Congresso teológico pastoral destaca o amor familiar como vocação e caminho de santidade

DANIEL GOMES E FERNANDO GERONAZZO

Durante as atividades do X Encontro Mundial das Famílias, em Roma, os cerca de 2 mil delegados, de 120 países, participaram do congresso teológico pastoral entre os dias 23 e 25, composto por cinco conferências e dez painéis, com relatos e testemunhos acerca dos desafios atuais das famílias e oportunidades para a evangelização. 

Fotos: Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida

Na abertura dos trabalhos, o Cardeal Kevin Joseph Farell, Prefeito do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, lembrou que os temas tratados são os que se mostraram mais urgentes em muitas dioceses em relação à pastoral familiar e matrimonial, e que o propósito do congresso é “estabelecer, juntos, uma atitude adequa- da de acompanhamento pastoral que, como nos mostra o Santo Padre na Amoris laetitia, deve saber partir sempre de que a família é um lugar de acolhida e de amor”. 

Apresentamos a seguir uma síntese das cinco conferências e alguns dos apontamentos dos participantes dos painéis temáticos. 

IGREJA DOMÉSTICA E SINODALIDADE 

Este foi o tema tratado na primeira conferência, pelo casal Gregory e Lisa Popcak (foto acima), dos Estados Unidos. Criadores do Instituto Peyton Family e da plataforma CatholicHOM.com, eles ressaltaram que a santidade é algo tangível a todas as famílias, embora nem sempre elas encontrem os devidos instrumentais para isso. 

Ao recordarem um simpósio realizado pelo Instituto Peyton Family, em 2019, Gregory e Lisa apresentaram uma definição sobre o que vem a ser a Igreja doméstica: uma família de pessoas unidas que compartilham o sacramento da vida; e que têm uma vida de prática cristã e de amor trinitário nas suas relações uns com os outros e com o mundo. 

O casal também falou sobre a “Liturgia da Vida da Igreja Doméstica”, alicerçada em três hábitos: a adoração cristã (com simples práticas que levem as famílias a consagrar sua vida a Deus diariamente); os gestuais familiares (palavras e ações que cultivam atitudes cristãs); e a proximidade, seja entre as pessoas da própria família, seja destas com as de outras famílias. 

“Os ritos familiares ajudam as famílias a viver a missão profética do Batismo. Quando elas criam rituais diários, significativos para trabalhar, brincar, conversar e orar juntos, todos os dias, eles profeticamente se chamam para desenvolver atitudes cristãs em relação ao trabalho, à diversão, aos relacionamentos e à fé. Os rituais familiares são o coração do discipulado”, enfatizaram Gregory e Lisa, comentando, ainda, que as paróquias sempre devem estimular a participação das famílias. 

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OS PRIMEIROS ANOS DE MATRIMÔNIO 

O acompanhamento dos casais nos primeiros anos de Matrimônio foi o tema da segunda conferência, apresentada pelo casal Eduardo de la Paz e Mónica Gonzalez Soriano, que atua na Pastoral Familiar da Diocese de Toledo, na Espanha. 

Casados há sete anos, eles fazem parte do projeto “Family Rock”, um jogo de palavras, cujo significado é “Família construída sobre a rocha”. Os conferencistas enfatizaram que os primeiros anos de Matrimônio são uma constante descoberta. 

“Fizemos os cursos pré-matrimoniais e acreditávamos que já havíamos aprendido tudo. Preparamos com cuidado a cerimônia e tivemos uma fantástica lua de mel. Depois, quando chegamos à nossa casa, deparamo-nos com a realidade. A convivência com o outro, ficar longe da nossa antiga casa, assumir novas tarefas e responsabilidades, chegar a acordos… Pouco a pouco, percebemos que a vida cotidiana exige esforços, sacrifícios”, relatou Eduardo de la Paz. 

Mónica sublinhou que, nos dias atuais, as pessoas se casam em uma sociedade individualista, hedonista e relativista, na qual são transmitidas ideias sobre as relações amorosas, sexualidade, dinheiro e prazer que, em muitos casos, são contrárias à profundidade do Matrimônio e da família. “Queremos viver o Matrimônio que Deus pensou para nós. Precisamos da nossa mãe Igreja, que acolhe, ilumina e acompanha”, disse. 

Para o casal, a acolhida e apoio eclesial se dá por meio de iniciativas como o “Family Rock”, uma nova forma de aproximação aos recém-casados, por meio de um programa baseado no capítulo VI da Amoris laetitia, no qual o Papa Francisco fala sobre a importância desse acompanhamento. Por meio de momentos de oração, formação e encontros de diálogo, os casais tratam dos desafios e questões próprias dos primeiros anos de vida matrimonial, contando sempre com a orientação de um sacerdote e de um casal com mais tempo de Matrimônio. 

