Vocação, um caminho espiritual

O mês vocacional, há pouco concluído, nos despertou, mais uma vez, para a necessidade urgente da oração pelas vocações e o compromisso de promovê-las para o bem do povo de Deus, o serviço da evangelização. Toda a Igreja, ou todos nós, batizados, é responsável para que não faltem os bons operários e operárias da messe, que expressem a riqueza, diversidade, complementaridade e multiplicidade dos dons, carismas, serviços e ministérios. Como nos recorda São Paulo, na Carta aos Coríntios, “a cada um é dada a manifestação do Espírito, em vista do bem de todos” (1Cor 12,8). 

Sabemos que a experiência vocacional é sempre fruto de uma atração, uma sensibilidade, às vezes uma curiosidade. Como nos mostra o Evangelho, os apóstolos se aproximam de Jesus, atraídos pelo seu testemunho e suas palavras, e lhe perguntam: “Mestre, onde moras?” (Jo 1,38).  Eles foram e com Ele permaneceram. De fato, a vocação é um chamado e uma graça. Vai além de nossas possibilidades, é o Espírito que a inspira e a faz nascer e crescer. A iniciativa é divina, mediada pela realidade, e a Igreja. Trata-se de uma constante nas vocações bíblicas, e o mesmo Jesus nos diz: “Não fostes vós que me escolhestes; fui eu que vos escolhi e vos designei, para dardes fruto e para que o vosso fruto permaneça” (Jo 15,16). É preciso rezar e trabalhar, acolher e discernir, acompanhar, formar e fazer frutificar.  

A vocação é um caminho de maturação da fé, em um diálogo com Deus que dura a vida toda. Basilar no percurso vocacional é o crescimento da vida cristã, em todos os seus aspectos. Uma sólida personalização da fé, fundamentada no encontro pessoal com Jesus Cristo, na comunidade eclesial, e uma consistente vida interior, sustentada pela oração, são condições essenciais para que uma proposta e projeto de seguimento do Senhor se realize. Como no encontro de Jesus com o jovem rico (cf. Mt 19,16-26), não é suficiente viver honestamente, cumprir a Lei, mas é preciso acolher o misterioso convite que transforma toda a existência, o deixar tudo pelo Reino de Deus. 

A experiência vocacional é pessoal: Deus tem um projeto para cada um, e disso devemos ter consciência. No grande dom da vida, todos somos chamados, pelo Batismo, a ser santos e trilhar o caminho da santidade. A nós cabe contribuir para que as pessoas acolham o seu chamado, discirnam sua vocação, seja para uma vida plenamente cristã no mundo secular, na vocação familiar, e nos vários serviços e ministérios da comunidade, seja também para uma forma de consagração religiosa, seja nos ministérios ordenados. Na vida social e eclesial, é preciso chamar, convidar, propor um caminho vocacional. Não é suficiente falar genericamente, mas apresentar aos adolescentes, jovens e adultos uma proposta concreta. E dizer, como Jesus: “Vinde e vede” (Jo 1,39) e “segue-me” (Jo 1,43). Importante um convite explícito e o acompanhamento espiritual, capaz de um diálogo profundo e decisivo, que contribua para a compreensão do chamado, indicando os passos e as condições para ouvir o apelo do Senhor, seu projeto de amor. Rezemos sempre pelas vocações e façamos da vivência de nossa própria vocação um verdadeiro caminho espiritual.  

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