Com a Palavra, Dom Odilo: Praedicate Evangelium desencadeia um processo de renovação na Igreja 

Luciney Martins/O SÃO PAULO

Em entrevista ao O SÃO PAULO, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo, falou sobre a participação no consistório para a criação de novos cardeais e o encontro do Papa com o Colégio Cardinalício para tratar do documento que sistematiza a reforma da Cúria Romana. Confira: 

O SÃO PAULO – Como foi voltar a participar de um consistório ordinário público de forma presencial? 
Cardeal Odilo Scherer – Foi um momento bom de reencontro com o Papa e dos cardeais entre si, depois de quase três anos que isso não acontecia. Muitos cardeais destacaram isso. 

Muitas vezes, a criação dos cardeais é resumida pela opinião pública à escolha dos eleitores de um eventual conclave. Mas a missão dos cardeais vai muito além, certo? 
O Papa escolhe cardeais com regularidade para manter o número de “cardeais eleitores”, com menos de 80 anos de idade, sempre em torno do total de 120. Desta vez até superou um pouco os 130, mas esse número abaixa logo, pois há diversos cardeais chegando aos 80 anos de idade. Mas os cardeais não são escolhidos apenas para participar de um eventual conclave: eles são conselheiros do Papa e participam de um ou mais dicastérios da Cúria da Santa Sé, cada um dando a sua colaboração para o serviço do Papa em relação a toda a Igreja. 

Nesse contexto, especulou-se muito sobre a saúde do Papa Francisco e a continuidade de seu pontificado. Como, de fato, está o Santo Padre? 
Diversas especulações sobre a saúde do Papa foram feitas nesses dias, mas o Papa está bem; unicamente, ele possui dificuldades para caminhar, por causa de um problema no joelho. Por isso, ele se locomove em cadeira de rodas, como se tem visto em transmissões pela TV. Mas isso não lhe impede de seguir trabalhando. Ele está bem-disposto e de muito bom humor. 

O que o senhor destaca da reunião dos cardeais com o Papa para tratar da reforma da Cúria Romana? 
Depois do consistório público, no sábado, 27 de agosto, para a criação de novos cardeais, aconteceu o consistório reservado, somente do Papa com os cardeais. Durante dois dias, tratamos da aplicação da constituição apostólica Praedicate Evangelium, sobre a reforma da Cúria da Santa Sé. A Cúria é o órgão de governo do Papa em relação a toda a Igreja e os diversos dicastérios são serviços do Papa em relação à Igreja inteira. Os cardeais refletiram sobre os diversos aspectos dessa reforma e suas implicações para as Igrejas particulares, sobretudo para as conferências episcopais e as dioceses. O Documento do Papa, com certeza, vai desencadeando um processo de renovação na Igreja, cujos frutos vão aparecer com o decorrer do tempo. 

Por que reformar a Cúria? 
Essa reforma precisa ser vista como parte da normalidade da vida da Igreja. Como organismo de serviço, a Cúria precisa estar no compasso do tempo e das circunstâncias, adequar-se às prioridades, que podem ser diversas de tempos em tempos. Além disso, as reformas são boas ocasiões para remotivar um organismo, para que funcione com novo espírito e novas motivações. 

Em breve, o senhor e outros bispos do estado de São Paulo retornarão a Roma para a visita ad limina apostolorum. Pode explicar o que ela significa? 
São as visitas que os bispos de todo o mundo devem fazer ao Papa e aos diversos organismos da Cúria para apresentar seus relatórios sobre a situação de cada diocese, para ouvir e intercambiar com os colaboradores do Papa sobre as diversas dimensões da vida e da missão da Igreja, que acontecem no âmbito de uma diocese. E, é claro, em cada visita há um bom encontro de diálogo com o Papa. O costume das visitas ad limina tem origem apostólica. Lemos nos Atos dos Apóstolos que Paulo e seus companheiros foram a Jerusalém para falar com Pedro, Tiago e João, e para ouvi-los, para ver se o Evangelho pregado por eles era o mesmo de Pedro, Tiago e João. Nas visitas ad limina, acontece isso ainda hoje. 

No fim desta semana, o senhor ainda participará dos últimos dias da Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)? O que destaca desse evento? 
Terminado o consistório, retornarei a São Paulo e ainda quero pegar um pouco da Assembleia Geral da CNBB, em Aparecida. É bom rever os bispos de todo o Brasil reunidos. Por outro lado, a assembleia vota questões importantes, que requerem a presença dos bispos, na medida do possível. 

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