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IDENTIDADE E MISSÃO DA FAMÍLIA CRISTà

Sobre essa temática falou o casal francês Bênoit e Véronique Rabourdin, da Arquidiocese de Paris, e responsável pelo movimento apostólico Amor e Verdade. 

Eles recordaram que em todo casamento Deus se reflete no homem e na mulher, e, quando o casal vive a dimensão do mútuo cuidado, fortalece a sua unidade interior e pode testemunhar o amor, um verdadeiro tesouro que Deus dá à família. 

Para esse testemunho, é preciso que os esposos passem da lógica do utilitarismo para a da doação, ou seja, que o marido e a mulher superem a tendência de sempre querer receber em vez de doar. Também é fundamental que o casal planeje um tempo privilegiado para si e para atividades de qualidade com os filhos. De igual modo, é indispensável que Cristo esteja no centro da vida familiar, com os pais demonstrando aos filhos a plena confiança divina e a busca incessante por Ele; e, por fim, que sempre se reacenda entre os esposos a chama do casamento, e, quando estes não conseguem fazê-lo por si, que encontrem na Igreja momentos de formação e espiritualidade para isso. 

Segundo Véronique e Bênoit (foto acima), para que cada casal possa efetivamente partilhar o tesouro recebido de Deus, uma de suas tarefas é a de bem educar os filhos na fé. Além disso, os esposos devem estar sempre abertos para ajudar outros casais, e participar de iniciativas missionárias. “Paróquias, ousem chamar casais, o marido e a esposa, para servirem juntos; casais, não tenham medo, pois o esplendor do amor cultivado se tornará atraente, e isso trará outros casais para servir à Igreja”, conclamaram. 

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CATECUMENATO MATRIMONIAL 

Renovar a preparação para o casamento das próximas gerações, considerando o casamento não um ponto de chegada, mas uma etapa ao longo de um caminho. Estes são os objetivos dos “Roteiros catecumenais para a vida conjugal. Orientações pastorais para as Igrejas particulares”, documento apresentado por Gabriella Gambino, subsecretária do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, com seu esposo, Giovanni Nuzzi, na quarta conferência do congresso teológico pastoral. 

Inicialmente, Gabriella questionou os presentes sobre a preocupação dos pais diante do futuro de seus filhos e os respectivos desejos no encontro de suas vocações. “Todos temos consciência de que os contextos de hoje colocam em xeque a vocação matrimonial. Estamos preocupados com as escolhas de nossos filhos. Será que terão coragem de se casar? Será que querem viver a experiência de um ‘para sempre’? Confiarão em Deus nos processos de suas vidas?”, indagou o casal. 

“É necessário procurar modificar gradualmente a abordagem da Pastoral Vocacional, para que contemple explicitamente também o Matrimônio, ao lado da vida consagrada”, ressaltaram os conferencistas, reforçando a necessidade de “um caminho de acolhimento por uma comunidade que saiba acompanhar, proteger e encorajar”. Nesse sentido, a celebração do rito nupcial não deve ser vista como um “ponto de chegada”, mas o início de uma vida esponsal, “na qual marido e mulher adquirirão uma identidade cristã renovada, como acontece para sacerdotes e religiosos”. 

Gabriella afirmou que é inevitável a superação dos cursos pré-matrimoniais. “Devemos assumir, cada vez mais, um processo de vivência cristã, a fim de que nossos casais tenham um amadurecimento real. Se os noivos não sabem que são de Cristo, e isso sabemos no acompanhamento, como poderão ser, de fato, um casal cristão?”, frisou, acrescentando: “O Matrimônio requer discernimento, dando aos noivos uma identidade cristã mais específica. Celebrar o rito nupcial não é o ponto de chegada, mas o início de toda a unidade e comunhão do casal”. 

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Falas dos participantes mostram que a família é um lugar de acolhida ao próximo e de amor a Deus

FAMÍLIA, CAMINHO DE SANTIDADE 

A última conferência tratou sobre “Família, caminho de santidade”, destacando o testemunho de vida dos beatos italianos Luigi Beltrame Quattrocchi e Maria Corsini, que se casaram em 1905 e tiveram quatro filhos: Filipe, Estefânia, Cesar e Henriqueta (cuja gestação representou risco de vida a Maria, que se recusou a abortar). 

Conforme destacou Francesco Beltrame Quattrocci, filho adotivo de Henriqueta, a santidade dos avós não decorreu de feitos extraordinários: “Dia após dia, com constante coerência da Palavra, do exemplo e da oração, eles ajudaram seus filhos a aprender a viver, a pensar, a agir, tendo a alegria de saber que sempre nos momentos de dificuldades, e tiveram muitos ao longo da vida, eram amadíssimos pelo Pai, e, também, amaram-no livremente, acima de qualquer obstáculo”. 

