À luz da fé cristã, CF 2022 propõe diálogos sobre a realidade educativa

Divulgação CNBB

Na Quarta-feira de Cinzas, 2 de março, começa a Quaresma, tempo litúrgico de preparação para a celebração da Páscoa. Há 60 anos, a Igreja no Brasil realiza neste período a Campanha da Fraternidade (CF), como convite aos cristãos para refletirem sobre as realidades da sociedade que necessitam de atenção especial e de ações concretas na perspectiva da caridade. 

Em 2022, a CF terá como tema “Fraternidade e Educação”, e como lema “Fala com sabedoria, ensina com amor” (Pr 31,26). Essa campanha tem, portanto, o objetivo geral de promover diálogos a partir da realidade educativa do Brasil, à luz da fé cristã, propondo caminhos em favor do humanismo integral e solidário. Já os sete objetivos específicos são: analisar o contexto da Educação na cultura atual e seus desafios potencializados pela pandemia; verificar o impacto das políticas públicas na Educação; identificar valores e referências da Palavra de Deus e da Tradição cristã, em vista de uma Educação “humanizadora” na perspectiva do Reino de Deus.

A campanha também visa a refletir sobre o papel da família, da comunidade de fé e da sociedade no processo educativo, com a colaboração dos educadores e das instituições de ensino; incentivar propostas educativas que, enraizadas no Evangelho, promovam a dignidade humana, a experiência do transcendente, a cultura do encontro e o cuidado da criação.

De igual modo, a CF pretende estimular a organização do serviço pastoral nas escolas, universidades, centros comunitários e outros espaços educativos, em especial das instituições católicas de ensino; e promover “uma Educação comprometida com novas formas de economia, de política e de progresso verdadeiramente a serviço da vida humana, em especial, dos mais pobres”.

PACTO EDUCATIVO GLOBAL

A temática da CF 2022 está em sintonia com o Pacto Educativo Global, iniciativa proposta pelo Papa Francisco em 2020, a partir de sete compromissos: colocar a pessoa no centro de cada processo educativo; ouvir a voz das crianças, adolescentes e jovens a quem são transmitidos valores e conhecimentos; favorecer a plena participação das meninas e adolescentes na instrução [reconhecendo que há nações onde as meninas são privadas ao acesso à educação formal]; ver na família o primeiro e indispensável sujeito educador; educar e educar-se para o acolhimento, abrindo- -se aos mais vulneráveis e marginalizados; encontrar outras formas de compreender a economia, a política, o crescimento e o progresso; e guardar e cultivar a “casa comum”, protegendo-a da exploração dos seus recursos. 

“No atual contexto profundamente marcado por contrastes sociais e sem uma visão comum, é urgente uma mudança de rumo que só será possível por meio de uma educação integral e inclusiva, capaz de uma escuta paciente e de um diálogo construtivo no qual a unidade supere o conflito”, ressalta o texto-base da CF 2022, referindo-se ao Pacto Educativo Global. 

LIÇÕES DA PANDEMIA

Ao abordar o impacto da pandemia de COVID-19 na Educação, o texto-base enfatiza as consequências do confinamento para os estudantes, não só em relação ao seu desempenho acadêmico e impactos psicológicos, como também ao evidenciar as desigualdades existentes para o acesso às aulas remotas, tanto por parte de alunos quanto de professores.

Em contrapartida, a pandemia estimulou o desenvolvimento de novas metodologias e tecnologias educacionais com as aulas on-line e o crescimento da educação a distância (EaD).

EDUCAÇÃO CRISTÃ

O material da CF também recorda que toda proposta educativa traz, de forma subjacente, uma concepção do ser humano, da cultura, da sociedade e da história, ou seja, “a cada pedagogia corresponde uma antropologia”.

Nesse sentido, o documento sublinha que a Educação que parte de uma Antropologia cristã também considera o fim último da pessoa: conhecer e amar a Deus no tempo e na eternidade, e os irmãos por meio da fraternidade. “A Educação não é só integral no sentido temporal, mas eterno. Ela deve conduzir a pessoa a desenvolver suas capacidades em vista do amor a Deus e ao próximo (Mt 22,37-39), sem descuidar da promoção da vida e da dignidade humana, no horizonte da salvação”, diz o texto.

PASTORAL

Ao tratar da cultura do encontro, o texto-base sublinha o papel da Pastoral da Educação nas dioceses, chamadas a voltar seu olhar para a educação pública. “Atenção, sensibilidade e apoio serão fundamentais, se quisermos ser presença apostólica neste vasto campo, de mais de 42 milhões de estudantes em escolas de educação básica e nas universidades. É necessário apoiar e promover a Pastoral da Educação”, destaca o documento.

Sobre a formação dos profissionais da Educação, o subsídio da CF 2022 incentiva a criação de parcerias com as instituições de ensino superior que possuem cursos de licenciatura e formação de professores para a inclusão de projetos de extensão para professores. O texto também motiva o apoio à formação continuada dos educadores a partir das propostas do Pacto Educativo Global, envolvendo as secretarias municipais e estaduais da Educação, redes de educação confessional e movimentos de educação comunitária, entre outras iniciativas.

ENSINO RELIGIOSO

Quanto ao Ensino Religioso nas escolas, o texto-base recorda que esse tema é contemplado no artigo 210 da Constituição federal e é um componente da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) no ensino fundamental.

O subsídio ainda menciona a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), que diz: “O Ensino Religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da formação básica do cidadão e constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo”.

O texto-base também ressalta que o Acordo Brasil-Santa Sé assegura o Ensino Religioso Católico e de outras confissões religiosas, portanto, podendo haver um modelo “não confessional” e outro confessional, “este segundo os referenciais teológicos da sua tradição religiosa, assegurando a liberdade religiosa”.

“Sabemos que os países que se desenvolveram mais rapidamente nos últimos 20 anos foram aqueles que investiram na Educação. Essa é a proposta que a Campanha da Fraternidade 2022 nos faz, para olharmos para a Educação, pois todos os entes da sociedade têm uma parcela de responsabilidade para promovê-la”, sublinhou Dom Carlos Lema Garcia, Bispo Auxiliar de São Paulo e Vigário Episcopal para a Educação e a Universidade, ao apresentar o texto- -base da CF 2022, em um seminário de estudos sobre a temática, realizado em novembro de 2021.

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