Igreja Nossa Senhora da Salette é elevada à dignidade de santuário arquidiocesano

Cardeal Scherer presidiu rito de dedicação do altar e da matriz paroquial, localizada no alto de Santana

Luciney Martins/O SÃO PAULO

Os fiéis da Paróquia Nossa Senhora da Salette, no Alto de Santana, na zona Norte de São Paulo, festejaram a realização de um sonho cultivado há mais de oito décadas: a dedicação do altar de sua igreja matriz, elevada à dignidade de santuário arquidiocesano, no sábado, 10. 

A missa com o rito de dedicação foi presidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, e concelebrada por Dom Jorge Pierozan, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Santana, além de diversos sacerdotes, entre os quais, os Missionários Saletinos, responsáveis pelos cuidados pastoraisda paróquia. 

Na mesma ocasião, o Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Salette, Padre Marcos Almeida, foi nomeado o primeiro Reitor do novo Santuário (leia o decreto mais abaixo). 

SANTUÁRIOS 

O Código de Direito Canônico define como santuário “a igreja ou outro lugar sagrado onde os fiéis, por motivo de piedade, em grande número acorrem em peregrinação” e, por isso, são designados pelo Bispo ou Arcebispo local como tais. Além dos santuários diocesanos, existem os santuários nacionais, como é o caso, no Brasil, do de Nossa Senhora Aparecida. 

No decreto por meio do qual a Igreja Nossa Senhora da Salette foi elevada a santuário (leia mais abaixo), Dom Odilo ressaltou que “os santuários são lugares de especial acolhida da presença e da ação de Deus entre os homens, que se dirigem ao seu encontro para adorar, agradecer, suplicar e fazer a experiência da misericórdia de Deus”. 

No mesmo decreto, o Arcebispo determinou que, no novo Santuário, “sejam oferecidas com largueza aos peregrinos e frequentadores as riquezas da fé e da vida cristã; sejam promovidas de maneira incansável a proclamação da Palavra de Deus, a formação na fé e na vida litúrgica, principalmente pela celebração da Eucaristia e a devoção à Santíssima Virgem Maria”. 

O Cardeal enfatizou, ainda, que, no Santuário, deve ser propiciado aos fiéis o encontro com a misericórdia de Deus mediante o Sacramento da Reconciliação (Confissão), “com ocasiões suficientes e confessores disponíveis”. 

“Seja o Santuário lugar de acolhida e de intensa caridade para com os pobres, os enfermos e todos os que sofrem no corpo e na alma; cultive-se a piedade popular nas formas caras à tradição católica e aprovadas pela Igreja, especialmente a devoção a Nossa Senhora da Salette”, acrescenta o decreto. 

DEDICAÇÃO 

O rito de dedicação do altar e de uma igreja consiste na consagração de um local construído exclusivamente para a celebração dos mistérios sagrados. Antes do Concílio Vaticano II (1962-1965), o rito de dedicação das igrejas e altares era comum nas catedrais e grandes santuários, assim que eram inaugurados ou tinham suas obras concluídas. Após o Concílio, esse rito se estendeu às demais igrejas, inclusive às que já estavam em funcionamento há mais tempo, para ressaltar a dignidade do templo e a sacralidade do lugar de culto. 

Na homilia, Dom Odilo explicou que a dedicação de uma igreja manifesta aquilo que cada cristão é, pela consagração do Batismo: templos vivos de Deus e morada do Espírito Santo. O Arcebispo acrescentou que, embora Deus não precise dos templos para se manifestar, sua família – os cristãos –, necessita de uma casa para encontrar com o Senhor, por meio dos sacramentos, da escuta e anúncio da Palavra e do testemunho da caridade. “Consagramos este templo para ser lugar de especial manifestação da graça e da presença do Senhor. O templo é o sinal de Deus no meio de nós”, completou. 

RITO 

O rito de dedicação do altar da igreja é rico de símbolos e gestos que expressam a sacralidade do lugar de culto e a dignidade do povo que nele se reúne: 

Aspersão – o celebrante asperge água benta sobre o povo, templo espiritual. Depois, aspergem-se as paredes da igreja e o altar. 

