Música para os ouvidos, o coração e a alma

22 de novembro é o Dia do Músico e de Santa Cecília, Padroeira dos Músicos

Camerata Sé e Coro Luther King, durante apresentação realizada em janeiro deste ano na cidade de São Paulo (foto: Luciney Martins/ O SÃO PAULO)

No dia 22 de novembro comemora-se o Dia do Músico, coincidindo com a celebração da Padroeira da Música, Santa Cecília. No Brasil, a data ganhou ainda mais relevância quando, em 1960, em Tatuí (SP), Yolanda Rigonelli,  professora e diretora do Conservatório Musical da cidade, realizou a Semana da Música. Desde então, a comemoração ocorre em todos os estados, de diferentes formas.

Composta de elementos como melodia, harmonia e ritmo, a música é uma prática humana e varia de acordo com o tempo, o lugar e a cultura. Pode ser erudita, clássica, popular, folclórica, religiosa ou sacra.

Em sua conhecida “Carta aos Artistas”, escrita em 1999, São João Paulo II afirmou que a Igreja valoriza os músicos e conta com eles: “A Igreja tem necessidade dos músicos. Quantas composições sacras foram elaboradas, ao longo dos séculos, por pessoas profundamente imbuídas pelo sentido do mistério! Crentes sem número alimentaram a sua fé com as melodias nascidas do coração de outros crentes, que se tornaram parte da Liturgia ou pelo menos uma ajuda muito válida para a sua decorosa realização. No cântico, a fé é sentida como uma exuberância de alegria, de amor, de segura esperança da intervenção salvífica de Deus”.

História de Santa Cecília

A mártir Santa Cecília era de uma família romana pagã, nobre, rica e influente. Estudiosa, adorava se aprofundar em música, principalmente a sacra, além de filosofia e o Evangelho. Desde criança, sentiu-se chamada a seguir a vocação religiosa consagrada, mesmo estando prometida em casamento por intermédio dos pais, que não acreditavam em sua decisão de se consagrar a Deus.

O casamento aconteceu, mas Cecília contou ao marido a respeito de seu compromisso de castidade. Comovido, o esposo prometeu respeitar sua pureza, mas, para isso, queria ver o anjo a quem Cecília estava sob a guarda. A esposa o aconselhou a visitar o Papa Urbano, que estava refugiado nas catacumbas. O jovem foi ao local acompanhado de seu irmão. Os dois ouviram a pregação e, no final, converteram-se e foram batizados. Quando chegou a sua casa, viu Cecília rezando e, ao seu lado, o anjo da guarda. Ele cumpriu sua promessa.

Os três, porém, foram denunciados e presos. Julgados, recusaram-se a renegar a fé e foram decapitados. Primeiro, Valeriano, o esposo; depois Turíbio, irmão de Valeriano e, por último, Cecília.

O corpo da mártir foi enterrado nas catacumbas romanas. No terreno do seu antigo palácio foi construída a Igreja de Santa Cecília, onde, já no século VI, era celebrada a sua memória, todos os anos, em 22 de novembro. Seu corpo permaneceu intacto por séculos e Santa Cecília tornou-se cada vez mais conhecida e reverenciada em todo o mundo.

Música sacra

Em Roma, aos participantes do Congresso Internacional de Música Sacra, em 4 de março de 2017, o Papa Francisco disse que “a música sacra e o canto litúrgico têm a tarefa de nos conferir o sentido da glória de Deus, da sua beleza e da sua santidade, que nos envolve como uma ‘nuvem luminosa’”.

A constituição conciliar Sacrosanctum concilium, sobre a Sagrada Liturgia, de 4 de dezembro de 1963, foi o primeiro documento do Concílio Vaticano II a ser aprovado. Nele, há disposições sobre a música sacra, os instrumentos musicais sagrados e normas para os compositores.

O artigo 121 do documento orienta que “os compositores possuídos do espírito cristão compreendam que são chamados a cultivar a música sacra e a aumentar-lhe o património”.

O texto afirma, ainda, que as composições devem se apresentar “com as características da verdadeira música sacra, possam ser cantadas não só pelos grandes coros, mas se adaptem também aos pequenos e favoreçam uma ativa participação de toda a assembleia dos fiéis”.

Ainda sobre o tema, o documento recorda que os textos destinados ao canto sacro devem estar de acordo com a doutrina católica e se inspirar sobretudo na Sagrada Escritura e nas fontes litúrgicas.

O músico precisa se reinventar!

“Ser músico representa vida e transformação, conexão com pessoas muitas vezes desconhecidas, levando sentimento e emoções com uma linguagem universal”, disse, em entrevista ao O SÃO PAULO, Vitor Carvalho Cavalhero, que é baixista e backing vocal.

Vitor toca em eventos promovidos pela Igreja Católica e tem como referências músicos como Monsenhor Jonas Abib, Eugênio Jorge, Anjos de Resgate, Valmir Alencar e Celina Borges.

Para ele, Santa Cecília é uma devoção cotidiana: “Santa Cecília sempre é lembrada e reverenciada em nossas orações para intercessão antes, durante e depois de nossas missões”.

E, embora reconheça que a música foi muito importante durante a quarentena, pois com ela muitas pessoas foram alcançadas por meio de lives, publicações em mídias sociais, rádios e tantos outros canais de comunicação, Vitor reconhece que não tem sido fácil viver como profissional da música.

“Os músicos precisaram reinventar-se mais uma vez, pois o consumo ficou mais fácil, se tornando gratuito em diversas plataformas, o que atingiu também as grandes gravadoras. A saída foi criar conteúdo relevante para as redes sociais, YouTube e venda de faixas exclusivas. Além disso, com a pandemia, houve a suspensão de shows, e muitos músicos tiveram que voltar para o mercado de trabalho ou dar aulas”, afirmou.

SOBRE A MÚSICA SACRA

O documento 79 da CNBB – Documentos sobre a música litúrgica – enfatiza que o verdadeiro objetivo da música sacra é “a gloria de Deus e a santificação dos fiéis” e “sendo criada para a celebração do culto divino, é dotada de santidade e beleza das formas”. (CNBB, 2005, p. 158); PIO X, já em 1903, exemplificava que “A música [no templo] deve ser santa, e por isso excluir todo o profano não só em si mesma, mas também no modo como é desempenhada pelos executantes”. (PIO X, 1903, p.3).

Informações complementares do Maestro Delphim Porto, regente do coro da Catedral da Sé
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