Disponível há mais de um mês, vacina bivalente tem baixa procura

Dose de reforço garante maior proteção contra a variante ômicron. Imunizante que já era ofertado para idosos, indígenas, gestantes e puérperas, também poderá ser aplicado em pessoas com comorbidades

Julia Prado/MS

Declarada como pandemia há três anos pela Organização Mundial da Saúde, a COVID-19 tem desacelerado no País graças ao maior número de imunizados contra o vírus Sars-CoV-2. Um sinal disso é que demorou um ano e cinco meses para que se saltasse de 600 mil para 700 mil o número de mortos pela doença no Brasil, marca alcançada em 28 de março. 

Apesar dessa desaceleração, algo tem preocupado os médicos e as autoridades sanitárias: a baixa adesão da população à dose reforço com a vacina Pfizer bivalente, que desde 27 de fevereiro está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS). 

Inicialmente, um grupo de 54,2 milhões de pessoas, entre as quais idosos, grávidas, puérperas, indígenas e quilombolas foi considerado como prioritário para a vacinação, mas deste total apenas 7,1 milhões, cerca de 13,1%, já havia recebido a dose de reforço até 2 de abril, conforme dados da plataforma “Vacinômetro COVID-19”, do Ministério da Saúde. Diante dessa “sobra” de doses, o Ministério da Saúde anunciou na sexta-feira, 31 de março, que pessoas com comorbidades também já poderão receber esta dose de reforço (veja a lista completa no box). 

“Está acontecendo com a vacina da COVID-19 aquilo que acontecido com quase todas as outras: sendo alvo de um movimento muito forte de se desvalorizar a vacinação como estratégia de saúde pública”, comentou, ao O SÃO PAULO, o infectologista Jamal Suleiman, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas (IIER), alertando para a disseminação de informações falsas sobre os efeitos colaterais da vacina bivalente, especialmente em idosos. “Se uma pessoa de mais idade que não é preparada para este tipo de assunto recebe uma mensagem com falsas informações via WhatsApp, por exemplo, qual é a compreensão que ela terá? Acaba não indo se vacinar”, lamentou. 

Uma vacina segura

A Pfizer bivalente, em dose única, só pode ser aplicada em quem já completou há pelos menos quatro meses o ciclo de vacinação com os imunizantes monovalentes contra a COVID-19. A bivalente tem este nome justamente por conter a cepa original do Sars-CoV-2, registrada em Wuhan, na China, em dezembro de 2019, e a variante ômicron, que desde 2022 é predominante em todo o mundo. 

Em artigo publicado no site da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), a geriatra Maisa Kairalla, coordenadora da Comissão de Imunizações da instituição, ressaltou que “a dose de reforço bivalente fornece maior proteção a curto prazo contra infecções por COVID-19, reduzindo casos de emergência, urgência ou hospitalização, em comparação com o regime de dois, três ou até quatro doses de vacinas de primeira geração monovalente, sem a bivalente entrar no esquema como um ‘booster’ (reforço)”.

De acordo com o Alerta Monitoramento do Horizonte Tecnológico (MHT), da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec) do SUS, a vacina bivalente apresenta os mesmos efeitos adversos das monovalentes, tais como dor e inchaço no local da aplicação, e, eventualmente, fadiga, febre e dores de cabeça e nas articulações.

“Via de regra, quando há esse efeito adverso, é um mal estar autolimitado – de curta duração – e transitório. Toda a vacina sempre tem um percentual de efeitos adversos, e a ciência sempre faz um balanço entre benefício e malefícios. E, certamente, no caso da COVID-19, o benefício da vacina se sobrepõe disparadamente sobre o malefício”, enfatizou Suleiman. 

Em comunicado em fevereiro, a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) ressaltou que “para indivíduos com risco mais elevado de adoecimento (idosos e imunodeprimidos), a proteção contra a ômicron conferida por vacinas, de modo geral e especificamente para as vacinas COVID-19, costuma ser menor e menos duradoura. Por esse motivo, o Ministério da Saúde priorizou a oferta da vacina bivalente para esses grupos”. 

A preocupação com os idosos

O Boletim InfoGripe da Fiocruz, divulgado em 27 de março, alertou para o crescimento de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) em boa parte do Brasil, sendo que nos estados da Bahia, Ceará, Pará, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo, “os dados laboratoriais sugerem que o aumento [de SRAG] na população adulta ou idosa é decorrente do vírus Sars-CoV-2 (COVID-19)”. 

No mês de janeiro, 85% das pessoas que faleceram em decorrência da COVID-19 no Brasil tinham a partir de 60 anos de idade. 

“Os idosos são uma população mais vulnerável não só para a COVID-19, mas para outras doenças de transmissão respiratória. Isso porque o corpo, ao longo dos anos, naturalmente, tem um processo de perda de suas capacidades, incluindo a capacidade respiratória. O idoso também tem mais cormobidades, ou seja, mais incidência de doenças como o diabetes tipo 2, a obesididade, a hipertensão arterial e a insuficiência cardíaca. Todo esse cenário deixa o idoso mais vulnerável, caso contraia a doença. Por isso, há essa preocupação de que os idosos se vacinem contra a COVID-19 e também contra a influenza”, ressaltou Suleiman.

O infectologista apontou ser fundamental que tanto os idosos quanto os seus cuidadores sejam alertados sobre a importância da imunização com a vacina bivalente e que toda a sociedade se mobilize para manter a vacinação em dia: “Em populações completamente imunizadas, a evolução da COVID-19 costuma a ser menos grave do que em populações que não estão completamente imunizadas. E para idosos, especialmente os com comorbidades, existe, de fato, uma maior gravidade caso se infectem, de modo que  precisamos insistir: a redução de riscos está diretamente ligada à imunização”. 

Quem já pode se vacinar com a Pfizer bivalente

  • Idosos a partir dos 60 anos de idade;
  • Trabalhadores e pessoas que vivem em instituições de longa permanência (a partir de 12 anos);
  • Pessoas imunocomprometidas (a partir de 12 anos);
  • Indígenas, ribeirinhos e quilombolas (a partir de 12 anos);
  • Gestantes e puérperas; 
  • Trabalhadores da saúde;
  • Pessoas com deficiência permanente (a partir de 12 anos);
  • População privada de liberdade e adolescentes em medidas socioeducativas; bem como os funcionários destes locais;

A vacina também já está liberada para quem tenha de 12 a 59 anos e uma destas comorbidades:

  • diabetes mellitus
  • pneumopatias crônicas graves
  • hipertensão arterial 
  • insuficiência cardíaca
  • cor-pulmonal e hipertensão pulmonar
  • doenças cardíacas (cardiopatias, síndromes coronarianas, valvopatias, miocardiopatias , pericardiopatias, doenças da aorta, dos grandes vasos e fístulas arteriovenosas e arritmias)
  • próteses valvares e dispositivos cardíacos implantados
  • doenças neurológicas crônicas
  • distrofias musculares
  • doença renal crônica
  • hemoglobinopatias e disfunções esplênicas graves
  • obesidade mórbida
  • síndrome de Down e outras síndromes genéticas
  • doença hepática crônica

IMPORTANTE: Estados e municípios têm autonomia para estabelecer os calendários de acordo com a disponibilidade de vacinas, a situação epidemiológica local e o andamento da campanha de vacinação. Na capital paulista, outras informações podem ser obtidas na página “Vacina Sampa”, da Secretaria Municipal da Saúde. 

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