No Jardim Limoeiro, Dom Odilo abençoa a Capela Santa Rita de Cássia

‘Somos uma Igreja viva, presente em todos os espaços da cidade’, disse o Arcebispo na missa em que abençoou o templo localizado no extremo da Zona Leste de São Paulo

Luciney Martins/O SÃO PAULO

Depois de quatro décadas, o sonho da comunidade de fiéis virou realidade: na noite do domingo, 21, a Capela Santa Rita de Cássia, criada em 1980, no bairro Jardim Limoeiro, no extremo da zona Leste, foi consagrada a Deus.

E foi uma trajetória marcada por muita oração, novenas, quermesses e a colaboração de sacerdotes que por lá passaram e dos fiéis que perseveraram para a construção de um espaço sagrado para as celebrações, já que no início da comunidade elas aconteciam nas garagens das casas das famílias e, depois, em um salão comunitário, construído com a ajuda dos próprios membros.

Na véspera da memória litúrgica da padroeira da Capela Santa Rita de Cássia, no Setor Pastoral São Mateus, Região Episcopal Belém, no domingo, 21, o Cardeal Odilo Pedro Scherer presidiu a Eucaristia no templo, abençoando o ambão, as paredes, o altar e o sacrário. Entre os concelebrantes, estiveram o Pároco, Padre Elson Paulo Correia Lopes, 33, da Congregação dos Missionários do Espírito Santo (Espiritanos), e os Padres Konrad Korner, Jorge Boran, John Horan e Everton Augusto de Sousa.

Também participaram representantes seis comunidades da Paróquia Santa Teresa de Calcutá, criada na Arquidiocese em 2021, da qual a Capela faz parte.

COMUNIDADE UNIDA

No começo da missa, foi recordada a história da Capela, iniciada em 1980, com o Padre Hugo de Black, da Congregação dos Missionários do Espírito Santo, das consagradas da Congregação do Rosário e quatro leigos que começaram a visitar as famílias do bairro recém-formado.

Em 1982, tiveram início os trabalhos das pastorais sociais, com distribuição de alimentos, iniciativas de alfabetização (Mova), clube de mães, formação de corte e costura, grupo de Catequese e as celebrações eucarísticas que aconteciam nas casas ou em missas campais.

A construção do salão comunitário começou em 1983, com a participação de voluntários e graças à doação de material de construção feita pelos moradores. Com o salão pronto em menos de um ano, ali a comunidade passou a se reunir para rezar, celebrar casamentos, batizados e velórios.

Após um período de reformas, o antigo salão deu espaço a um belo espaço celebrativo da capela; no andar de baixo está a casa onde três freiras da Congregação do Espírito Santo vão residir e somar forças na missão; e no andar mais abaixo, o salão da comunidade, local para as festividades e encontros comunitários.

UNIÃO DA COMUNIDADE

Padre Elson ressaltou ao O SÃO PAULO que a união da comunidade, o esforço dos missionários e dos paroquianos foi fundamental para que a Capela Santa Rita de Cássia pudesse viver esse momento de bênção.

“Estamos situados em um bairro dormitório, em que as pessoas saem de casa às 4h para trabalhar no centro e em bairros distantes e só retornam após as 20h, uma jornada cansativa e desgastante. Estamos ladeados por uma realidade de extrema pobreza, violência, ocupações e invasões, sem saneamento básico e tantas dificuldades. Mas a fé predomina e anima esse povo batalhador”, disse, ao recordar a história da comunidade.

“Deixei meu país, Cabo Verde, para ser missionário, para servir e estar no meio do povo. A trajetória desta paróquia revela a dimensão do infinito amor de Deus por nós e confirma minha vocação e o pedido de Jesus ‘Ide e anunciai’”, afirmou o Pároco.

Entre os desafios pastorais, o Padre sublinhou a necessidade de ir ao encontro das pessoas que estão afastadas da vida eclesial, de modo particular as famílias que chegam ao bairro, nas várias ocupações existentes, onde, no futuro, poderão surgir novas comunidades.

