O adeus a Dom Celso: fiel testemunha Daquele que ‘Amou até o fim!’

Bispo emérito de Catanduva (SP) foi auxiliar na Arquidiocese de São Paulo entre 1975 e 2000, atuando como Vigário Episcopal na Região Ipiranga

Luciney Martins/Acervo O SÃO PAULO

“Hoje eu me ofereço para que o povo de Deus de Catanduva e região tome posse de mim”. Com este propósito, há 23 anos, no dia 25 de março de 2000, Dom Antonio Celso de Queirós assumia a recém-criada Diocese de Catanduva (SP) como seu primeiro bispo, em solene celebração na Catedral Santuário de Nossa Senhora Aparecida, na mesma cidade, localizada no Noroeste paulista.

Na segunda-feira, 17, os leigos, religiosos e sacerdotes se reuniram na mesma Catedral para se despedir de seu primeiro Bispo, que falecera na noite anterior, na capital paulista, aos 89 anos de idade, um dia antes de completar 63 anos de sacerdócio.

Bispo Auxiliar de São Paulo entre dezembro de 1975 e março de 2000, Dom Antonio Celso de Queirós atuou como Vigário Episcopal na Região Ipiranga, foi ainda Bispo Referencial da Pastoral Vocacional e dos Seminários, e teve permanente atenção aos mais pobres da cidade, zelo pastoral que também levou à Diocese de Catanduva, onde foi Bispo entre 2000 e 2009. “Que nossos passos nos levem aos que são mais pobres”, pediu aos fiéis em sua missa de posse naquela Diocese. Em seus 47 anos de episcopado, Dom Celso testemunhou o Evangelho, em conformidade com o lema que escolheu: “Amou até o fim!” (Jo 13,1).

“Dom Celso foi um grande pastor da Igreja como auxiliar da Arquidiocese de São Paulo e Bispo de Catanduva, e um irmão a serviço dos irmãos na CNBB, no sentido plenamente cristão de quem dá a vida pelas ovelhas. Assim, ele a deu generosamente, quase que sem descanso”, enfatizou Dom Valdir Mamede, Bispo de Catanduva (SP), na homilia da missa exequial realizada na Catedral Santuário de Nossa Senhora Aparecida, na noite da segunda-feira, 17.

“Não deixa riquezas, a não ser o bem que fez a tantas pessoas: as dores que aliviou, as esperanças que criou e a fé que testemunhou com a palavra e com a vida. Assim partiu ao encontro do seu e Nosso Senhor, que um dia o chamou a segui-Lo no serviço do seu povo e que hoje renova o seu chamamento, dizendo: ‘Celso, servo, discípulo fiel, segue-me também na minha morte e na minha Ressurreição’”, prosseguiu Dom Valdir.

Antes dessa celebração na Catedral Santuário, três missas de corpo presente foram realizadas na tarde da segunda-feira na Paróquia de São Domingos de Gusmão, no centro de Catanduva. No início da noite, houve o translado do corpo para a Catedral e ao término da missa presidida por Dom Valdir ocorreu o sepultamento de Dom Celso na cripta.

EVANGELIZAR NA METRÓPOLE

Dom Antonio Celso de Queirós nasceu em Pirassununga (SP), no dia 24 de novembro de 1933. Realizou os estudos de primeiro e segundo graus em Campinas (SP), entre 1946 e 1952, e cursou Filosofia na Faculdade Nossa Senhora da Assunção, em São Paulo, em 1956 e 1957, e na Pontifícia Universidade de Comillas, na Espanha, de 1957 a 1962, país onde foi ordenado presbítero em 17 de abril de 1960.

Ele foi professor do Seminário Diocesano de Campinas, de 1961 a 1962; professor de Iniciação Teológica e de Doutrina Social da Igreja na Universidade Católica de Campinas, de 1961 e 1969; e da PUC-SP, entre 1968 e 1970; além de Vigário Geral da Pastoral e Coordenador da Pastoral da Arquidiocese de Campinas.

