‘Memória Paulistana’: exposição retrata aspectos históricos e culturais da capital

Artista plástica Cristiane Carbone apresenta suas obras (Foto: Luciney Martins/O SÃO PAULO)

A exposição “Memória Paulistana”, de Cristiane Carbone, 48, artista plástica e professora, pretende preservar a memória de São Paulo, em um trabalho de reconstrução e conservação da história.

Em cada obra – óleo sobre tela –, a artista resgata e devolve à população aspectos históricos que, por vezes, se perderam, proporcionando conhecimento sobre a formação e transformação dos pontos culturais, bem como a valorização do patrimônio cultural da capital.

A exposição permanece até o dia 20 de dezembro, no Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo (IHGSP), e reúne obras com imagens de São Paulo, em diversos períodos, a partir de 1862, percorrendo os períodos colonial, imperial e republicano.

INSPIRAÇÃO E ARTE

Cristiane nasceu em Santo André (SP) e descobriu o talento pelo desenho e pelas artes aos 7 anos. Em 1990, durante o curso de Desenho Artístico, teve contato com as várias técnicas de pintura, mas a tinta a óleo a cativou.

Descobriu em sua arte a importância de resgatar a história por meio da pintura e desenvolveu vários projetos, entre eles: “Pátria Amada Brasil”, “Tributo a São Paulo”, “São Paulo na Linha do Tempo” e “Memória Paulistana”.

Cristiane Carbone assina mais de 300 obras. A primeira foi o Museu do Ipiranga, pintado em 1996.

No Brasil, possui obras no acervo da Associação Paulista de Medicina (APM), Pateo do Collegio, Mosteiro de São Bento, Câmara dos Deputados e Senado Federal (DF), Bovespa, na Prefeitura de Tocantins (TO), na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, na Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, entre outros.            

No mundo, tem obras espalhadas por países como Portugal, Itália, China, México, Paraguai e França.

Em 2007, foi entregue ao Papa Bento XVI, na ocasião de sua visita ao Brasil, este quadro com a pintura do Mosteiro de São Bento, obra da artista.

Crédito: Acervo de Cristiane Carbone

PRESERVAR A MEMÓRIA DA CIDADE

Em entrevista ao O SÃO PAULO, a artista explicou que a exposição “Memória Paulistana” tem por objetivo mostrar as grandes transformações ocorridas ao longo dos anos nos principais monumentos históricos da capital, entre eles as igrejas católicas.

“Sempre fui apaixonada pela arquitetura paulistana e fomentar o resgate histórico e cultural e revelar a História em forma de arte é algo que me enche de alegria”, disse Cristiane.

A artista destacou que fundamenta seu trabalho na pesquisa e no registro documental, preservando a história e a memória dos espaços culturais.

“Sempre gostei de pintar paisagens históricas, e minhas primeiras pinturas/ quadros foram de igrejas – a Igreja Nossa Senhora do Rosário de Paraty (RJ), as igrejas de Ouro Preto (MG) de Mariana (MG) – e, depois, comecei a pintar obras de São Paulo, a estação da Luz, a Catedral da Sé, o Pateo do Collegio, entre outras”, disse.

Em cada quadro da exposição, há uma aula de história. “Para pintar, preciso estudar e buscar a fundo os elementos que antecederam cada momento e, por vezes, construir e reconstruir aspectos que, com o passar do tempo, se perderam”, afirmou, recordando que, no início do projeto, em 2001, se deparou com a falta de registros de pontos como “Museu do Ipiranga e Estação da Luz e precisou resgatar essa memória, para então pintar e apresentar ao público”, destacou.

LEGADO HISTÓRICO

Cristiane ressaltou que as pessoas mais idosas acompanham o crescimento da cidade e suas transformações. E pretende com as pinturas retratar esse itinerário histórico como legado às futuras gerações.

“O projeto surgiu no momento em que percebi as constantes mudanças da cidade e a falta de registro desses acontecimentos. Resgatar e registrar esses fatos são essenciais para manter o legado histórico das novas gerações”, afirmou.

A artista elucidou também as três fases da construção arquitetônica que a capital perpassou.

A cidade de São Paulo tem um aspecto colonial. Depois, passou por uma arquitetura imperial e, em seguida, o período republicano. São fases que elucidam os marcos históricos em seus limites e belezas”, afirmou.

O trabalho iconográfico da artista plástica tem a função de conduzir os espectadores e visitantes a uma viagem ao longo da história, resgatando elementos importantes. Cristiane busca em seus projetos elucidar, também, a educação patrimonial.

Para visitação, é preciso agendar horário na secretaria do IHGSP, localizado na Rua Benjamin Constant, 158, Sé, de terça a sexta-feira, das 10h às 16h. Telefone: (11) 3242-8064.

Catedral da Sé – Óleo sobre tela – 30 x 40 cm

Crédito: Acervo de Cristiane Carbone

Em 1913, iniciou-se a construção da Catedral como é hoje, elaborada pelo alemão Maximilian Emil Hehl. Foi inaugurada em 25 de janeiro de 1954, na comemoração do 4º Centenário da cidade de São Paulo, ainda sem as duas torres principais.

Pateo do Collegio de São Paulo – Óleo sobre tela – 30 x 40 cm

Crédito: Acervo de Cristiane Carbone

Foi o local onde São Paulo nasceu em 25 de janeiro de 1554. Em dezembro de 1556, a casa foi ampliada para abrigar o colégio dos jesuítas. Com a expulsão dos religiosos determinada em 1759 pelo Marquês de Pombal, o Pateo do Collegio se tornou o Palácio dos Governadores entre os anos de 1765 e 1908. Nessa época, grande parte do acervo da igreja se perdeu devido a um desmoronamento. O local só voltou à sua vocação original entre 1932 e 1953, quando foi transformado em Secretaria da Educação. Em 1954, a Companhia de Jesus iniciou o projeto de reconstrução do colégio, que só terminou em 1979, com a fundação do Museu do Padre Anchieta e da Igreja Beato Anchieta.

Mosteiro de São Bento – Óleo sobre tela – 30 x 40 cm

Crédito: Acervo de Cristiane Carbone

O local era a Taba do Cacique Tibiriçá. Foi doado pela Câmara de São Paulo em 1600 aos monges. Com o crescimento da Vila ainda no século XVII, Fernão Dias Paes Leme, o “Governador das Esmeraldas”, ampliou a igreja e melhorou as dependências do mosteiro. A construção atual do mosteiro não é a mesma de séculos anteriores. Trata-se da quarta construção. À demolição do antigo edifício, muito decadente em fins do século XIX, seguiu-se a construção do Ginásio de São Bento – hoje Colégio de São Bento – em 1903. O mosteiro em 1910 deu início à construção da nova igreja e mosteiro. A construção compõe-se do estilo da escola artística de Beuron, projeto de Richard Berndl. A basílica só foi consagrada em 1922. Nesta época, foram instalados os sinos e o relógio, tido como o mais preciso de São Paulo.

Mosteiro da Luz – Óleo sobre tela – 30 x 40 cm

Crédito: Acervo de Cristiane Carbone

O Mosteiro da Luz foi originado a partir de uma capela construída na era quinhentista. O primeiro registro escrito da igreja data de 1579, em uma carta redigida pelo Padre Anchieta. Em 1788, o conjunto adquire sua feição atual. Em 1802, é inaugurada a nova igreja (parcialmente concluída). Considerada a mais importante construção arquitetônica colonial do século XVIII, em São Paulo, o Mosteiro da Luz foi declarado “Patrimônio Nacional Tombado”.

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Marli da Silva
Marli da Silva
2 anos atrás

Sensacional