On-line, às segundas-feiras, uma conversa sobre relação fé e ciência

Iniciada no dia 17, formação gratuita é uma das iniciativas do projeto Veritatis Mater, voltado à evangelização das realidades seculares

Reprodução da internet

Há séculos, em especial no ambiente acadêmico, há os que insistem em colocar em polos opostos a construção do saber científico e a fé. O Magistério da Igreja, porém, não só descontrói essa polarização, como bem indica que a fé a razão são indissociáveis, conforme aponta São João Paulo II, na encíclica Fides et Ratio, publicada em 1998.

“A fé e a razão (fides et ratio) constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade. Foi Deus quem colocou no coração do homem o desejo de conhecer a verdade e, em última análise, de O conhecer a Ele, para que, conhecendo-O e amando-O, possa chegar também à verdade plena sobre si próprio”, escreve o Pontífice no início da encíclica. “A Igreja continua profundamente convencida de que fé e razão ‘se ajudam mutuamente’, exercendo, uma em prol da outra, a função tanto de discernimento crítico e purificador quanto de estímulo para progredir na investigação e no aprofundamento”, afirma São João Paulo II na conclusão do texto.  

Criado em 2010, o projeto Veritatis Mater é formado por professores e pesquisadores que se dedicam, por meio de diversas formações, à evangelização nas realidades seculares, abordando temas relacionados à fé, razão, ciência, universidade, cultura e sociedade.

SEGUNDAS DE FÉ E CIÊNCIA

Em 2022, a primeira formação gratuita oferecida pelo projeto é o curso on-line “Segundas de Fé e Ciência”, pelo qual se propõe, ao longo de quatro encontros semanais, às segundas-feiras, das 19h30 às 21h, ressaltar que a busca da verdade sempre é o objetivo da verdadeira ciência, e que não se chega à verdade caso se despreze a fé e a reta razão.

“A ideia é a que o participante tenha uma visão panorâmica sobre os assuntos tratados nos encontros – verdade; a fé e a razão; a universidade; e cientistas na história da Igreja – que são abordados de um modo mais geral neste momento. Em cursos futuros, trataremos de assuntos mais específicos dentro destes temas”, detalhou ao O SÃO PAULO o coordenador do Veritatis Mater, Marcos Gregório Borges, 39, filósofo, mestre em Gestão de Políticas Públicas e pós-graduando em Direito Tributário.

Borges lembra que o curso é aberto a todos os interessados, mas se destina de modo especial aos leigos católicos que tenham interesse pelos tópicos tratados, os quais permeiam o relacionamento entre a fé as diversas áreas do conhecimento. Para participar, basta que o interessado acesse a plataforma do curso.

TEMÁTICAS ABORDADAS

Mais de 50 pessoas se inscreveram para o curso e cerca da metade delas acompanhou a aula inaugural na segunda-feira, 17, com o tema “Verdade: eu preciso conhecê-la?”. Borges ressalta que o tema é indispensável, pois o ser humano sempre está à procura da verdade. “O curso já parte do pressuposto de que a verdade existe, e o que se coloca em questão é se eu preciso conhecê-la ou não”.

A resposta será apresentada na aula seguinte, no dia 24, com a temática “Fé e razão: duas faces da mesma moeda”, pela qual se buscará refletir sobre como conhecer a verdade. “Apresentamos para isso dois caminhos que se complementam: a fé e a razão. Para tal, usamos a imagem da moeda. A provocação é: fé e razão são duas faces da mesma moeda? Quem tem uma moeda é para adquirir algo. Essa moeda, nesse caso, é para adquirir a verdade. É possível uma moeda não ter duas faces? É possível separar fé e razão? Talvez não seja possível”, prosseguiu.

Na terceira aula, programada para o dia 31 deste mês, se pretende responder à pergunta “para que a universidade?”, visto que muitos grupos têm relativizado a necessidade e utilidade dessa instituição na sociedade atual.  “Vamos responder o porquê de existir a universidade, e recordaremos o quanto a Igreja é importante para a história da criação da universidade, este lugar onde se deve procurar a verdade a partir da fé e da razão”.

Na aula da encerramento, em 7 de fevereiro, serão apresentados a biografia e o testemunho de diferentes cientistas cristãos ao longo da história “É uma palestra que traz a experiência daqueles que viveram este percurso de forma integral. Serão mostrados autores de diferentes épocas que viveram esse percurso de busca da verdade tendo a fé e a razão como faces da mesma moeda no ambiente universitário”, destacou Borges, recordando como exemplo Roger Bacon (1220-1292), franciscano, que lançou as bases do método científico, em especial do empirismo, teoria que postula que as experiências sensoriais são indispensáveis para a construção do conhecimento de cada indivíduo.

MOSTRAR QUE HÁ PONTES, NÃO BARREIRAS

“Não existe verdadeira ciência sem verdadeira fé, uma coisa supõe a outra. Caso se retire a fé, a ciência, cedo ou mais tarde, se perde”, destaca Borges, ao lembrar que um dos propósitos do curso é abrir o olhar dos participantes de que há uma relação natural entre a fé e ciência, mas que existem aqueles que tentam desfazer essa conexão, difundir uma ideia de cisão entre a fé e a ciência, em especial no ambiente universitário.

“A ideia não é a de que ao final do curso a pessoa seja plenamente convencida de que não há essa cisão, mas que saiba minimamente mais sobre essa relação fé e ciência, e de que vale a pena entender, ler, considerar a existência desse caminho. É como um despertar: ‘nossa, eu não sabia que podia conciliar a minha fé com a ciência’. Se ao término a pessoa enxergar este caminho, o curso já terá cumprido seu papel”, avalia Borges.

Além da atual formação, outras de similar formato devem ser oferecidas pelo projeto Veritatis Mater a cada semestre, coincidindo com o período de férias dos universitários. Outras iniciativas como palestras, lives e debates pontuais poderão ocorrer ao longo do ano, sempre com temas ligados à cultura, ciência e universidade.

“O nome Veritates Mater tem dois significados: um é Mãe da Verdade, referente à Mãe de Jesus, Ele que é a verdade. Outro significado refere-se à própria universidade. Se ela é um lugar onde se pode ensinar a verdade, também é, de certa forma, onde a verdade do conhecimento deve ser gerada e apresentada ao mundo, de modo que também a universidade não deixa de ser ‘a mãe da verdade’”, conclui Borges.  

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Francisco Cardoso Souza Netto
Francisco Cardoso Souza Netto
2 anos atrás

Muito oportuno lidar com este tema, sendo que muitos prelados caminham no relativismo, progressismo e modernismos como se mal nenhum tivessem!