Ceama estuda a elaboração de plano pastoral de conjunto para a Igreja na Amazônia

Fotos: Luciney Martins/O SÃO PAULO

A Conferência Eclesial da Amazônia (Ceama) realizou, entre os dias 12 e 14, a primeira assembleia plenária após seu reconhecimento canônico pelo Papa Francisco, em outubro. Criado em junho de 2020, esse organismo tem por missão promover a ação pastoral e evangelizadora da Igreja na região amazônica.

O evento reuniu no Centro de Espiritualidade Flos Carmeli, em Mairiporã (SP), membros do Conselho Episcopal Latino -Americano (Celam), da Confederação Latino-Americana e Caribenha de Religiosos e Religiosas (Clar), da Cáritas e da Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam), representantes dos povos amazônicos e membros da Ceama. Além disso, outras cerca de 300 pessoas participaram da atividade na modalidade on-line.

Devido a um tratamento de saúde, o Presidente do organismo, Cardeal Cláudio Hummes, Arcebispo Emérito de São Paulo, acompanhou a assembleia virtualmente e esteve presente na sua conclusão. O Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo e 1º Vice-Presidente do Celam, participou do último dia do encontro.

FRUTO DO SÍNODO

A Ceama é fruto da Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Amazônia, realizada em 2019, no Vaticano. Na ocasião, foi proposta a criação de um organismo “permanente e representativo para promover a sinodalidade na região amazônica”, que tem uma extensão de 7,8 milhões de km2 , incluindo áreas do Brasil, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa.

A missão da Ceama também se pauta nos quatro “sonhos” – social, cultural, ecológico e eclesial – expressos pelo Papa Francisco na exortação apostólica pós-sinodal Querida Amazonia (2020).

O Cardeal Hummes definiu a Ceama como “uma instituição pastoral e missionária, constituída não somente de bispos, mas também de representantes das demais categorias do povo de Deus”.

CAMINHAR JUNTOS

Nesse sentido, a conferência eclesial não tem o objetivo de ser uma estrutura que suplante o papel das conferências episcopais nacionais, tampouco a autonomia dos bispos nas respectivas circunscrições eclesiásticas que compreendem o território amazônico, mas promover a comunhão e a participação para uma ação evangelizadora em comum.

“É fundamental que continuemos trabalhando em rede, juntos. Sabemos que isso é exigente. Parece mais fácil planejar e trabalhar isoladamente em nossas próprias comunidades. Mas uma Igreja sinodal ‘em saída’ nos chama a não nos dispersarmos. Sínodo significa ‘caminhar juntos’, respeitando nossas diferenças”, enfatizou Dom Cláudio, no discurso feito virtualmente na abertura da assembleia.

PASTORAL DE CONJUNTO

Essa assembleia teve como objetivos refletir sobre a conjuntura política, socioambiental e eclesial do território amazônico a partir de sua realidade regional e global. Foram apresentados, ainda, os trabalhos de desenvolvimento dos vários núcleos temáticos da ação da Igreja na Amazônia, como a educação, os direitos humanos dos povos amazônicos, a reflexão teológica e pastoral, entre outros.

Também teve destaque na assembleia a apresentação de uma proposta metodológica para a construção de um plano pastoral de conjunto, a fim de manter vivo o processo eclesial iniciado pelo Sínodo de 2019.

O Secretário-executivo do Ceama, Padre Alfredo Ferro, explicou ao O SÃO PAULO que o plano pastoral de conjunto não pode ser construído de baixo para cima, mas precisa ser fruto de um caminho conjunto.

“Algo que ficou muito claro nesta assembleia é que temos que construir o plano a partir das pastorais, das práticas e da realidade concreta da Igreja nas várias comunidades, a partir do grito e das vozes dos povos amazônicos. É, portanto, uma construção de baixo para cima. Por isso, é necessário tempo, escuta, discernimento”, acrescentou o Secretário, estimando que o processo de elaboração do plano levará o mínimo de dois a três anos.

PRIMEIROS PASSOS

O Cardeal Scherer ressaltou à reportagem que a Ceama é um organismo novo que, embora já tenha sido reconhecido pelo Papa, precisa ter seu estatuto aprovado pela Santa Sé para que possa definir com clareza sua missão e identidade específica, assim como suas relações com os outros organismos eclesiais já existentes na Amazônia, como as conferências episcopais nacionais.

“Certamente, há algo novo surgindo. Esse novo, porém, ainda está tomando corpo e se definindo. É grande o apelo por um trabalho em uma linha sinodal na grande Amazônia diante dos desafios e da missão comum da Igreja em relação a todo aquele conjunto de realidades dos povos amazônicos. Há, portanto, muita esperança”, afirmou Dom Odilo.

GRATIDÃO AO CARDEAL HUMMES

Luciney Martins/O SÃO PAULO

No último dia da assembleia, houve uma homenagem ao Cardeal Hummes por sua dedicação e atenção pastoral à Igreja na Amazônia.

Durante a reunião de avaliação da assembleia, os participantes receberam uma visita surpresa do Cardeal Raymundo Damasceno Assis, Arcebispo Emérito de Aparecida (SP), que estava de passagem pelo local do evento. Dom Raymundo saudou Dom Cláudio e recordou aos presentes que foi ele quem convidou o Cardeal Hummes para presidir a Comissão Episcopal para a Amazônia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, em 2011.

“Eu havia acabado de retornar de Roma, quando deixei o cargo de Prefeito da Congregação para o Clero, quando recebi o telefonema de Dom Raymundo me perguntando se eu gostaria de presidir a Comissão para a Amazônia. Eu prontamente respondi que sim”, relatou Dom Cláudio, recordando que ser missionário na Amazônia era um sonho cultivado em sua juventude como frade franciscano, mas Deus e a Igreja o chamaram para outras missões.

DOM PARA A IGREJA

Foi a partir do trabalho em nome da CNBB que o Arcebispo Emérito de São Paulo conheceu de perto a realidade amazônica. Em 2014, ajudou a criar a Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam), da qual foi o primeiro presidente. Em seguida, foi relator-geral do Sínodo para a Amazônia e, agora, aos 87 anos, preside a Ceama.

“É difícil expressar em palavras os sentimentos pela Amazônia. Agradeço muito todo o carinho e creio que podemos continuar a nos dedicar totalmente a essa vocação que o Papa nos confirmou: trabalhar para a evangelização na Amazônia. Sou muito feliz com a Ceama. É um dom de Deus para a Igreja e para o povo”, manifestou Dom Cláudio.

A assembleia foi concluída com uma missa em ação de graças pela aprovação canônica da Ceama e pelo caminho percorrido pelo organismo eclesial.

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