Uma Igreja missionária é uma Igreja em saída

Essa frase sintetiza de forma clara a perspectiva missionária que perpassa a exortação apostólica pós-sinodal Evangelii gaudium, do Papa Francisco, e revela o grande desafio pastoral da Igreja católica no Brasil e no mundo: a conversão missionária. 

É fato notório que, em países do Ocidente onde durante séculos o Catolicismo é ou foi a religião majoritária, criou-se estruturas educativas e pastorais, com a finalidade quase que exclusiva de conservar na fé os seus fiéis, seja por meio da catequese preparatória para os sacramentos, como a administração e celebração dos mesmos. No plano da prática do exercício da caridade, inúmeros institutos de vida religiosa surgiram para desenvolver obras de misericórdia materiais, como o socorro e a assistência aos pobres.

Concentradas predominantemente em institutos de ensino (escolas católicas) e igrejas paroquiais, as chamadas pastorais de conservação partem do pressuposto de que as pessoas já receberam a fé em Jesus Cristo, e assim o empenho pastoral deve ser aquele de manter e santificar os fiéis e garantir a transmissão da fé às novas gerações, dando por suposto que essas já crescem dentro da Igreja. 

Sem negar a sua necessidade e o bem que realizaram, ao longo dos anos, as pastorais de conservação não perceberam os sinais dos tempos, resultando, como efeitos colaterais, uma espécie de acomodação pastoral e autorreferencialidade que necessita ser superada, dadas as mudanças socioculturais e religiosas facilmente observáveis no mundo contemporâneo: o surgimento e propagação de ideologias ateias e anticristãs, o individualismo,  o materialismo, a idolatria da prosperidade e do prazer, o individualismo, o relativismo moral permeado por um forte subjetivismo religioso e desligamento das comunidades eclesiais. Há que se lembrar também do aparecimento e crescimento de seitas ditas evangélicas.

Esse conjunto de fatores, associados, no Brasil, ao aumento da pobreza, à escassez de sacerdotes, religiosos e agentes pastorais, impõe à Igreja a necessidade de se lançar em direção a um novo impulso missionário: hoje, não podemos simplesmente esperar que as pessoas venham até a Igreja, mas a Igreja, com os seus pastores, deve ir ao encontro das pessoas lá onde elas estão, ou seja, em meio ao mundo. É disso que nos fala o Papa Francisco, no número 20 da Evangelii gaudium:   

“Na Palavra de Deus, aparece constantemente este dinamismo de «saída», que Deus quer provocar nos crentes. Abraão aceitou a chamada para partir rumo a uma nova terra (cf. Gn 12,1-3). Moisés ouviu a chamada de Deus: «Vai; Eu te envio» (Ex 3,10), e fez sair o povo para a terra prometida (cf. Ex 3,17). A Jeremias disse: «Irás aonde Eu te enviar» (Jr 1,7). Naquele «ide» de Jesus, estão presentes os cenários e os desafios sempre novos da missão evangelizadora da Igreja, e hoje todos somos chamados a esta nova «saída» missionária. Cada cristão e cada comunidade há de discernir qual é o caminho que o Senhor lhe pede, mas todos somos convidados a aceitar esta chamada: sair da própria comodidade e ter a coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho”. 

guest
0 Comentários
Inline Feedbacks
Veja todos os comentários