorda como as virtudes teologais da fé, esperança e caridade floresceram na Igreja e na sociedade, ao longo da história, em inumeráveis obras sociais de caridade, quer na alimentação dos pobres, na educação e instrução, na saúde, no socorro aos órfãos e às pessoas desvalidas, aos migrantes, aos escravizados e explorados, aos humilhados em seus direitos e em sua dignidade fundamental. E exorta que isso continue ainda hoje, pois os pobres são tantos, em uma enorme diversidade de situações.
Nessa mesma linha, como Arcebispo de São Paulo, eu gostaria de manifestar meu apreço pela quantidade e variedade de iniciativas da presença desta Igreja Particular junto aos pobres. São tantos e tão bonitos os “sinais de esperança” já presentes, que devem merecer o apreço e o apoio das comunidades de fé e de todos. E desejo recordar mais uma vez uma diretriz do nosso sínodo arquidiocesano: Que em nenhuma comunidade, agregação ou expressão de nossa Igreja falte a caridade organizada, além, é claro, da caridade pessoal e espontânea, que é dever de cada um.
E apresento também três sugestões para viver bem esta “jornada mundial dos pobres”, que não se reduz ao Domingo a ela dedicada: 1) Ler a Mensagem do Papa Leão – “Tu és minha esperança” – para este Dia Mundial dos Pobres; 2) ler também a exortação apostólica do Papa, “Dilexi te (“Eu te amei”), sobre o amor aos pobres”. 3) Visitar alguma instituição, obra social ou iniciativa voltada para os pobres em nossa Arquidiocese.






