COVID-19: variante Delta gera incertezas sobre o avanço da pandemia

Governos do estado de São Paulo e da capital anunciaram medidas para intensificar o monitoramento da circulação do coronavírus. Apelo à população é que não abandone medidas protetivas nem deixe de se vacinar

Foto: Governo do Estado de São Paulo

Com o aumento do número de pessoas infectadas com a variante Delta do coronavírus, as autoridades de saúde do governo de São Paulo e da capital paulista anunciaram ações para tentar contê-la.

Essa variante foi identificada na Índia pela primeira vez, em outubro de 2020, e estima-se que seja até 70% mais contagiosa que as demais, razão pela qual governos em diferentes partes do mundo têm revisto protocolos para evitar o aumento do número de pessoas infectadas.

Em julho, por exemplo, países como a Austrália, Japão e Filipinas ampliaram ações restritivas à circulação das pessoas, e mesmo em nações onde há grande parcela de vacinados contra o coronavírus, flexibilizações de protocolos foram reavaliadas. Nos Estados Unidos, por exemplo, desde o dia 27 do mês passado voltou a ser recomendado o uso de máscaras em ambientes fechados em localidades consideradas com nível substancial ou alto para a disseminação da COVID-19.

De acordo com a infectologista Ana Angélica Bulcão Portela, chefe da Vigilância Hospitalar do Instituto de Infectologia Emílio Ribas (IIER), a variante Delta é considerada mais transmissível que outras em razão da capacidade que tem de causar a infecção, “ou seja, de entrar no hospedeiro e infectá-lo. Não necessariamente irá causar uma doença mais grave”, explicou ao O SÃO PAULO, ressaltando que quem já se infectou com outras variantes não está imune à Delta.

Ações do governo paulista

A variante do coronavírus que predomina no Brasil atualmente é a Gama, identificada pela primeira vez em Manaus (AM), e que hoje corresponde a 90% dos registros. No entanto, como a Delta é mais transmissível, há o receio de que sua expansão possa causar um aumento exponencial de casos, o que poderia levar a um novo colapso no sistema de saúde, como visto no primeiro semestre deste ano.

No dia 4, o Instituto Butantan entregou ao governo paulista um contêiner com tecnologia para identificação de variantes do coronavírus. A capacidade é para 300 análises diárias.

“Estamos trabalhando com a genotipagem, ou seja, o teste genético das variantes de, ao menos, 5% de todas as amostras positivas que são identificadas na rede de testes do estado de São Paulo. Nesse momento, a variante Delta é muito pequena, em torno de 0,6% entre todas, mas existe a preocupação, pois ela tem uma velocidade de disseminação maior”, afirmou Dimas Covas, presidente do Instituto Butantan, em coletiva de imprensa, no dia 4.

No estado, há o receio de que a maior permissão para as atividades presenciais a partir de 17 de agosto potencialize a disseminação dessa variante do coronavírus. O governo paulista, porém, afirma que essa mudança está alicerçada nas melhorias significativas nos indicadores de queda de mortes e internações por COVID-19 e no avanço da vacinação no estado, bem como na manutenção da obrigatoriedade do uso de máscaras.

“A conjunção da vacinação e do uso da máscara continuará protegendo a nossa população. Todos os países que tiveram recrudescência do número de casos pela variante Delta tiraram a máscara. Aqui não faremos isso”, ressaltou Jean Gorinchteyn, Secretário de estado da Saúde.

Mais monitoramento na capital paulista

Imagem: Fiocruz

Um mês após a confirmação do primeiro infectado com a variante Delta na capital paulista, o número de casos com essa variante já havia saltado para 50 na quinta-feira, 5, um crescimento que tem colocado as autoridades de saúde em alerta.

“Vínhamos observando uma queda no número dos casos semana a semana, mas nas últimas duas ou três, houve uma desaceleração nessa queda de casos notificados. Para nós isso já é uma sinal de alerta, principalmente frente ao aumento da circulação das pessoas no município e a possibilidade de entrada de uma nova variante. Como vimos em outros locais do mundo, houve aumento de casos com a entrada da variante Delta, mas ainda não há como saber como será o comportamento aqui”, afirmou, em coletiva de imprensa no dia 3, a médica sanitarista Paula Bisordi, coordenadora do Núcleo de Vigilância de Doenças Agudas Transmissíveis da Coordenaria de Vigilância em Saúde.

A Secretaria Municipal da Saúde anunciou que irá distribuir 500 mil máscaras N95 para sintomáticos respiratórios e pessoas com quem tiveram contato, e intensificará o monitoramento dos casos para saber quais as cepas do vírus que circulam pela cidade. Os casos de pessoas infectadas com a variante Delta têm sido investigados nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e o monitoramento de todas as variantes é realizado semanalmente, com cerca de 600 amostras enviadas a laboratórios.

Sintomas diferentes

De acordo com um informe do Instituto Butantan, as variantes Alfa, Beta e Gama desencadeiam como sintomas mais comuns nos infectados dor de garganta, diarreia, dor de cabeça, perda do olfato e paladar. “Já a variante Delta tem demonstrado semelhanças com a gripe, causando febre, tosse, secreções nasais, dor de cabeça e dor de garganta”.

Ana Angélica ressalta que independentemente da variante, sintomas como a perda do olfato ou paladar não devem ser o único balizador para que a pessoa busque o serviço de saúde diante da suspeita de COVID-19.

As atuais vacinas são eficazes contra essa variante?

Em 30 de julho, a Organização Mundial da Saúde (OMS) informou que todas as vacinas já aprovadas contra o coronavírus “oferecem uma proteção significativa contra doenças graves e internações para todas as variantes, incluindo a Delta”; e fez um apelo para a ampla vacinação das populações, pois com essa variante “o vírus ficou mais rápido e mais adaptado para a transmissão entre humanos”.

Ana Angélica recorda que a proteção proporcionada pelas vacinas só é alcançada, em geral, duas semanas após a aplicação da 2a dose dos imunizantes – no caso do Brasil, os disponíveis são a CoronaVac, AstraZeneca/Oxford e Pfizer. Há ainda a vacina da Jassen de dose única.

As medidas protetivas não podem ser abandonadas

Em todo o mundo, autoridades de saúde têm ressaltado que, independentemente da cepa do vírus, usar a máscara corretamente, higienizar as mãos frequentemente e evitar aglomerações são hábitos indispensáveis para reduzir a circulação do coronavírus.

“O ambiente em que o vírus se reproduz é o corpo humano e, quando ele não tem a oportunidade de contaminar novas pessoas, para de se multiplicar e, assim, de sofrer mutações”, consta no informe do Instituto Butantan.

Ana Angélica destaca que especialmente as pessoas que estão com sintomas de alguma síndrome gripal reforcem tais hábitos, que também valem para as demais.

“A quantidade da população vacinada com as duas doses ainda não é suficiente para nos deixar em conforto quanto à redução de transmissão. Com a Delta ou outras variantes, o primordial sempre será usar máscara, higienizar as mãos e evitar aglomerações. As pessoas também precisam entender que ainda há uma população que não se vacinou: as crianças e jovens, que são um percentual grande e não podemos ser irresponsáveis com eles. Ainda precisaremos ter uma visão melhor sobre a transmissão da doença no País antes de poder retirar a máscara definitivamente”, concluiu a infectologista.  

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