Cristãos ortodoxos celebram a Páscoa com rito do fogo sagrado no Santo Sepulcro

Rito do fogo sagrado remonta tradição do século IV (reprodução de Vatican News)

Os cristãos ortodoxos celebraram a Páscoa no domingo, 2, seguindo o calendário juliano, diferentemente dos cristãos latinos, que comemoram a ressurreição do Senhor segundo o calendário gregoriano.

Na Basílica do Santo Sepulcro, em Jerusalém, aconteceu o rito do Fogo Sagrado no sábado, 1º, ápice do Tríduo Pascal para os ortodoxos de todo o mundo. Essa liturgia é celebrada da mesma maneira há pelo menos seis séculos, e remonta à Igreja de Constantino, no século IV. Este ano, a celebração pode acontecer novamente com a participação de fiéis, devido à flexibilização das medidas restritivas para conter a pandemia em Israel.

Antiga tradição

Nas primeiras horas da manhã, os diáconos ortodoxos inspecionam o nicho onde se encontra o túmulo vazio de Cristo e selam sua entrada com uma mistura de mel e cera. Os jovens do bairro cristão entram na Basílica em procissão, enquanto armênios, coptas e siríacos chamam o patriarca ortodoxo grego, sem o qual, de acordo com a tradição, o milagre não pode acontecer. Ao meio-dia, o patriarca entra em procissão solene, acompanhado por cantos tradicionais, e dá três voltas ao redor do Túmulo.

Enquanto isso, o sacristão traz ao Sepulcro a lâmpada contendo o fogo perene, que é apagado apenas uma vez por ano, na manhã deste sábado especial, para permitir que seja aceso pelo Fogo Sagrado. Então o Patriarca ortodoxo grego entra sozinho no nicho, carregando dois feixes de 33 velas, seguido pelo Patriarca armênio que permanecerá na antecâmara (a Capela do Anjo) e será a única testemunha.

Ali, ajoelhado, o clérigo grego recita uma oração especial pela vinda do Fogo. Nesse momento, uma luz desce na Tumba e acende a lâmpada. O patriarca sai para distribuir o Fogo Sagrado, que passa de mão em mão para alcançar os fiéis lotados na basílica e, guardados nas lâmpadas trazidas pelos peregrinos, também os de outros países distantes. O Fogo Sagrado, segundo a tradição, não queima durante os primeiros minutos e, entre lágrimas, canções e alegria, os fiéis passam suas mãos e rostos pelas chamas.

Fiéis acendem velas com a chama do fogo sagrado (reprodução de Vatican News)

Calendários

O Calendário Juliano foi proposto por Sosígenes, astrônomo de Alexandria, e introduzido por Júlio César em 45 AC. Foi usado pelas igrejas e países cristãos até o século XVI, quando começou a ser substituídos  pelo Calendário Gregoriano.

O calendário gregoriano surgiu em virtude de uma modificação no calendário juliano, realizada em 1582, para ajustar o ano civil, o do calendário, ao ano solar, decorrente do movimento de elipse realizado pela Terra em torno do Sol. Antes de Júlio César, o calendário que vigorava em Roma era dividido em 355 dias e 12 meses, o que causava um grande desajustamento ao longo do tempo, pois as estações do ano passavam a ocorrer em datas diferentes.

No entanto, ainda persistiu a defasagem entre o ano do calendário e o ano natural, sendo que durante a Idade Média foram várias as tentativas de resolvê-la. O Concílio de Trento, realizado em 1545, decidiu pelas alterações no calendário da Igreja, cabendo a Gregório XIII instituir o novo calendário, que passaria a se chamar calendário gregoriano em sua homenagem. Para adequar a data da Páscoa com o equinócio de primavera no Hemisfério Norte, o papa Gregório XIII ordenou que o dia seguinte a 4 de outubro de 1582 passasse a ser o dia 15 de outubro.

A diferença de calendários também afeta a data da celebração do Natal, que, embora seja celebrada por católicos e ortodoxos em 25 de dezembro, no calendário juliano, esse dia corresponde a 7 de janeiro no calendário gregoriano, um dia depois de quando os católicos celebram a Epifania do Senhor.

Unificação das datas

A unificação das datas da Páscoa da Ressurreição é uma urgência particularmente sentida no Norte da África e no Oriente Médio, onde convivem no mesmo território Igrejas e comunidades cristãs de tradições diferentes.

Em 2015, o Papa Francisco havia manifestado o desejo de que a Ressurreição de Cristo fosse celebrada no mesmo dia por todos os cristãos. No ano anterior, o Patriarca da Igreja Copta, Tawadros II, também expressou a importância da busca de uma data comum para a solenidade central da liturgia cristã, ressaltando que se trata de “um problema histórico”, que não implica questões de fé e doutrina.

Por essa diferença, em alguns anos a data da Páscoa de católicos e ortodoxos coincidem, como em 2017, quando a solenidade foi celebrada por ambas as tradições em 16 de abril. Essa coincidência ocorrerá novamente em 20 de abril de 2025, ano jubilar, depois de 1700 anos do primeiro Concílio Ecumênico de Niceia.

(Com informações de Vatican News)

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