Relíquias – Após a liturgia da Palavra, depois da invocação da Ladainha de Todos os Santos, são depositadas no altar as relíquias de santos e mártires, para significar que o sacrifício dos membros do corpo de Cristo teve a sua origem no sacrifício daquele que é a Cabeça. Neste caso, foram depositadas as relíquias em primeiro grau de Santa Dulce dos Pobres (cabelo), de São Sebastião e Santa Luzia (fragmento ósseo) e Beata Albertina Berkenbrock (parte do tendão). 

Prece de Dedicação – O celebrante profere uma oração na qual manifesta a intenção de dedicar o templo a Deus para sempre, pedindo a sua bênção. “Que aqui os pobres encontrem misericórdia, os oprimidos alcancem a verdadeira liberdade e todos sintam a dignidade de ser vossos filhos e filhas, até que, exultantes, cheguem à Jerusalém celeste”, diz um trecho da prece. 

Unção – O altar e as paredes da igreja são ungidos com o óleo do Crisma. Pela unção, o altar se torna o símbolo de Cristo, o “Ungido” por excelência com o Espírito Santo. Já a unção da igreja, feita nas 12 cruzes fixadas nas paredes, em recordação dos apóstolos, sinaliza que o templo é perpetuamente dedicado ao culto cristão.

Incensação – É queimado incenso sobre o altar para significar que o sacrifício de Cristo “sobe para Deus em odor de suavidade”; mas também para exprimir que as orações dos fiéis sobem igualmente até o trono de Deus. Também toda a igreja é incensada, sinalizando que aquela é uma casa de oração, assim como o povo, templo vivo. 

Revestimento e Iluminação – Por fim, o altar é revestido como sinal de que aquele é o lugar do sacrifício eucarístico e a mesa do Senhor, em volta da qual o sacerdote e os fiéis celebram o memorial da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo. Em seguida, o altar é iluminado com velas, para recordar que Cristo é “luz para a revelação aos povos” e com sua claridade resplandece a Igreja. O templo também é iluminado simbolicamente com velas co- locadas junto às cruzes que foram ungidas. 

Eucaristia – Preparado o altar, é celebrada a Eucaristia, parte principal e a mais antiga de todo o rito de dedicação de uma igreja. 

Referência de fé, devoção, ação pastoral e social na zona Norte de SP 

Por Roseane Welter

No ano em que se celebram os 176 anos da aparição da Virgem de La Salette, dos 120 anos da presença dos Missionários de Nossa Senhora da Salette – padres Saletinos no Brasil – e 82 anos da fundação da paróquia, a igreja, agora Santuário Nossa Senhora da Salette, localizada na Rua Doutor Zuquim, 1.746, Região Santana, é considerada um ponto de encontro para a transmissão da fé católica na zona Norte da capital. 

A história deste templo se confunde com a construção do bairro de Santana e a chegada dos primeiros Saletinos ao Brasil. 

Na época, o bairro era composto por fazendas, chácaras e alguns conglomerados de casas e famílias – muito diferente da realidade urbana de hoje, cercada por avenidas e grandes edifícios. 

VOCAÇÃO DE SANTUÁRIO

O marco inicial da missão dos Saletinos no Brasil foi o desembarque do Padre Clemente Henrique Moussier, MS, em 1902, no Porto de Santos (SP). Após chegar à capital paulista e conhecer o bairro de Santana e o seu povo simples e pobre, assumiu em 1904 a Paróquia Sant’Ana. Os Saletinos atuaram ali por 84 anos, entre 1904 e 1986, até a administração do templo voltar à Arquidiocese. 

No final dos anos 1930, o então Arcebispo Metropolitano de São Paulo, Dom José Gaspar d’Afonseca e Silva, manifestou o seu desejo de criar uma paróquia, sob o título de Nossa Senhora da Salette e nela construir um santuário. 

No início de 1940, começaram as missas campais na igreja de madeira construída no local escolhido. Entretanto, somente em 1952 foi lançada a pedra fundamental da nova matriz. 

Padre Marcos Almeida, Pároco e, agora, Reitor do Santuário, ressaltou que a Paróquia Nossa Senhora da Salette já nasceu com a vocação e a missão de abrigar um santuário. “Ao longo destes 82 anos de fundação, atuamos com um misto de atividades que englobam as demandas de uma paróquia e de um santuário”, disse ao O SÃO PAULO

Segundo o Padre, as igrejas paroquiais são lugares que acolhem a comunidade, vivem a expressão da fé aliados à dinâmica de pastorais e movimentos ativos. “É a comunidade de comunidades, lugar de encontro dos irmãos”, explica. 