Em 15 de outubro de 1975, foi nomeado Bispo Auxiliar de São Paulo por São Paulo VI, tendo recebido a ordenação episcopal em 14 de dezembro daquele ano, na Catedral Metropolitana de Campinas, pela imposição das mãos de Dom Antonio Maria Alves de Siqueira.

Ao lado do Cardeal Paulo Evaristo Arns, Arcebispo de São Paulo entre 1970 e 1998, e dos demais bispos auxiliares da Arquidiocese, vivenciou o desafio pastoral de evangelizar a maior cidade do País em meio às mudanças sociais, culturais e políticas dos anos 1980 e 1990.

“A presença de Dom Celso sempre foi luminosa, esclarecida. Amou pro- fundamente a Jesus e de maneira particularmente especial dedicou a sua vida à evangelização, ao povo”, afirmou Dom Angélico Sândalo Bernardino, Bispo Emérito de Blumenau (SC), em entrevista ao programa ‘Família dos Amigos’, da rádio 9 de Julho, na segunda-feira, 17. “Dom Celso foi meu amigo, meu irmão muito querido. Nós caminhamos unidos desde o tempo de seminário! Dom Celso partiu para o céu depois de uma vida toda entregue à causa do Reino de Deus”, destacou o Prelado, que também foi Bispo Auxiliar de São Paulo.

No mesmo programa, Dom Antônio Gaspar, Bispo Emérito de Barretos (SP) e que também trabalhou com Dom Celso como Bispo Auxiliar em São Paulo, recordou a convivência fraterna entre eles: “É um irmão que hoje está no céu, pois a vida que ele viveu, dentro das nossas limitações humanas, foi de alguém que sempre queria ser bom, fraterno e era preocupado com o bem e a felicidade das pessoas”.

Dom Celso viveu seu ministério episcopal de modo especial na Região Ipiranga, como vigário episcopal. Em sua missa de despedida da Arquidiocese, em 17 de março de 2000, realizada no Santuário São Judas Tadeu, ele expressou seu carinho ao clero, religiosos e fiéis. “Tudo passa, menos o amor… Daqui a algum tempo, a gente vai se encontrar de novo. E se a gente ama, a gente vai se reconhecer, vai sorrir uns para os outros e vai agradecer: ‘Obrigado, Senhor, por ter encontrado aquele irmão, aquela irmã tão querida… Saibamos que o amor e a fé que a gente viveu não foram em vão”.

ATUAÇÃO NA CNBB

Ainda como padre, Dom Antonio Celso de Queirós foi Sub-secretário geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) entre 1972 e 1975, e desempenhou a mesma função no Regional Sul 1 da CNBB, em 1975.

Entre 1987 e 1994, Dom Celso foi, por dois mandatos, Secretario-Geral da CNBB, época em que deu especial impulso à Campanha da Fraternidade. Depois, entre 1995 e 1998, representou o episcopado brasileiro no Conselho Episcopal Latino-Americano e Caribenho (Celam), e foi ainda delegado à Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a América, em 1996. Foi, também, Vice-Presidente da CNBB, de 2003 a 2007.

“Somos imensamente gratos pelo serviço prestado pelo Prelado à nossa conferência episcopal no exercício dos serviços como seu Secretário-Geral e Vice-Presidente e, especialmente, na contribuição à caminhada da Igreja no Brasil por meio da redação e coordenação das DGAE [Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil]. Rogamos a Deus que conforte os corações de amigos e familiares, e dê ao nosso irmão o descanso eterno”, escreveram os bispos da presidência da CNBB, na mensagem de condolências.

A missa de 7º Dia de Dom Antonio Celso de Queirós acontecerá na Catedral Santuário de Nossa Senhora Aparecida, no domingo, 23, às 19h, na Diocese de Catanduva. Na Arquidiocese de São Paulo, será na mesma data, às 18h, na Paróquia Imaculada Conceição (Avenida Nazaré, 993, Ipiranga).

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