Igreja pede por justiça após maus-tratos sofridos pelo Povo Yanomami em Roraima

Ricardo Stuckert/PR

O Ministério da Saúde enviou a Boa Vista (RR), na segunda-feira, 23, profissionais da Força Nacional de Sistema Único de Saúde (SUS), após técnicos do Ministério terem encontrado crianças e idosos desnutridos, além de pessoas com infecção respiratória aguda e outras doenças na Terra Indígena Yanomami, em Roraima. Tal situação teria levado à morte de ao menos 570 crianças indígenas naquele território desde 2019. 

Um hospital de campanha foi montado pelo Exército Brasileiro na capital do estado diante dessa situação emergencial. Além disso, cerca de 4 mil toneladas de alimentos foram enviados à terra indígena no último fim de semana.

As imagens de pessoas “a pele e osso” correram o mundo e geraram revolta em entidades e grupos que atuam em atenção aos indígenas, incluindo pastorais e organismos da Igreja Católica. 

No sábado, 21, os bispos do Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) manifestaram indignação perante “as imagens dos corpos esqueléticos de crianças e adultos do Povo Yanomami no Estado de Roraima”. Também recordaram que o Governo Federal anterior “liberou as terras indígenas já homologadas para o garimpo ilegal e a extração de madeira, que destroem a floresta, contaminam as águas e os rios, geram doenças, fome e morte”; e enfatizaram: “Estamos diante de mais uma situação em que se repete o que foi denunciado pelo Papa Francisco na [exortação] Querida Amazonia: ‘os povos nativos viram, muitas vezes, impotentes à destruição do ambiente natural que lhes permita alimentar-se, curar-se, sobreviver e conservar um estilo de vida e uma cultura que lhes dava identidade e sentido” (QA,13).

Também a Comissão de Bioética da CNBB expressou, no domingo, 22, “indignação e um profundo sentimento de tristeza” diante da situação vivenciada pelo Povo Yanomami. “Queremos nos unir a todos aqueles que, impactados com a situação de vulnerabilidade e fome que se faz presente especialmente dos povos originários, se unem, sem medir esforços, para recuperar a dignidade dos nossos irmãos e irmãs indígenas. Jamais podemos aceitar negociar qualquer atentado contra a dignidade da vida, desde o nascer até o morrer, sem nenhum tipo de ideologia, partidarização ou interesses que não sejam o do respeito absoluto ao outro, irmão e irmã.”

Na segunda-feira, 23, foi publicada a manifestação da Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam-Brasil): “A morte de nossos irmãos e nossas irmãs Yanomami deve comprometer toda a sociedade brasileira para promover ações emergenciais, mas também justiça e reparação para que a vida desses povos seja protegida. É dever de todos nós, mas é compromisso maior do Estado brasileiro, a efetivação de políticas públicas eficazes e duradouras. Por isso, ressaltamos a necessidade de que todos os entes federados, em todas as instâncias, sejam incluídos nesta força-tarefa e nas ações posteriores”, consta em um dos trechos. 

A Repam-Brasil também pede que o Governo Federal, os governos estaduais e outras instituições se comprometam com a suspensão imediata do garimpo ilegal nos territórios indígenas, em especial, na Terra Indígena Yanomami; responsabilizem políticos e grandes empresas que promovem o garimpo ilegal; que não haja a aprovação de projetos de lei e outras iniciativas legislativas que preveem a liberação da mineração em terras indígenas; que se fortaleçam as instituições públicas para fiscalização e controle do desmatamento, das queimadas e das invasões de terras indígenas; e que sejam efetivadas políticas públicas de saúde para os povos indígenas. 

Responsabilizações

No sábado, 21, Flávio Dino, Ministro da Justiça e Segurança Pública, anunciou a abertura de inquérito policial para apurar eventuais crimes ambientais e de genocídio cometidos na Terra Indígena Yanomami. As investigações serão conduzidas pela Polícia Federal.

Procuradores do Ministério Público Federal, por meio de nota, na segunda-feira, 23, apontaram que a degradação da saúde dos indígenas Yanomami foi causada pela omissão do Estado brasileiro. “Com efeito, nos últimos anos verificou-se o crescimento alarmante do número de garimpeiros dentro da Terra Indígena Yanomami, estimado em mais de 20 mil pela Hutukara Associação Yanomami”, indicaram em nota. 

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Celimar Teixeira
Celimar Teixeira
1 ano atrás

Prezados
Precisamos mobilizar passeatas nas cidades, pedindo por justiça para os Yanomamis e que os responsáveis sejam julgados no Tribunal de Haia, pois trata-se de um crime contra a humanidade.
Nos EUA passeatas são mobilizadas pela morte de um homem negro e nós aqui no Brasil assistimos a tudo no conforto de nossas casas, sem pedir por justiça. Isso é um erro!