Instituto Acolher se dedica à assistência psicológica e espiritual de religiosos e sacerdotes

O cuidado com a saúde mental é uma preocupação crescente nos vários âmbitos da sociedade, inclusive dentro da Igreja, entre clérigos e religiosos que lidam com pessoas em situação de fragilidade psicológica, mas eles também necessitam de atenção e acompanhamento. 

É por essa razão que, há 22 anos, nasceu, do esforço conjunto de um grupo multiprofissional (psicólogos, psicanalistas e religiosos), o Instituto Acolher (ITA), dedicado à assistência psicológica e à integração espiritual de religiosos, sacerdotes e leigos. 

Além do atendimento psicoterápico e espiritual, o ITA oferece assessorias e formação preventiva para dioceses e institutos de vida consagrada; também organiza e supervisiona atividades destinadas à formação de seus próprios membros e de outros profissionais interessados em aprimoramento profissional e teórico. 

Maria Ondina da Silva Peruzzo, vice-diretora do ITA, explicou que o instituto nasceu a partir da demanda de membros de congregações religiosas que reclamavam da dificuldade para encontrar nos consultórios psicoterápicos convencionais um atendimento que considerasse a especificidade da vida consagrada, como a vida espiritual e a dimensão vocacional, o que dificultava sua acolhida e acompanhamento em uma perspectiva integral. 

SUICÍDIO 

Foi nessa perspectiva psicológica, espiritual e vocacional que o ITA realizou, nos dias 21 e 22 de outubro, um simpósio on-line sobre o tema: “Suicídio: acolher para prevenir”. O evento voltado para profissionais da saúde mental, superiores religiosos, formadores de seminários, sacerdotes, consagrados e coordenadores de comunidades aprofundou a reflexão sobre o suicídio no contexto da vida religiosa e presbiteral, com a ajuda de especialistas nas áreas da psicologia e espiritualidade. 

Embora os casos de suicídios cometidos por clérigos e religiosos sejam isolados (cerca de 0,0007% dos casos no Brasil), esse assunto não deixa de ser motivo de atenção dos superiores e formadores, na busca de meios cada vez mais eficazes de prevenir esse mal e garantir o bem-estar emocional dos consagrados e ministros. 

O evento foi aberto pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo, que enfatizou a importância de se refletir sobre um tema “delicado, atual e necessário”. Ele lamentou que o fenômeno do suicídio também atinja, mesmo que em proporção menor, clérigos e religiosos, como reflexo de uma situação presente em toda a sociedade. 

“Vivemos em um tempo cheio de interrogações”, afirmou Dom Odilo, ressaltando que quando tais situações acometem pessoas que, em geral, possuem uma formação humana, espiritual e moral sólida, muitos questionamentos podem ser feitos a respeito das condições de sua saúde psicológica e dos “mistérios profundos da pessoa humana”, aos quais não cabem juízos, mas, sim, atenção, ajuda e misericórdia. 

O Arcebispo sublinhou a necessidade de se estar atento aos eventuais fatores de risco e intervir enquanto é possível. Ele também falou da importância de se desenvolver, desde o período formativo, os meios necessários para um amadurecimento humano e espiritual. 

A esse respeito, as diretrizes da Santa Sé para a formação sacerdotal, publicadas em 2016, enfatizam que os futuros padres devem cultivar uma vida interior marcada pela oração e a vivência sacramental, que ajude a “crescer na fortaleza de ânimo e aprender as virtudes humanas” essenciais para um desenvolvimento integral. Nesse aspecto, considera-se essencial que, assim como é recomendado a todos os fiéis, os sacerdotes e religiosos tenham um orientador espiritual com o qual possam partilhar as alegrias e tristezas de sua caminhada, e do qual poderão receber conselhos que os ajudem a enfrentar as dificuldades e progredirem na vida interior. As diretrizes não excluem que, em certos casos, também seja necessário um específico acompanhamento psicológico. 

Dom Odilo salientou, ainda, a importância de se fomentar ambientes seguros que ajudem a prevenir eventuais fatores de risco, como o cultivo de relações humanas sadias, que evitem a solidão e o fechamento. “Quando a solidão não é assumida como parte integrante de uma dimensão mística, pode se tornar opressiva”, observou, referindo-se ao fato de que a condição celibatária deve ser compreendida como uma entrega a Deus e um dom colocado a serviço dos irmãos e não um isolamento. 

PREVENIR 

Um dos conferencistas foi o Padre Lício de Araújo Vale, Sacerdote da Diocese de São Miguel Paulista e membro da Associação Brasileira de Estudos e Prevenção ao Suicídio, que ressaltou que o suicídio é um assunto considerado tabu, mas precisa ser abordado nas famílias, escolas e igrejas. O Presbítero enfatizou que é preciso compreender que “a pessoa que fala ou pensa em suicídio não quer, de fato, pôr fim à sua vida, mas acabar com a sua dor”. 

“A pessoa que sofre precisa ser ouvida e se sentir acolhida, por menor que seja a causa daquilo que a faz sofrer”, reforçou Padre Licio, sublinhando que “a dor não expressa perdura até que a pessoa não a suporte mais”. 

É nesse sentido que, também no contexto da vida religiosa e presbiteral, a escuta, acolhida, acompanhamento humano e espiritual são imprescindíveis para prevenir patologias psíquicas que possam levar ao suicídio. 

FORMAR 

Os profissionais do ITA sublinharam que é importante ter claro que o suicídio é uma consequência extrema de situações que podem ser prevenidas quando é dada a devida atenção para sinais de desestabilidade emocional ou patologias psíquicas. Não podem ser desconsideradas situações como estresse, ansiedade, depressão, dependência medicamentosa e outras condições que, se não forem cuidadas, podem levar a problemas mais graves. 

Por isso, o ITA se dedica a estudos sobre os problemas que afetam diretamente a vida dos consagrados e ministros, tendo constante contato com instituições semelhantes em outros países, como os Estados Unidos e Canadá. Nesse sentido, o diretor do instituto, Padre Adalberto Wojciech Mittelstaedt, salientou a necessidade de ampliar esse tipo de serviço no Brasil, somando esforços com organismos como a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e a Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB). 

Para saber mais sobre o Instituto Acolher, acesse: https://institutoacolher.org.br/

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