O exemplo do casal beatificado em 2001 atravessou décadas, especialmente pelo zelo de Henriqueta, que manteve as características da casa onde os pais viveram. Um dia, Patrizia Marchegiani e Andrea Bicchiega, então noivos, foram conhecer o local. “Quando perguntavam a Henriqueta qual era o segredo da santidade dos pais, ela dizia que residia simplesmente em tentar fazer em todas as coisas a vontade de Deus”, recordou Patrizia. 

Tão logo se casaram, Andrea e Patrizia tentaram ter filhos, mas não conseguiram por métodos naturais e se recusaram a recorrer a outras técnicas. Com o tempo, discerniram que o que Deus lhes colocava como missão era a adoção de uma criança: “Há três anos, adotamos o Robert, essa criança maravilhosa que está aqui conosco. Todos os dias, ele faz transbordar o nosso coração de amor, nos faz suspirar de ternura”, disse Andrea. 

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GIRO PELOS PAINÉIS TEMÁTICOS

No painel “Jovens e idosos juntos pela Igreja do futuro”, Vincenzo Bassi, presidente da Federação das Associações de Famílias Católicas na Europa, e sua esposa, Carla Di Lello, refletiram sobre o significado do papel do idoso na família. “Os idosos não podem ser vistos apenas como pessoas frágeis, que devem ser cuidadas e defendidas: são também atores, protagonistas, a partir da transmissão da fé nas famílias, mas também em nossas realidades associativas e eclesial”, destacaram. 

No painel “O amor familiar em prova”, o casal Stephen e Sandra Conway, da África do Sul, falou da iniciativa “Retrouvaille”, um caminho para casais em dificuldade. A proposta consiste em examinar as quatro fases do casamento: romance, desilusão, miséria (onde ocorreu a traição) e a alegria. “Na fase sentimental, o foco está na outra pessoa e quaisquer falhas são ignoradas ou negligenciadas. Essa fase sentimental não dura para sempre, e os casais logo podem se decepcionar com pequenos aborrecimentos que começam a surgir. A decepção pode levar à infelicidade em que todos os problemas enfrentados são atribuídos à outra pessoa e a vida se torna um verdadeiro inferno. Mas então, por meio de um caminho de vários estágios, chegamos à alegria. Nessa fase, não nos concentramos mais em nós mesmos como indivíduos, mas em nós mesmos como um casal unido no verdadeiro significado do amor, e percebemos que o amor não é um sentimento, mas sim uma decisão.” 

No painel sobre “Acompanhar a maternidade e paternidade”, Gigi De Palo, e sua esposa, Anna Chiara Gambini, da Itália, relataram o quanto aprenderam com o nascimento do filho caçula: “Quando ia nascer nosso quinto filho, tínhamos a arrogância de já saber tudo, mas Giorgio Maria nos surpreendeu e mudou nossas vidas um segundo após seu nascimento. Porque não é só um filho com síndrome de Down. Para nós, foi o terremoto das nossas certezas inúteis… Somos simplesmente uma das muitas famílias que disseram sim à vida, não por uma questão ideológica, não porque nos disseram na paróquia, mas porque era maravilhoso, é a beleza que nos leva a fazer as coisas. É por causa da beleza que somos cristãos. É pela beleza que nos casamos. É pela beleza que acolhemos Giorgio Maria. Porque a vida, toda vida, é intrinsecamente digna e objetivamente mais bela que a morte”. 

No painel “Ser cristãos na era digital”, Massimo e Patrizia Paloni, nascidos na Itália e missionários na Holanda há 18 anos, contaram sobre um projeto com recém-crismados, provenientes de famílias desestruturadas. “Os adolescentes são atraídos pela família cristã [de fé comprovada], na qual veem uma fé viva. Nesses grupos, os jovens começam a ler a Palavra de Deus, a refletir sobre os mandamentos como modo de vida, a redescobrir o sacramento da Reconciliação e a entrar em contato com a vida cristã de uma família concreta.” 

“Escolhi perdoar o ofensor em obediência ao meu Pai celestial. Se meus filhos estivessem aqui hoje, eles diriam: ‘Pai, perdoe-lhe’.” O relato foi feito por Daniel Abdallah, da Austrália, no painel “Caminhos de santidade”. Ele e a esposa, Leila, tiveram sete filhos, dos quais três morreram em um acidente de trânsito, cometido por um motorista embriagado. 

Leia outras notícias do evento em: https://www.romefamily2022.com 

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