A vida da Beata Nhá Chica sob o olhar da fé de um jornalista

Jornalista Márcio Campos é autor do livro “Beata Nhá Chica O Milagre da ‘Santa’ Brasileira”, uma biografia sobre a religiosa mineira

COLABORAÇÃO DE CLEIDE BARBOSA

Fotos: Luciney Martins /O SÃO PAULO

Uma história de fé e devoção nascida no encontro de um jornalista com a vida da Bem-Aventurada Francisca de Paula de Jesus é o que retrata o livro “Beata Nhá Chica – O Milagre da ‘Santa’ Brasileira”, de Márcio Campos, publicado pela editora Angelus.

Em entrevista ao programa “Entre Agendas”, da rádio 9 de Julho, o jornalista do Grupo Bandeirantes de Comunicação contou as motivações que o levaram a escrever a obra sobre a mineira nascida em 1808 e que morreu em 1897, sendo beati- ficada em 2013.

“Mais do que um testemunho de fé, o livro é o agradecimento por uma graça alcançada. É o instrumento para tornar Nhá Chica mais conhecida. Porém, como jornalista, eu jamais poderia me eximir da responsabilidade de tratar tudo isso com muita ética e respeito ao trato jornalístico. Por isso, o livro tem pesquisa e reportagem também”, contou. “Francisca de Paula de Jesus nasceu na região do Rio das Mortes, hoje, São João Del Rey. Quando criança, mudou-se com a mãe para Baependi. Sua mãe era uma mulher escravizada, sua avó veio da África como escrava. A partir de um certo momento, ainda criança, decidiu viver a vida dedicada a Deus. Muitas pessoas iam até Francisca pedir orações e muitas delas ligadas ao império, à corte no Rio de Janeiro. Era impressionante quantas pessoas representativas da Coroa iam não só pedir orações a Nhá Chica como também conselhos. É inacreditável como as pessoas confiavam em sua palavra, sempre dita depois de ela conversar com a ‘minha Sinhá’, como ela tratava a Imaculada Conceição.”

“Minha família já conhecia sua fama, pois somos das cidades dessa região. Meus pais se casaram na ‘Igreja de Nhá Chica’, como ficou conhecida a Igreja da Imaculada Conceição, em Baependi. Portanto, eu já tenho relação com ela antes mesmo de nascer. Durante toda a minha infância, já morando em Cruzeiro (SP), sempre que visitávamos os parentes, era sagrado parar em Baependi e rezar diante do túmulo da Nhá Chica. Eu aprendi a conhecer e a dar muito valor a essa mulher”, recordou Campos.

MULHER DE VIRTUDES

“Nhá Chica deu um exemplo de oração e fidelidade a Deus, mas também de relação humana. Essa mulher tinha tudo para ser revoltadíssima pela história da sua avó e da sua mãe, de nascer sob a escravatura e de nem saber quem era o seu pai… em um contexto conturbado da disputa do império com a república. Então, olhamos para uma mulher que viveu as principais virtudes [heroicas], sobretudo o perdão”, avaliou.

“Nhá Chica contribuiu e contribui demais para o fortalecimento da fé católica naquela região. Ao ser reconhecida bem-aventurada e futuramente canonizada, ela tem a possibilidade de influenciar muitas pessoas. Nhá Chica merece todo o reconhecimento da Igreja pelo que ela já fez e continua fazendo com seu exemplo”, prosseguiu.

Luciney Martins /O SÃO PAULO

O ‘MILAGRE’

A motivação central do livro é o período em que a esposa de Campos, Verônica, foi acometida por uma doença muito rara e os médicos não conseguiam chegar a um diagnóstico preciso.

“Todos os dias, eu ia à Igreja próxima ao hospital para participar da missa e rezar. No 11º dia de internação da Verônica, eu disse em oração para a Nhá Chica que não estava pedindo que ela fosse curada, mas que ajudasse os médicos a descobrir o que ela realmente tinha… Eu entendia que, descobrindo a doença, seria possível saber que tratamento pode ser feito… Ao voltar para o hospital, a Verônica me contou que havia entrado uma médica que pediu todos os exames, pois desconfiava do diagnóstico… Então, a médica pediu um exame específico e, dois dias depois, descobriu-se a doença, ou seja, o diagnóstico perfeito que eu tanto pedi a Nhá Chica… Ela foi tratada e, graças a Deus e à intercessão de Nhá Chica, minha esposa está em nosso meio.”

