Secretário geral da ACN: ‘Estamos todos os dias, com alegria e esperança, levando a cruz de Nosso Senhor’

ACN

Presente em mais de 140 países, a Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN) apoia diferentes iniciativas da Igreja em todos os continentes. Em sua primeira visita à América Latina desde o início da pandemia de COVID-19, o secretário-geral da entidade, o alemão Philipp Ozores, conversou com O SÃO PAULO sobre os projetos em curso, a realidade da perseguição aos cristãos em algumas partes do mundo e o que percebeu nas idas aos escritórios da ACN no México, Colômbia, Brasil e Chile.

O SÃO PAULO – Quais os principais projetos globais da ACN para este ano?

Philipp Ozores – Temos três grandes projetos: o primeiro, a campanha de emergência para a Ucrânia, que seguramente vai continuar nos próximos meses. O segundo projeto é uma campanha mundial para ajuda aos seminaristas, pois temos de considerar que os seminaristas são o futuro da nossa Igreja. Hoje, há cerca de 100 mil seminaristas no mundo e um a cada oito deles recebe algum tipo de ajuda da ACN. Nessa Quaresma, queremos ajudar efetivamente os seminários em todas as partes do planeta. O terceiro projeto, que é algo permanente na nossa fundação, é promover a união dos cristãos no Oriente Médio. O berço do Cristianismo está no Oriente Médio. No Líbano, na Síria, no Iraque, vimos nos últimos anos o decréscimo massivo da presença dos cristãos. Permaneceremos fazendo essa campanha humanitária para a reconstrução dos locais e a manutenção dos trabalhos pastorais, ajudando aqueles que que- rem permanecer em sua terra. Afinal, os cristãos estão ali antes da chegada das outras religiões. Uma crise imensa e recente é a do Líbano, que está mais destruído e, por isso, é o que recebe mais ajuda da ACN desde o ano passado, após a explosão ocorrida em Beirute em 2020.

Assim que as tropas russas invadiram a Ucrânia, prontamente a ACN anunciou um pacote de ajuda emergencial à Igreja naquele país. Como será mantida essa ajuda?

A ACN tem uma relação muito próxima com a Igreja ucraniana há décadas. Isso desde a dissolução da União Soviética e o necessário restauro da Igreja após a queda do Muro de Berlim. Eles são verdadeiramente nossos irmãos e temos muitos projetos no país. Estamos muito preocupados com os desdobramentos da invasão russa e estamos prontos para ajudar a população ucraniana. Quando a guerra começou, a ACN já estava pronta para lançar uma campanha mundial. Agora, continuamos coletando essas doações. Começamos enviando um pacote de emergência de 1,2 milhão de euros, que chegará à Ucrânia nos próximos dias. Com isso, a Igreja que permanece leal a seus fiéis, também em zonas de guerra, pode ter as portas abertas para os atingidos e para manter o seu clero e os programas pastorais. A Igreja ucraniana está sofrendo muito agora com toda essa situação. Embora não se trate de uma guerra religiosa, os cristãos estão sofrendo muito, e nós temos a obrigação de ajudá-los.

Sobre a perseguição aos cristãos pelo mundo, há tempos se verifica a intensificação dessa realidade em regiões como a África Subsaariana. Qual o panorama nessa região?

A maior atenção está naqueles países com grande quantidade de cristãos e que já estão enfrentando algum problema. Falo, por exemplo, da Nigéria, com 180 milhões de habitantes; Burkina Faso, com 40 milhões, por exemplo, que são países com uma grande população cristã que está mais ameaçada em áreas islâmicas. E os radicais per- seguem não só os cristãos, mas outros grupos também. Lá, a Igreja precisa de muita ajuda para cuidar e manter vi- vos os programas pastorais. No Norte da África, os cristãos não são a maio- ria da população, mas estão em grande quantidade, moraram por lá durante séculos em uma convivência pacífica. O problema agora tem sido a atuação dos grupos radicais. Há uma união de interesses econômicos com questões religiosas dos estados islâmicos radicais, sobretudo na península árabe que impacta a vida dos cristãos. Some-se a isso a pobreza da população. Nessa região, a Igreja tem um papel muito importante para criar a estabilidade para todos. Os bispos e religiosos permanecem lá, pois a Igreja não abandona o povo.

Falando da América Latina, antes da vinda ao Brasil o senhor esteve na Colômbia e no México. Quais realidades encontrou?

Na Colômbia, vi projetos impressionantes diante da realidade da pobreza dos refugiados que chegam da Venezuela, da pobreza dos indígenas e das ameaças dos criminosos do tráfico de drogas. Tudo isso está concentrado na Península de La Guajira, na região do norte da Colômbia. A Igreja é heroica e é uma alegria poder ajudar com os nossos projetos. É este mesmo espírito de Igreja que estamos vendo em tantas partes do mundo. Também no México há relatos de muitos sacerdotes que têm sido assassinados por ajudar os fiéis nos bairros com problemas. Conheci um bispo no México que tem recebido ameaças constantes por ter denunciado a corrupção e o comércio de drogas. É algo preocupante.

E em relação ao Chile, onde igrejas foram incendiadas em 2020, tem havido uma efetiva perseguição aos cristãos?

No Chile, de fato, a Igreja foi atacada. Mais de 70 templos foram queimados, uma coisa inconcebível! O problema chileno é complexo. A Igreja, bem como todo o Estado, tem uma dificuldade diante da revolução social ali em curso, e houve essas agressões contra a Igreja Católica. O interessante é que o Estado tolerou essas agressões. Foram totalmente injustas e percebemos também uma conivência com as agressões por parte das tropas oficiais. Isso é algo que nós repudiamos no nosso relatório sobre a liberdade religiosa, pois foi algo que não imaginávamos que pudesse acontecer.

Quais os principais projetos e pontos de atenção da ACN aqui no Brasil?

O Brasil é um dos países que mais recebem ajuda da ACN e um onde há uma maior quantidade de gastos, em razão do tamanho da grande pobreza material dos católicos. A Igreja é pobre, especialmente no Norte, há a realidade da Amazônia e, também, na periferia das grandes cidades. Nesses locais, temos os projetos clássicos da nossa fundação, sobretudo no que se refere à formação e construção de igrejas. Para os benfeitores da Europa, por exemplo, é muito curioso ver barcos transportando bispos da Amazônia para que cheguem mais rápido à população e tenham mais tempo para ficar com seus fiéis.

Um dos relatórios mais recentes da ACN mostra que cerca de 10% dos benfeitores estão no Brasil. Que mensagem o senhor gostaria de deixar para eles?

Quero agradecer a fidelidade de nossos benfeitores brasileiros. São muitos! Em breve, celebraremos o 25o aniversário do nosso escritório no Brasil, e percebo que nossas ações já estão em todo o País. Portanto, muito obrigado, do fundo do meu coração! Continuamos a precisar da ajuda de cada um de vocês. E aos que ainda não são benfeitores da ACN, digo que o mais bonito é a comunhão espiritual de toda a Igreja. Estamos todos os dias, com alegria e esperança, levando a cruz de Nosso Senhor, servindo aos pobres em todo o mundo e mantendo viva a fé. É uma grande felicidade a todos os benfeitores saber que com sua oração e doação podem contribuir para a felicidade dos demais. A ACN é uma grande fonte de amor e, assim, convido todos a participar para que continuemos a ser esta fonte de bem em nossa Igreja. Quem puder, colabore!

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