À espera da vacina contra a COVID-19 para crianças de 6 meses a 3 anos

As crianças menores de 3 anos de idade ficaram por último na fila de vacinação contra a COVID-19, mas a hora de serem imunizadas pode estar próxima: em 16 de setembro, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou que aquelas entre 6 meses e 4 anos de idade podem receber o imunizante da Pfizer. Até agora, doses pediátricas de vacina contra o coronavírus só estavam autorizadas para crianças de 3 a 4 anos, com a Coronavac, e de 5 a 11 anos, com a Pfizer. 

Marcelo Camargo/Agência Brasil

A vacinação das crianças a partir dos 6 meses de vida ainda depende da autorização do Ministério da Saúde. Estava agendada para sexta-feira, 30, uma reunião do Comitê Técnico Assessor em Imunizações do Programa Nacional de Imunizações (PNI) mas a atividade foi desmarcada pelo Ministério e não há novo prazo para que aconteça. Quando esse Comitê der parecer favorável à vacinação para essa faixa etária, o assunto será encaminhado à Secretaria de Vigilância em Saúde e ao Centro de Operações de Emergência em Saúde Pública do Ministério, para posterior aval do ministro Marcelo Queiroga para que, assim, os estados iniciem a vacinação. 

É SEGURA E EFICAZ? 

A autorização feita pela Anvisa no dia 16 ocorreu após concluir que a vacina é segura e eficaz para essa faixa etária, com base em uma detalhada análise dos dados e estudos clínicos apresentados pela Pfizer. 

Além disso, a Anvisa contou com a consultoria e o acompanhamento de um grupo de especialistas da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e das sociedades brasileiras de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), de Infectologia (SBI), de Imunologia (SBI), de Imunizações (SBIm) e de Pediatria (SBP). 

Em um informativo de 24 de junho, a SBP afirma que “as vacinas Coronavac e Pfizer são seguras para a sua aplicação em crianças e adolescentes. A segurança com o uso dessas vacinas nessa população tem sido demonstrada em estudos pré e pós seu licenciamento. Eventos adversos comuns às vacinas podem ocorrer, como febre, dor local, mal-estar, entre outros; em geral leves e transitórios”. 

No mesmo documento, a entidade pediátrica refutou que a tecnologia usada para a produção da vacina da Pfizer possa causar danos futuros às crianças: “Esta tem sido uma das muitas fake news disseminadas por quem faz esta danosa prática. Não há plausibilidade biológica desse evento, já que o RNA viral [tecnologia usada para produção do imunizante] não tem capacidade de alterar nosso DNA, pois ele não adentra o núcleo das nossas células. Além disso, ele se degrada em poucas horas”. 

Países como Austrália, Canadá e Estados Unidos já aplicam vacinas contra a COVID-19 em crianças a partir dos 6 meses de vida, sendo raros os registros de efeitos colaterais graves. 

DOSAGEM DIFERENCIADA 

A vacina da Pfizer para crianças entre 6 meses e 4 anos de idade terá dosagem diferente daquela utilizada para outras faixas etárias, sendo aplicada em três doses de 0,2mL cada. As duas primeiras serão administradas com o intervalo de três semanas, e a 3º dose ao menos oito semanas após a 2º dose. 

Para diferenciá-la das demais, essa vacina virá em um frasco com a tampa na cor vinho. Para o público de 5 a 11 anos, a cor é laranja, e, para acima de 12 anos, roxa. 

BAIXA ADESÃO À VACINAÇÃO INFANTIL 

Até 16 de setembro, cerca de 9,4 milhões de crianças entre 5 e 11 anos já haviam tomado as duas doses da vacina contra a COVID-19, 35,86% da população brasileira nesta faixa etária. 

No estado de São Paulo, até o dia 21, cerca de 71% desse público já estava com o esquema vacinal completo, sendo que na capital paulista o percentual era de 78,66%, ou seja, 852 mil crianças de 5 a 11 já tinham tomado a 2º dose. 

Entretanto, para as crianças de 3 a 4 anos, cuja vacinação começou em julho para as com comorbidades, deficiência permanente e indígenas, e um mês depois, em 20 de agosto, para todas nessa faixa etária, 28,22% (88 mil crianças) haviam tomado a 1º dose até o dia 21, mas somente 2,76% (8.599) receberam a 2º dose. 

A VACINA SALVA VIDAS 

“Vacinar as crianças é fundamental para protegê-las e para proteger o seu entorno, pois elas acabam funcionando como um vetor de transmissão, já que ficaram por último na fila da vacinação. Vaciná-las, agora, portanto, tem o objetivo de fechar este ciclo de vacinação da população contra um vírus que afeta humanos e que não escolhe faixa etária”, explicou ao O SÃO PAULO o infectologista Jamal Suleiman, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas (IIER), destacando, ainda, que “a função da vacina é a de proteger os indivíduos das formas graves da doença”. 

De acordo com um levantamento do Observatório da Primeira Infância, desde o início da pandemia morreram por dia, em média no Brasil, duas crianças menores de 5 anos em decorrência da COVID-19. Segundo dados do Ministério da Saúde, entre janeiro e 10 de setembro deste ano, 439 crianças até 5 anos faleceram no País por complicações da doença. 

“De maneira geral, as crianças com COVID-19 apresentam uma síndrome gripal, mas se deve considerar que essa situação traz uma angústia muito grande para os pais, pois o caminho que essa criança vai ter de percorrer com o vírus é absolutamente escuro, não se sabe para que lado a infecção a conduzirá. Com a criança vacinada, essa angústia é menor, pois é ínfima a probabilidade de um vacinado evoluir para uma forma grave da doença”, assegurou o infectologista. 

INFORMAÇÃO E PLANEJAMENTO 

Suleiman defende que haja “uma campanha maciça de divulgação para mostrar aos pais e responsáveis que o fato de a vacinação ser em mais de uma dose não deve ser impeditivo para que levem as crianças para ser vacinadas”. 

Por e-mail, a reportagem questionou a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) de São Paulo sobre como estão os preparativos para a campanha de vacinação contra a COVID-19 para a nova faixa etária, tão logo haja a autorização do Ministério da Saúde. A Secretaria informou que segue as diretrizes e recomendações dos Programas Nacional e Estadual de Imunizações e que, “com relação à vacinação contra a COVID-19 para crianças a partir de 6 meses, a SMS está com as equipes treinadas e possui insumos suficientes para dar início a essa nova fase da campanha, aguardando apenas a inclusão no calendário e o recebimento das doses por parte do Ministério da Saúde (MS)”. 

A secretaria, porém, não respondeu a outros questionamentos, entre os quais se a vacinação se dará nos mesmos locais onde são aplicadas vacinas às demais faixas etárias; se pretende realizar mutirões de vacinação; se crianças com doses em atraso para outras doenças poderão ser imunizadas contra a COVID-19; e como pretende informar a população a respeito das peculiaridades dessa vacina da Pfizer, entre as quais a que deve ser aplicada em três doses e não em duas como as demais adotadas até o momento para as crianças de 3 a 11 anos. 

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