Eis que nascem os filhos e a vida muda… para muito melhor

Falta de tempo, necessidade de priorizar a carreira, poucos recursos financeiros e medo de não conseguir educar bem uma criança. Estes são alguns dos argumentos dos casais que pensam em não ter filhos. A retórica não é nova. Já em 1994, na carta Gratissimam sane, São João Paulo II escreveu que “o nascimento de um filho significa para os pais ulteriores canseiras, novos encargos econômicos, outros condicionamentos práticos: motivos estes que podem induzi-los na tentação de não desejarem um outro nascimento. Em alguns ambientes sociais e culturais, então, a tentação faz-se ainda mais forte. Mas, o filho não é um dom? Vem só para consumir, e não para dar?”. 

Na mesma carta, porém, o Pontífice lembra que a criança que nasce “torna-se dom para os próprios doadores da vida, que não poderão deixar de sentir a presença do filho, a sua participação na existência deles, o seu contributo para o bem comum deles e da família”.

Também o Papa Francisco, na audiência geral de 11 de fevereiro de 2015, destacou que  uma sociedade que “não gosta de se circundar de filhos, que os considera sobretudo uma preocupação, um peso, um risco, é uma sociedade deprimida”. Ele se referia especialmente a países da Europa com baixa natalidade, fenômeno que o Pontífice tem mais recentemente chamado de “inverno demográfico”.

Mas, de fato, abrir-se à vida representa um risco? Só há gastos com os bebês? O jornal O SÃO PAULO, a partir do testemunho de dois casais que tiveram filhos em 2022, constata: a alegria com a nova vida é infinitamente maior que as eventuais preocupações.

Vemos como Deus é perfeito nos detalhes’

Foto: Arquivo pessoal

Semanas após se casarem, em novembro de 2021, Felipe Evangelista Cudignoto, 33, e Raissa Menezes Biazi Cudignoto, 30, contraíram COVID-19 e, assim, tiveram que passar o Natal em isolamento. Um mês depois, porém, a tristeza deu lugar à alegria: Raissa estava grávida, uma bênção para o casal que, desde a preparação para o Matrimônio, a partir das catequeses do Caminho Neocatecumenal e das orientações de seu Pároco, sabia que a abertura à vida está na essência do casamento. 

Raissa conta que as incertezas à espera do nascimento de Rebeca, hoje com 3 meses de idade, “nos uniu, nos lapidou e nos ajudou a focar nas necessidades e deixar as vaidades um pouco de lado”.

Ao longo do tempo, Raissa descobriu que conversar com os jovens que têm algum receio sobre a paternidade/maternidade a ajudava a superar os próprios medos e se maravilhar com a gestação. “Eles ficavam me perguntando, admirados, sobre o que eu estava sentindo, como estava sendo. Explicar essas coisas, me fazia ver como era muito mais leve do que o peso que eu tinha na minha cabeça. Pensar outras realidades, como a da minha vó paterna, que teve cinco filhos, também me ajudou. Meu avô sempre contava que, quando eles se casaram, não havia energia elétrica ou água encanada. Então, se Deus ajudou a minha avó e tantas mulheres em situações mais difíceis do que a minha, eu sempre pensava que Ele me ajudaria também e iria dar tudo certo!”

As dificuldades enfrentadas pela Sagrada Família de Nazaré e a maneira como a Virgem Maria e São José as superaram com a graça de Deus sempre estiveram na mente do jovem casal que frequenta a Paróquia Santa Bernadette, na Região Belém.

“No começo da gravidez, ao me deparar com os medos da maternidade, entrei em crise, principalmente em pensar como Maria sofreu, muito mais do que eu, sendo julgada injustamente, perseguida. E também como São José passou por um sofrimento na paternidade, muito diferente do que provavelmente ele imaginava, e assim foi com o Felipe que decidiu doar a vida por nós e faz o possível pra sair de si mesmo.” Raissa recorda, porém, que, com o passar dos meses, “como Maria, fui buscando entender o que aconteceria comigo, procurei informação e apoio. Hoje eu consigo imaginar o alívio que ela teve quando encontrou sua prima Isabel, por ter alguém para se alegrar junto”. 

E o quanto este Natal será diferente dos anteriores após o nascimento da filha? “Não tinha parado para pensar nisso ainda, pois, desde que a Rebeca nasceu, eu brinco que o nosso foco tendo sido o de sobreviver, cuidando de tudo, tentando voltar aos poucos à rotina. Com a nossa filha nos braços, vemos como Deus é perfeito nos detalhes. Ela é meio Felipe, meio Raissa, veio tão frágil e dependente, mas agora já está crescendo e aprendendo tanto. Isso nos faz ver o mistério do nascimento de Cristo, da maternidade de Maria, da paternidade de São José. Hoje é mais fácil imaginar os medos e a alegria deles com tudo que aconteceu!”, concluiu. 

Ver a família crescer é um grande motivo de alegria’

O Natal deste ano será muito mais feliz no lar do casal Paulo Henrique Cavassani, 36, e  Gilmara Jeronimo Cavassani, 40, e de seu primogênito, Lucas, 5. Desde o dia 6 deste mês, eles celebram o nascimento da Sofia, pouco mais de um ano e meio após Gilmara ter perdido um bebê por aborto espontâneo, no terceiro mês de gestação. 

“Não planejávamos ter mais um filho, mas depois daquela gravidez, passamos a pensar nesta possibilidade”, diz Gilmara. 

Ela lembra que muitos casais jovens hoje já se casam decididos a não ter filhos, com argumentos de limitações financeiras. “Muitos falam coisas como ‘um filho gasta demais’ ou ‘eu não vou ter dinheiro para pagar uma boa escola’ e ainda ‘não vou ter como comprar fralda’. A verdade, porém, é que quando decidimos ter um filho e, especialmente depois que a criança chega, percebemos o quanto gastamos com coisas supérfluas. Assim, essa questão financeira não terá o grande ‘peso’ que imaginamos, pois o nosso estilo de vida muda muito, já que a prioridade passa a ser a vida em família”, ressalta.

Para Gilmara, quando o casal vivencia a graça de cuidar de uma nova vida, há o amadurecimento do relacionamento e mais união entre a família. “Antes éramos dois, hoje já somos quatro. E agora eu até brinco: ‘vamos lá, comunidade! Vamos nos ajudar com as coisas de casa’.”

Paroquianos da Paróquia Nossa Senhora das Dores, na Região Brasilândia, Gilmara e o esposo se inspiram na Sagrada Família para lidar com as situações cotidianas. “Vendo as atitudes de Maria e de São José, temos um grande exemplo de simplicidade. Jesus nasceu no meio de uma manjedoura, em um local superabandonado, e nem por isso deixou de ser uma bênção”, comenta a mãe.

Para Gilmara, “ver a família crescer é um grande motivo de alegria”, especialmente após o que foi por eles vivenciado em 2021: “No Natal do ano passado, ficamos com uma tristeza no coração, porque a previsão de parto do outro bebê que morreu na gestação era para o mês de dezembro. O Lucas brincava que o bebê ia chegar junto com o papai noel. Hoje, o Lucas sempre me diz que a Sofia é o seu melhor presente de Natal. Ele fala: ‘ela é mais importante que tudo, que tudo, é a melhor coisa da minha vida’”.

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