O Sacerdote ressaltou a dinamicidade pastoral da comunidade paroquial: “Nossa Paróquia é viva e cercada de pessoas generosas. Uma característica desde a fundação da Capela é a Pastoral Social que distribui, atualmente, mais de 200 cestas básicas mensais. Também oferece cursos de capacitação aos jovens, às mulheres e famílias, sem contar as demais pastorais”.

“Vi aqui acontecer o milagre da partilha, da colaboração, da confiança, da generosidade e da ajuda mútua. Esse sonho só se tornou realidade com o apoio de todos”, finalizou o Padre.

COMUNIDADE EM SAÍDA

Na homilia da missa, Dom Odilo agradeceu o empenho missionário do Padre Elson e dos sacerdotes que o antecederam, e de toda a comunidade que não mediu esforços na reforma e na construção do espaço celebrativo da Capela.

O Arcebispo ressaltou que o lugar da Capela revela o espaço de encontro e celebração. “Esta Capela é lugar de oração. Revela o testemunho da fé, da vida doada, e do compromisso com o anúncio do Evangelho”, falou.

Dom Odilo mencionou que um dos apelos do sínodo arquidiocesano é mostrar ao mundo o rosto da Igreja em saída. “Somos uma igreja viva, presente em todos os espaços da cidade. Sejamos testemunhas vivas de Cristo, anunciemos sem medo a Palavra de Deus”, sublinhou, lembrando, ainda, que a comunidade eclesial é o lugar em que a Igreja se manifesta e age na realidade concreta da vida das pessoas.

SER IGREJA

Mercês Anunciação Pereira, 71, é uma das fundadoras da comunidade. Emocionada, ela contou à reportagem as lutas, dificuldades e alegrias da trajetória para o fortalecimento e concretização do sonho do espaço litúrgico. “A fé permaneceu viva mesmo quando tudo parecia impossível”, assegurou. “Não foi fácil. Muitas vezes, perdíamos até a esperança de conseguir, mas, com coragem, nunca desistimos e, hoje estamos nesse espaço reformado, bonito e orante”, concluiu.

Vanilda Anunciação, 45, participa da comunidade desde os quatro anos de idade. “Lembro-me de pequena vir às missas, fiz a Catequese no salão comunitário. Vi a luta dos meus pais e de todos os membros para a construção desse espaço e não há como não lembrar como era antes. Vejo a providência de Deus agindo ao adentrar este local abençoado. Sou feliz em ser parte desta igreja”, disse.

PADROEIRA: SANTA DOS IMPOSSÍVEIS

Francisca das Chagas Gomes Viana, 44, é catequista e recordou que a escolha da padroeira se deu pela história da Santa e pela realidade que circunda o bairro.

“Santa Rita é aclamada como a Santa das causas impossíveis. Mulher e mãe exemplar, monja beneditina, ela pediu a Cristo para poder compartilhar dos seus padecimentos. Sua vida se assemelha à realidade da nossa comunidade. Em muitos casos, à nossa volta tudo parece ser impossível de solucionar, mas, com fé, com Deus e devoção à padroeira, superamos muitos impossíveis para chegar até aqui”, contou.

BÊNÇÃO DA CASA DAS IRMÃS

Após a celebração, Dom Odilo abençoou o espaço onde as freiras Espiritanas vão residir. Irmã Laly Nieto é natural da Espanha e exerce a função de Superiora da Congregação no Brasil. Ela destacou que a nova casa será um centro de apoio às ações pastorais da comunidade.

“Sempre é uma alegria expandir nossos centros de missão e, de modo especial, neste local propício para a evangelização”, mencionou.

O Cardeal Scherer desejou às religiosas êxito na missão: “Sejam fecundas na missão de anunciar o Evangelho a esse povo”.

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