Verdadeiramente, o Senhor ressuscitou

A ressurreição de Jesus é central para nossa fé cristã, a ponto de São Paulo afirmar: “Se Jesus não ressuscitou, a nossa pregação é sem fundamento e, sem fundamento, também a vossa fé” (1Cor 15,14). A ressurreição de Jesus é parte firme e irrenunciável da proclamação de fé da Igreja de Cristo.

Trata-se de uma afirmação estupenda, fora dos padrões das verdades “naturais” e, não causa admiração que ela tenha sido questionada desde os tempos apostólicos e, praticamente, durante toda a história da Igreja. Os próprios apóstolos tiveram dificuldades para crer que Jesus estava vivo novamente, após ter sido morto na cruz. A verdade da ressurreição se impôs a eles por si mesma e não foi produzida por eles.

Os Evangelhos mostram como não quiseram acreditar. Não acreditaram em Maria Madalena, que foi a primeira a encontrar o Senhor ressuscitado; não levaram a sério os relatos de outras mulheres, que também tinham visto Jesus vivo após a sua morte na cruz. O apóstolo São Tomé duvidou até do testemunho do conjunto dos demais apóstolos, que afirmavam: “vimos o Senhor!” Os dois discípulos de Emaús também não deram crédito nos testemunhos daqueles que o tinham visto ressuscitado e voltavam para sua aldeia tristes e frustrados pelo que tinha acontecido com Jesus; a pregação sobre a ressurreição de Jesus foi, certamente, o motivo principal que movia Paulo a perseguir os cristãos, antes de sua conversão.

Em poucas palavras, a afirmação da ressurreição de Jesus não se originou de uma alucinação dos apóstolos e demais amigos de Jesus; nem foi construída pela fantasia dos admiradores de Jesus para eternizar a memória do Mestre. Essas teorias, levantadas sempre de novo ao longo da história, não encontram confirmação no Novo Testamento. Os amigos de Jesus custaram a crer na ressurreição de Jesus, e São Marcos, no final do seu Evangelho, mostra como Ele os repreendeu por causa dessa incredulidade deles e porque não tinham acreditado no testemunho daqueles que o haviam encontrado vivo após a sua morte (cf. Mc 16,9-14).

Também não pode ser aceita a interpretação da ressurreição de Jesus como continuidade da lembrança de Jesus na memória dos seus amigos e admiradores. Não basta dizer que Jesus ressuscitou na memória dos seus discípulos, que continuaram e continuam a se lembrar dele. Essa maneira de explicar as coisas nega a ressurreição corporal de Jesus dentre os mortos, no seu verdadeiro corpo humano. É verdade que continuamos a nos lembrar dele e a proclamar e testemunhar o seu Evangelho. Mas os testemunhos da ressurreição afirmam ele, em pessoa, está vivo; o mesmo, que conheceram antes de sua morte na cruz. Os relatos das aparições falam que Jesus ressuscitado lhes mostra as mãos e os pés feridos pelos pregos da crucificação e até pediu algo para se alimentar, comendo pão e peixe com eles, para desfazer a sua incredulidade. E lhes declarou com insistência: “vede minhas mãos e meus pés. Sou eu mesmo! Tocai em mim e vede! Um espírito não tem carne nem osso, como vedes que eu tenho!” (Lc 24,39-40). De fato, os apóstolos estavam tão assustados, que imaginavam ver um fantasma na sua frente.

Outros negaram a ressurreição desde o início, espalhando a narrativa de que o túmulo de Jesus estava vazio porque os discípulos roubaram o corpo de Jesus enquanto os guardas dormiam. Sobre essas “fake news” escreveu São Mateus no seu Evangelho (cf. Mt 27,62-66). Os numerosos encontros pascais de Jesus ressuscitado com os discípulos e outras pessoas não deixaram dúvidas sobre a sua ressurreição dentre os mortos. Também São Paulo se refere às aparições de Jesus ressuscitado a numerosas pessoas (cf. 1Cor 15,3-8). Outra narrativa falsa que nega a ressurreição de Jesus aparece num evangelho apócrifo e afirma que Jesus, de fato, não teria morrido na cruz, mas apenas desmaiado. Durante a noite, ele teria recobrado os sentidos, saindo do túmulo e fugindo para o deserto, onde viveu num oásis e morreu de velho. Essa história é fantasiosa e impossível. Como poderia ainda estar vivo alguém que teve o coração traspassado pela lança do soldado?

É justa a pergunta sobre o corpo de Jesus ressuscitado: Ele voltou à vida anterior à sua morte? Aqui está a grande novidade: o corpo de Jesus ressuscitado pelo poder de Deus entra na glória de Deus e participa da condição divina do Filho de Deus. Embora seja o mesmo, o corpo humano de Jesus, após a ressurreição, não é mais o corpo “natural”, sujeito às leis deste mundo, mas “sobrenatural”, divinizado e glorioso. Os teólogos dizem que a ressurreição de Jesus é um acontecimento escatológico, que não pertence mais à ordem das realidades deste mundo, mas à ordem das realidades sobrenaturais e definitivas. Com sua ressurreição, Jesus abre para todos nós as portas de uma vida nova e da eternidade.

Por isso, a ressurreição de Jesus é tão central na nossa fé cristã. Ela indica qual é o desígnio salvador de Deus para todos nós. Ela é princípio e fonte da nossa ressurreição futura e, em Jesus ressuscitado, nós também já experimentamos, de alguma maneira, o mundo novo, do qual passamos a participar mediante a graça do Batismo. A ressurreição de Jesus é uma grande e bela notícia para a humanidade!

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