O livro também conta o episódio do encontro do jornalista com o Papa Francisco, como integrante da comitiva de imprensa que acompanhou a viagem do Pontífice na visita ao Brasil em 2013, para a Jornada Mundial da Juventude. Na ocasião, durante a coletiva que o Santo Padre concedeu aos jornalistas a bordo do voo papal, Campos saudou Francisco e entregou a ele uma relíquia de Nhá Chica. Nesse capítulo, há, inclusive, um QR Code que permite que o leitor acesse o vídeo do encontro de Campos com Francisco.

Além disso, a obra conta com textos colaborativos de personalidades convidadas pelo autor, que fazem uma análise da postura do jornalista diante do Papa Francisco. Entre esses, está o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo.

A MEDALHA

O livro também aprofunda histórias já conhecidas sobre a Beata Nhá Chica, que foram enriquecidas com uma cuidadosa apuração jornalística.

Uma dessas histórias bastante conhecidas é a do encontro de um fazendeiro com a Bem-Aventurada, que havia perdido um cavalo e recorreu a ela, que era conhecida pelo dom de ajudar as pessoas a encontrarem animais e coisas perdidas. No entanto, mais do que simplesmente indicar o paradeiro do animal, Nhá Chica lhe disse que mais importante “era a menina que havia chegado em sua casa”. Tratava-se da filha do fazendeiro que acabara de nascer. Como agradecimento, o homem convidou a Beata para ser a madrinha da criança. Ela porém, recusou, pois havia feito a promessa à sua mãe de “não ser comadre de ninguém”, o que significava que ela se dedicaria inteiramente à oração. Ela, então, entregou ao fazendeiro uma medalha de sua “Sinhá”, a Imaculada Conceição. O homem voltou para casa, encontrou a filha como havia sido descrito por Nhá Chica e lhe deu o nome de Maria da Conceição.

Luciney Martins /O SÃO PAULO

“Essa história é contada em todos os livros sobre Nhá Chica, mas acaba por aí. Eu fiquei com isso na cabeça, querendo saber onde estava a medalha. Onde está a família? Então, comecei a pesquisar sobre essa história”, contou Campos, que não só encontrou a neta e a bisneta da Maria da Conceição como, 135 anos depois, mostraram-lhe a medalha preservada. A família mantinha a medalha escondida para evitar que sua casa virasse um local de peregrinação de fiéis que a consideram um objeto sagrado. Tanto que nem os membros da comissão vaticana que veio ao Brasil por ocasião da beatificação puderam ver a medalha, pois a família temia perder essa importante relíquia.

“Foi uma experiência muito emocionante poder tocar essa medalha, pois a considero como a única prova material de um feito sobrenatural de Nhá Chica”, afirmou Campos. Durante esse encontro, as descendentes da Maria da Conceição pediram ao jornalista que fosse portador de uma notícia: “Quando Nhá Chica for canonizada, a medalha será entregue no santuário de Baependi”.

Por fim, o jornalista reforçou que seu principal objetivo é ser um portador da devoção e do exemplo dessa mulher genuinamente brasileira que viveu a santidade de forma heroica. Meu maior desejo é que as pessoas se sintam inspiradas em conhecer mais a Nhá Chica. Eu seria muito egoísta se passasse por tudo isso sem dividir com as pessoas.

Ouça a íntegra da entrevista

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Laurete Godoy
Laurete Godoy
1 ano atrás

A seriedade, competência e profissionalismo de Márcio Campos, colocam-no em um lugar de honra dentro dos meios de comunicação. Conheço Nhá Chica desde 1967 , já estive em Baependi e acho linda a maneira Dela se referir à “Sua Sinhá”. Parabéns, Marcio, por compartilhar essa vivência maravilhosa. Não importa o rótulo da doutrina, importa o fato comprovado, a verdade é a fé. AMO VOCÊ.

Laurete Godoy
Laurete Godoy
1 ano atrás

Meu caro Márcio, por ser uma senhora
octogenária, digo que AMO VOCÊ, com uma tranquilidade imensa. Você é excelente! Passei agradáveis momentos pesquisando em Cruzeiro, cidade que foi muito importante durante a Revolução Constitucionalista… Um carinhoso abraço, com votos de continuidade de êxito para seu excelente trabalho. VIVA NHÁ CHICA!