Convivendo com o desafio de equilibrar as contas

Cartão de crédito é o principal vilão da crescente inadimplência no País. Jovens e mulheres lideram as pendências nos pagamentos de dívidas

Serasa

A inadimplência, termo que conceitua as dívidas em atraso, alcançou, segundo o Mapa da Inadimplência e Renegociação de Dívidas do Serasa, 64,9 milhões de brasileiros. O perfil dos inadimplentes atinge em sua grande maioria os brasileiros de 26 a 40 anos. Na lista de inadimplentes também estão 8,6 milhões de jovens, de 18 a 25 anos. Entre os sexos, a distribuição é composta de 50,85% por mulheres e 49,15% por homens.

Em São Paulo, há 16,1 milhões de inadimplentes, o que corresponde a 45% da população adulta do estado. E cada um deles possui, na média, uma dívida de R$ 5.183,00.

Em todo o País, o cartão de crédito é o principal responsável pelos endividamentos. No estado de São Paulo, os atrasos no pagamento nessa modalidade representam 30,8%, seguido pelas contas básicas, 21,92%; varejo, 7,72%; e contas de internet e telefonia, 3,95%.

A educação financeira é um dos caminhos para minimizar essa realidade e proporcionar às famílias menos preocupação com as finanças.

RAZÕES QUE LEVAM À INADIMPLÊNCIA

Os rescaldos da pandemia de COVID-19 e a guerra na Ucrânia comprometeram a recuperação econômica do País. A alta dos preços, a inflação, o desemprego estão entre os motivos que lideram a crescente inadimplência. 

“A inflação elevada e persistente, com a economia crescendo pouco e a retomada de contratações ainda em baixa, além da renda não acompanhar os preços. Tudo isso afetou significativamente a vida financeira dos brasileiros”, analisa Daniel Bizanha, gerente da Serasa.

“Muitos brasileiros, afetados pela crise econômica, por exemplo, usam o cartão de crédito para garantir a comida na mesa e, isso, aos poucos vira uma bola de neve, se não bem administrado”, prosseguiu.

O parcelamento das contas, o exceder o limite e o pagamento do valor mínimo da fatura são agravantes significativos. “O cartão de crédito é um formato de empréstimo que lhe permite comprar, mas requer o cumprimento do pagamento no prazo estipulado. O não cumprimento gera juros altos”, ressalta Bizanha, reforçando a necessidade de pagar a fatura na íntegra.

“Muitas pessoas estão endividadas porque gastam além do limite do cartão e excedem em gastos superiores às entradas mensais”, indicou, evidenciando a necessidade de conhecer bem a realidade financeira da família e controlar os próprios gastos. 

PLANEJAMENTO FINANCEIRO

Com o orçamento apertado, muitas famílias no País não conseguem pagar todas as contas no fim do mês. Para evitar a inadimplência, é importante ter bons hábitos financeiros, fazer planilhas de gastos e controlar a entrada e saída de todo o dinheiro. 

Bizanha ressalta que basta um pequeno deslize no planejamento para que uma dívida controlada se torne uma escalada de juros. Assim, caso a pessoa não consiga pagar todas as contas em um mês, ele recomenda:

  • Priorize as contas que têm a maior taxa de juros;
  • Evite o aumento de limite no cartão de crédito;
  • Negocie as dívidas;
  • Evite novos empréstimos para quitar as dívidas  atuais.

Bizanha recorda que, de acordo com algumas pesquisas, apenas 29% dos brasileiros poupam dinheiro, enquanto outros 68% não conseguem fazê-lo. 

Segundo o representante da Serasa, “um erro das famílias é não ter o hábito de fazer o orçamento doméstico. Simples gestos como o de anotar o quanto se ganha e com o que se gasta o dinheiro, faz a diferença”, assegura, listando algumas dicas para o equilíbrio financeiro:

  • Não comprometa todo o orçamento familiar com as despesas;
  • Economize, compare e pesquise os preços e promoções;
  • Compre somente o necessário e o essencial;
  • Pague à vista e peça descontos;
  • Reaproveite os itens que se têm em casa;
  • Mantenha uma reserva emergencial.

EVITE O AUMENTO DE LIMITE

O gerente da Serasa reforçou que a oferta do aumento do limite de crédito é no início uma tentação, mas que pode virar pesadelo. “Traz a falsa sensação de poder gastar mais, e quando chega a fatura como pagar se, gastou-se mais do que se tem a receber, aí começa o endividamento”, descreve.

Elane Silva, 29, é chefe de cozinha e mãe de três filhos. Ela mencionou três fatores que a levaram à inadimplência: a solicitação de aumento do limite no cartão de crédito (de R$ 500 para R$ 800), o descontrole nas compras e a perda do emprego. Ela recorda que desde meados de 2022 está devendo no cartão de crédito e, a partir de então, só vem pagando o valor mínimo da fatura. 

“Fiquei empolgada com o aumento do limite. Gastei e na hora que a fatura chegou não tinha o valor integral para pagar. Fiquei seis meses desempregada. Então, a conta que era de R$ 1.000 hoje já está em mais de R$ 1.600. Os juros são abusivos”, comenta. 

Bizanha recomenda: “Se você decide ter um cartão de crédito, é melhor começar com um limite baixo e que caiba no seu orçamento, porque você precisa se manter no valor limitado”.

Iara Zuleica, 45, não conseguiu pagar no dia do vencimento o cartão de crédito e recorreu à obtenção de crédito consignado. “Fiz um empréstimo para quitar uma dívida e gerei outra”, afirmou a professora, que há meses está inadimplente. 

“Fiz a formatura da minha filha, viajamos em família e as festas de fim de ano acabaram ultrapassando o orçamento. E acabei recorrendo a um segundo empréstimo para quitar as contas. Ao quitar tudo, quero criar uma reserva financeira”, assegura.

“Embora o consignado seja uma modalidade com garantia, quem adere pode comprometer ainda mais a renda. O ideal é não recorrer a novas dívidas, mas buscar economizar ou gerar uma renda extra para quitá-las”, pontuou Bizanha.

ONDE SE INFORMAR?

Os consumidores que buscam renegociar suas dívidas encontram na plataforma Limpa Nome do Serasa os seguintes canais digitais: 

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