Já o Santuário, segundo o Religioso, é um lugar de peregrinação. “Costuma-se ter uma rotatividade de fiéis que vêm em romaria para pedir e agradecer. É, também, o local de busca de um sinal da experiência de fé”, ressaltou. 

Padre Marcos explicou que as atividades que são próprias da Paróquia permanecem e se renova o compromisso de, como Santuário, continuar a missão de conduzir os fiéis ao encontro com Deus, proporcionando aos romeiros e paroquianos o atendimento permanente do sacramento da Reconciliação. 

“Diariamente, dois padres estão à disposição para a Confissão. Peregrinos de todos os cantos da Arquidiocese vêm ao Santuário em busca de paz, silêncio e do sacramento da Reconciliação”, frisou. 

Para a dedicação e sua elevação a santuário, o templo passou por reformas: novos vitrais laterais, novo piso, novos altares para as imagens de São José, de Nossa Senhora das Dores com o Senhor Morto, de São Paulo, de Santana, ambas mantidas desde a fundação, em 1947. Além disso, houve a pintura da igreja, e a substituição da guarita do estacionamento, que ficava na entrada, por uma grande imagem da padroeira. 

AÇÃO PASTORAL E SOCIAL 

O Reitor destacou que a Paróquia e o Santuário contam com a participação efetiva dos paroquianos nos vários movimentos e pastorais, como da Comunicação, da Catequese, do Dízimo, da Liturgia, dos Acólitos e Coroinhas; do Grupo de Oração, entre outras. 

Ao lado da igreja fica o Centro de Assistência Social “Nossa Senhora da Salette”, fundado em 1963, com o objetivo de incluir e possibilitar novas oportunidades para as famílias em situação de vulnerabilidade social. 

O Saletino afirmou que as atividades do Centro Social são de caráter sócio-assistencial, promocional, educacional e cultural. “Um dos vieses do atendimento se caracteriza pelo atendimento emergencial: doação de remédios, cestas básicas e roupas. Outra proposta de atendimento é a capacitação profissional com cursos técnicos de encanador, eletricista e administração de empresas”, explicou o Sacerdote. 

O Centro Social oferece à população dois médicos, dois psicólogos, fisioterapeuta, advogados, dentistas, um gabinete odontológico e profissionais de outras áreas da Saúde que atuam no atendimento de forma voluntária. 

Uilma Silva Fernandes, assistente social, ministra extraordinária da Sagrada Comunhão e coordenadora da Pastoral dos Idosos, destacou que, “embora o entorno paroquial aparente ser uma região ‘rica’, é, na verdade, rodeada de cortiços, porões e aglomerações de pessoas em situação de vulnerabilidade social”. 

“Entre todas as atividades oferecidas, contamos com a escola de alfabetização de adultos; atividades direcionadas aos idosos, ações voltadas a 46 famílias migrantes e refugiadas – nosso atendimento tem o olhar voltado à família”, disse Uilma, destacando que mensalmente são atendidas 130 famílias cadastradas nas várias dimensões dos atendimentos disponibilizados pelo Centro Social. 

Para a manutenção do Centro Social, ao longo do ano são promovidos bazares, chás beneficentes, quermesses, festa da padroeira e atividades que visam a angariar fundos para a continuação dos projetos sociais. 

“Por tantos motivos, não me canso de afirmar que somos uma referência de fé e atendimento gratuito e humanizador a milhares de pessoas”, afirmou o Pároco. 

DEVOÇÃO MARIANA 

Tradicionalmente, o mês de setembro é muito festivo no Santuário Nossa Senhora da Salette, com uma vasta programação em andamento. 

Segundo testemunho de alguns fiéis ouvidos pela reportagem, o Santuário acabou se tornando uma referência à devoção mariana na Arquidiocese pelo zelo às celebrações eucarísticas, a ternura da Mãe da Salette, que é sentida neste templo, e a disponibilidade dos missionários que ali atuam diariamente no atendimento das Confissões. Muitos lembraram, com carinho, dos projetos sociais. 

Maria Aparecida mora em Itaquera, na zona Leste. Recentemente, seu filho faleceu após um acidente de trânsito. No Santuário da “Virgem das Lágrimas”, ela foi pedir acalento. “Como dói perder um filho. Vim aqui para, junto a Maria, que entregou seu Filho por nós, pedir forças para prosseguir a jornada com fé”, disse, emocionada. 

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